Com louvor e covers, Gloria Gaynor faz baile disco bom e ‘cringe’ ao mesmo tempo
Aos 81 anos, Rainha da Disco Music fez show memorável no Rock in Rio
Ela carrega a coroa de eterna Rainha da Disco Music, mas a carreira de uma diva também é sobre saber viver os prazeres deste tempo. E Gloria Gaynor, atração do Palco Sunset nesta segunda sexta-feira (20) de Rock in Rio, soube ser atemporal.
Antes de se jogar no hino da discoteca “Never Can Say Goodbye”, uma reimaginação do hit original dos Jackson 5, Gloria havia soltado “Unstoppable”, hit na voz da cantora e compositora australiana Sia.
E, assim, com muitos “thank you so much” e “you’re wonderful” para a plateia, a cantora de 81 anos ia distribuindo aula de show para aqueles alunos aprovados na classe anterior no palco ao lado, o Mundo, ministrada por Cyndi Lauper.
O calor escaldante, incomum na história desta edição do festival, parecia ter sido encomendado para shows como esses —antes, ainda, houve Ivete Sangalo escancarando folia impressionante.
Por isso, talvez, o calor também tenha brotado no coração gospel da cantora. “Sou 100% cristã e sei que ele ama todos vocês e também a mim”, disse antes de cantar o louvor “Who Am I”, do Casting Crowns e, ainda, uma da lavra de Christina Aguilera, “Beautiful”, em tom totalmente disco —reinstaurando o clima de baile.
Daí para frente, foi só festa. Por vezes, festa boa. Em outros momentos, festa um tanto cringe. Quando um backing vocal cantou a batida “Happy”, de Pharrell Williams, por exemplo, a tentativa soou tristíssima. O mundo, em 2024, está se desfazendo e, infelizmente, não faz sentido um norte-americano nos pedir para sermos mais felizes —ainda que isso faça sentido para muita gente.
Mas como isso, por sorte, foi só uma ideia de jerico de alguém da produção do show, o que muitos na Cidade do Rock fizeram foi relevar e meter dança.
O baile de dona Gloria ainda traria “Killing Me Soflty” (famosa na interpretação de Lori Lieberman e na reinterpretação dos Fugees) e “Every Breath You Take”, do The Police. De quebra, corações voadores no telão que, se cringe eram, e eram, também emprestavam certa ternura ao plano de fundo.
Foi desse modo que ela fez surgir um medley em homenagem a Dona Summer (1948-2012) com “Last Dance”, “MacArthur Park” e “Heaven Knows”, abrindo caminho para uma saideira que poderia concretizar tudo em um sentimento mais genuíno.
Era também a deixa para, mais uma vez no mesmo dia, uma norte-americana criar uma catarse no festival. Uma hora antes havia sido Cyndi Lauper com “Girls Just Wanna Have Fun”, dedicada aos direitos das mulheres e em desfavor de Donald Trump.
Com Gloria, o hit maioral “I Will Survive” protagonizou felicidade muito diferente da chatíssima música de Pharrell Williams: sim, “eu vou sobreviver” gritavam os presentes, todos em um uníssono mais condizente com as necessidades humanas contemporâneas.