Festivais deveriam olhar com mais carinho para a música preta
Cantoras negras dominaram o Palco Sunset do Rock in Rio nesta sexta-feira (20)
Nesta segunda sexta-feira (20) de Palco Sunset foi dominado por vozes pretas. Com line up totalmente feminino, o chamado Dia Delas foi marcado pela representatividade e não apenas de gênero.
O trio Luedji Luna, Tássia Reis e Xênia França foi o responsável por abrir os trabalhos. Pelo Sunset ainda passaram a sul-africana Tyla, dona do hit “Water”, a diva norte-americana Gloria Gaynor e a popstar brasileira IZA que encerrou com chave de ouro como headliner.
“Acho muito legal a gente estar aqui no Dia Delas celebrando mulheres pretas, celebrando a música brasileira. Nossa cultura, nossa arte ao seu modo, e de forma tão individual”, disse Tássia Reis em entrevista à Billboard Brasil.
Se nesta sexta vozes pretas dominaram um dos palcos principais do maior festival de música e entretenimento do mundo, na noite anterior o cenário foi bem diferente. O Dia Pop foi lotado de artistas brancos –à exceção improvisada de Will Smith– que devem muito a artistas negros.
Foi o caso do headliner, Ed Sheeran, que interpretou “Superstition”, de Stevie Wonder, e “Ain’t no Sunshine” de Bill Withers. Já Charlie Puth fez a cidade do rock cantar a sua “Marvin Gaye”, enquanto Joss Stone homenageou Chic, Patrice Ruschen e Cheryl Linn. Teria sido melhor ver os originais ainda vivos dessa extensa lista.
Mas iniciativas para promover a diversidade ainda são raras. Em 2023, por exemplo, o festival Rock The Mountain montou um line up 100% feminino. Já o Afropunk, fazendo jus ao nome, privilegia artistas negros. No entanto, considerado o mapa de festivais em nosso país e a importância da música preta para a música pop nacional e internacional, essas iniciativas parecem não bastar.
O próprio trio formado Luedji Luna, Tássia Reis e Xênia França, unidas em um show 3×1, poderiam, separadamente, fazer shows belíssimos. Liniker, dona de um dos maiores lançamentos do ano, “Caju”, brilhou em uma pequena participação no show de Ivete Sangalo. Elas podiam, e deveriam, ser mais bem aproveitadas no line up.
Com isso, a sensação que fica é que só se olha para a música preta quando é oportuno, para dar ao festival a marca da diversidade. No entanto, enquanto artistas brancos sem tanto brilho continuarem tirando espaço de artistas pretos prontos para brilhar nos palcos principais, essa iniciativa parece apenas artificial.