No dia do nordestino, oito artistas que apontam tendências no pop brasileiro
Da tropa do Matuê à Mari Fernandez, o Nordeste aponta novos caminhos
Dentre os 100 artistas mais ouvidos do Brasil, são poucos os nordestinos que conseguem furar a bolha do sertanejo vindo de São Paulo, Goiás e Minas Gerais. O Billboard Brasil Hot 100 tem, no entanto, registrado nomes que, se poucos, apontam outras direções da música pop brasileira. De Matuê a Gilberto Gil, de Wesley Safadão a Mari Fernandez, os oito artistas mais ouvidos do Nordeste são também os que estão discutindo horizontes diferentes na canção pop —o que vale ser ressaltado neste também 8 de outubro, dia do nordestino.
Até a semana passada, o artista mais ouvido do país era o rapper Matuê. Dono de “333”, seu segundo álbum e que abre os trabalhos com a também outrora música mais ouvida do Brasil, “Crack com Mussilon”. Mais do que ser um dos hitmakers de 2024, Tuê consolidou-se como um (ainda mais) diferente não só do trap, gênero que habita, mas do pop brasileiro.
De quebra, ele iça Teto, baiano de Jacobina — “cidade do ouro”, graças a sua fonte de minas do metal e Brandão85 —conterrâneo do líder da tropa e co-produtor de “333”, dois rappers também fundamentais na construção que o rapper fortalezense faz desde antes seu primeiro álbum “Máquina do Tempo”, de 2020. Ele está na lista nove vezes (com nove fonogramas do novo álbum).
A parada segue com Wesley Safadão, Natanzinho Lima e Felipe Amorim. Safadão, também cearense de Fortaleza, abre as portas para a revelação sergipana Natanzinho Lima, natural de Itabaiana, no hit “Mentira Estampada” —anteriormente gravada também por Simone e Simaria, em 2025, mas em sotaque sertanejo. Aqui, a dupla faz um saxofone chorar em arrocha lento altamente dançante. Felipe Amorim, com inserções da voz da carioca MC Bruna Alves, no piseiro ainda mais lento de “Novinha do TKT”, canta uma cenário que só pode ser enquadrado dentro dos anos 2023 e 2024: uma discussão sobre amor em tempos de feed e putaria. E você achando que era só uma música sobre rebolar.
Fecham a lista Gilberto Gil (que, tal como um mestre, abençoa Hariel em “A Dança” que o MC descobriu em um disco escanteado do professor baiano) e a cearense de Alto Santo Mari Fernandez (que, em um piseiro-brega funk chamado “Página do Ex”, também faz rede social e relacionamento se confundirem em uma crônica de amor e sexo em versão ao vivo gravada no… Rio de Janeiro).
Se são apenas oito em um montante de 100, mas que quando analisados um a um, parecem capazes de mostrar a música pop brasileira de uma forma mais alargada da forma mais dominante que vem do pagode-versão #1 da lista, “Coração Partido”, vindo de Brasília do Menos É Mais (e embebido nas experiências do “pagode de gin tônica na mão” de Thiaguinho e Ludmilla); do sertanejo-agropop de Henrique e Juliano, Jorge e Mateus, Ana Castela, Kaique e Felipe e Luan Pereira; do funk “A Danada Me Ligando” de DJ Oreia. Destes concorrentes vindos de outras regiões, o grande destaque é o goiano Grelo, cuja “Só Fé” tornou-se mantra após o compositor vestir-se de seresteiro digital em uma das músicas mais significativas do país no ano.
Por que o dia 08 de outubro é dia do nordestino
Criado por uma lei municipal em São Paulo, a data é uma homenagem ao poeta popular, compositor e cantor cearense Patativa do Assaré. Nascido Antônio Gonçalves da Silva, em 1909, adotou o nome Patativa, que compara a beleza de sua poesia ao canto da ave nordestina. Há também um pum Projeto de Lei n° 2755, de 2022, que prevê a criação da data, por lei federal, em homenagem ao povo, à cultura nordestina e à diversidade folclórica típica da região. O projeto está na pauta da reunião da Comissão de Educação.