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Fenômeno do piseiro, Mari Fernandez conta como encarou superexposição da fama

Fenômeno do piseiro, Mari Fernandez conta como encarou superexposição da fama

Cantora de 22 anos precisou amadurecer para lidar com o sucesso repentino

Avatar de Débora Miranda
mari fernandez

Quem escuta a voz potente de Mari Fernandez não imagina que se trate de uma jovem de apenas 22 anos. Quem escuta as sofrências que ela canta em suas letras tampouco. A seriedade com que ela conduz a carreira também parece incompatível
com pouca a idade –embora revele, animada, no auge da juventude: “Amo um after depois dos meus shows”. A cantora, nascida no interior do Ceará e que acumula bilhões de visualizações no YouTube e nas plataformas digitais, falou com exclusividade à Billboard Brasil sobre carreira, sofrência e saúde mental. Mari contou que faz terapia desde que sua música explodiu e que se assustou com o sucesso. “Perdi minha privacidade.”

Billboard Brasil: Como foi quando você estourou?
Mari Fernandez: Foi na época da pandemia, muito rápido e um pouquinho conturbado. Não tinha show, estava todo mundo trancado em casa. Quando lancei meu primeiro CD, pensei: “Vamos ver no que dá. Quem sabe, quando a pandemia passar, eu começo a fazer alguns shows e vou, aos poucos, ficando conhecida”. Era para ser realmente um processo degrau por degrau. Só que, com um mês e pouco, minha música começou a viralizar. Eu vivia nesse mundo há dois ou três anos como compositora, sem exposição. E tive que me adaptar a tudo aquilo. Tentei ser o mais madura possível, mas, às vezes, ainda tomo decisões no impulso, tenho atitudes que qualquer jovem teria. Precisei ter responsabilidade muito cedo e muito rápido. Me adaptar sem tempo para aprender.

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Como foi psicologicamente para você?
Foi mais difícil do que eu pensava, porque eu tinha uma concepção totalmente diferente da fama. Eu imaginava que, se um dia eu fizesse sucesso, ia sair toda noite, ia curtir com a galera. E não é assim. A gente tem que descansar, porque precisa estar bem para fazer um trabalho, um show massa, para conseguir dar uma boa entrevista. Antes, eu pensava que tudo ia ser levado na brincadeira, que seria como quando cantava em barzinhos. Ser profissional é diferente.

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Mari Fernandez (Divulgação)

Teve algum momento em que você sentiu que precisava de ajuda?
Sim, eu faço terapia. É bom ter alguém para conversar, cuidar de mim antes de deixar a ansiedade vir, ou a depressão aparecer. Comecei porque eu precisava falar sobre o que estava acontecendo na minha vida. No início, depois de a minha música viralizar, eu quase endoidei. Percebi que a minha privacidade diminuía. Onde eu ia, as pessoas tiravam fotos, espalhavam. Então, tive que trabalhar muito a minha cabeça. Além disso, tem a questão de que, quando você é uma pessoa pública, a galera vai na internet e fala o que quer. Isso machuca. É preciso estar preparada, senão você começa a achar que aquilo que as pessoas falam de você é o que você é. E, às vezes, a pessoa que está ali, falando da sua vida, não conhece 1% da sua história, não conhece a sua luta, só está distribuindo ódio.

Nas suas redes, você faz muitas postagens profissionais. Vem dessa escolha de se preservar?
Sim, porque eu acho que, quanto mais você expõe, mais dá abertura para as pessoas opinarem. Então, eu controlo. Não deixo de mostrar, também não deixo a situação fugir de mim. Ao mesmo tempo, as redes sociais hoje são 90% da carreira de qualquer pessoa que trabalhe com imagem. Hoje, com a internet e as plataformas digitais, a gente lança uma música e, rapidamente, está ali no top global, ou tocando em Portugal. Isso é muito massa. Queria trazer uma outra questão sobre saúde mental.

Há muitos artistas sofrendo com isso. É algo com que você se preocupa?
Eu me cobro muito. E penso, sim: “Este é meu momento, tenho que aproveitar. Não sei como vai ser o dia de amanhã”. Mas também tem horas em que eu fico cansada e preciso parar. O ano passado, por exemplo, foi muito puxado para mim. Já 2023 tem sido mais organizado. Eu costumava fazer 26, 27 shows por mês. Agora estou fazendo 15, 16. Eu tinha essa demanda de
tocar quase todo dia. Durante um mês, não é cansativo, mas quando passa a ser por dois, três meses seguidos, começa a esgotar. Sentia que a minha voz já não estava aguentando, percebi que o meu corpo doía. É muito importante saber o nosso limite. Tirar férias é essencial. Preciso também ter tempo para minha família, para curtir minha casa, minhas coisas. Se não puder aproveitar, não faz sentido trabalhar tanto.

Ao mesmo tempo, você lançou o projeto “Mari Sem Fim”…
[Risos] Todo mundo acha esse projeto loucura. A intenção sempre foi fazer um show em que eu me sentisse confortável para cantar o que eu quisesse, sem hora para acabar. Mas eu pensava que o povo ia aguentar três horas, no máximo. E foi aí
que descobri que existe muita gente apocalíptica no mundo [risos]. Meu tempo recorde foi em Aracaju, de 2h até as 9h. Terminei porque não conseguia mais. Acho que a galera deve dormir três dias seguidos antes de ir para o show [risos]. Mas, ao mesmo tempo, eu tenho muito cuidado, afinal de contas, é um evento open bar. Não quero que saia do controle, que a galera beba demais, ou faça muita estripulia. É Mari Sem Fim, mas não é Mari sem limite.

Como a música entrou na sua vida?
Eu comecei na igreja. Tinha uma tia que era evangélica, e ela me levava. Eu tinha uns 8 anos e me encantei pelo coral. Quando cheguei em casa, disse: “Mãe, quero ser evangélica”. Ela me disse que eu não tinha idade para tomar uma decisão tão séria relacionada à religião, e eu bati o pé. Mas hoje compreendo que era o lugar onde eu tinha oportunidade de cantar e, por
isso, gostava tanto de estar ali. Quando fui chegando aos 14, 15 anos, começaram as perguntas do que eu queria ser quando crescesse. Minha família queria que eu fosse advogada e achava que a música seria apenas um hobby. Mas eu passei a dizer que
seria cantora ou compositora. Fui me descobrindo, foi a fase em que escrevi minha primeira música. Sentia que era com aquilo que eu queria trabalhar. Independentemente do quanto fosse me render de dinheiro, essa seria a minha profissão.

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Mari Fernandez (Divulgação)

O universo da composição foi, durante muito tempo, essencialmente masculino, e foi onde você começou sua carreira. Como conseguiu se colocar nesse meio?
Quando eu comecei, era um meio mais dominado pelos homens, sim. Hoje já tem uma mulherada muito forte, mas não era
assim. E existiam as panelinhas, formadas por compositores que já estavam há muitos anos no mercado e já haviam conquistado uma certa confiança. Hoje, sendo artista, eu entendo que, às vezes, você só pode dar um tiro, então, vai procurar quem tem mais experiência, quem tem mais nome. Eu mesma fiz isso, por conta do meu novo álbum, que quero lançar no
ano que vem. Quero que seja diferente de tudo o que já fiz, é um trabalho muito difícil, complicado. Então, recentemente fiz um song camp com alguns compositores. Escolhi aqueles que mais acertaram comigo nos últimos anos, autores das músicas que fizeram sucesso na minha carreira e fui compor com eles. Então, assim, no começo, eu tentava oportunidades, mas sempre tinha uma galera mais à frente, que acabava privilegiada. No entanto, sempre trabalhei muito com homens, e sempre fui respeitada. Recebi apoio e nunca passei por nenhuma situação desconfortável. Eu sei que existe, não podemos fechar os olhos para isso, mas nunca aconteceu comigo.

Você é tão nova. Queria entender de onde você tira inspiração para as coisas que você escreve. De onde vem tanta sofrência?
A composição é um dom muito lindo. Costumo dizer que compor é uma coisa, assim, para poucos. Posso escrever uma música em cima da minha história, mas também sobre a história de alguém. Lógico que tem letras que eu escrevi sobre sofrências que eu passei, mas eu já fiz letra de música dizendo: “Larga esse cara, ele não te merece. Esse cara tem um relacionamento abusivo com você”. Não passei por isso, mas tenho amigas que passaram.

Você já foi chamada de Marília Mendonça do piseiro e, de fato, a trajetória de vocês tem semelhanças. O que a Marília significa na sua carreira?
Eu me identifico bastante com as músicas da Marília. Acho que como todas as mulheres. São músicas lindas, em letra e melodia. Como ser humano, a Marília também sempre me agradou. Ela veio totalmente fora da curva, numa época em que existia um padrão de cantoras, e ela quebrou isso. Mostrou que existem cantoras baixas, representou a gente que é gordinha. Ela quebrou vários tabus, mostrou que artista também é ser humano. E eu sempre admirei tudo isso nela. Mas essas comparações às vezes me incomodam um pouco, porque parece que eu estou querendo entrar na história de alguém. Como ela escreveu a história dela, eu vou escrever a minha. É preciso saber separar. Ambas começamos como compositoras, depois viramos cantoras, mas não somos a mesma pessoa e talvez não tenhamos as mesmas conquistas.

Que sonho falta realizar?
Quero ser a número 1 do Brasil. Mas, na minha cabeça, isso não significa estar apenas no primeiro lugar entre as mais tocadas, e, sim, ser respeitada. Ser alguém de quem as pessoas gostam, por quem sentem carinho. Acho que preciso amadurecer um pouco mais para isso, mas, quando eu parar de cantar, quero que as pessoas se lembrem de como eu fui um exemplo como cantora, mas também que eu tratava bem os outros, que construí tudo com respeito e que fui amada do jeito que eu
sou. Não quero viver uma mentira nem me tornar uma personagem. Às vezes, a gente bota na cabeça que o lado profissional é tudo na vida, mas o principal é a saúde, e também o respeito que as pessoas têm pela gente. A nossa verdade. Isso tudo, para mim, já significa ser a cantora número 1 do Brasil.

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