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O que é pop sáfico, feito por mulheres da comunidade LGBTQIA+

O que é pop sáfico, feito por mulheres da comunidade LGBTQIA+

Após hits de Billie Eilish e Chappell Roan, pop sáfico conquista lugar no Brasil

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Representantes do pop sáfico no Brasil e no exterior

O mundo da música, como todos sabemos, passa por mudanças o tempo inteiro. Temas vêm e vão, sejam eles superficiais ou até mais sérios.

Em 2024, um deles chamou a atenção: como as cantoras sáficas tomaram seus microfones para entoar, a plenos pulmões, canções sobre o amor entre mulheres. A palavra “sáfica” tem sido usada nas redes sociais em discussões sobre a comunidade LGBTQIA+. Ela engloba mulheres que se relacionam com outras, sejam elas lésbicas, bissexuais ou pansexuais.

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O ano começou com Billie Eilish, nome já conhecido e respeitado na indústria, revelando que gostava de mulheres em entrevista à revista “Variety”. Depois disso, incluiu suas experiências sáficas em seu terceiro álbum de estúdio, “Hit me Hard and Soft”.

“Eu poderia comer aquela mulher no almoço”, ela canta no refrão do sucesso “Lunch”, que ficou em 5º lugar no Hot 100 nos Estados Unidos. Do outro lado, Chappell Roan conquistou o universo pop cantando sobre suas paixões e términos sofridos em suas relações com outras mulheres em faixas como “Good Luck, Babe!” –4º lugar no Hot 100, chart no qual está há mais de 30 semanas.

No Brasil, o cenário internacional serviu como um espelho, mas com um jeitinho próprio. Mesclando pagode, pop e funk, Ludmilla tornou-se referência nas canções sáficas. “Maldivas”, single lançado em 2022 como uma declaração de amor para a mulher, a bailarina Brunna Gonçalves, segue entre seus sucessos mais populares.

Em novembro passado, o casal anunciou a espera da primeira filha, enquanto Lud posicionou-se contra qualquer discurso homofóbico. “Acreditem no amor, ele tem poder de vencer tudo, inclusive o preconceito”, escreveu ela no X, antigo Twitter.

Carol Biazin, paranaense de 27 anos, ficou conhecida após participar do “The Voice Brasil”, na Globo. Lançou seu primeiro trabalho em 2021 e, desde então, fala abertamente sobre sua sexualidade. “Eu acho que vários movimentos estão rolando, e fico feliz de ver isso acontecer. Sinto que barreiras estão sendo quebradas”, conta em entrevista à Billboard Brasil.

Seu último disco, “No Escuro”, segue a mesma temática. “Mexeu comigo mesmo sem querer/ Tenta ser discreta, mas eu vi você”, ela canta em “Low Profile”. Em 2025, Carol quer continuar trazendo a normalidade das vivências sáficas em seus trabalhos, sabendo que conquistou uma comunidade de fãs que se sentem representados por ela. “Sempre fui muito protegida dentro da minha bolha, pelos meus fãs, sempre tive muito acolhimento. Agora, quero alcançar novos públicos, mas não estou nem aí por não chegar em quem tem preconceito.”

Na contramão da tendência do meio musical baiano, Ella Medrá dispensou os ritmos do axé para se jogar totalmente no pop. Das boates LGBTQIA+ em Salvador, como DJ, até as batalhas de rimas no centro do Rio de Janeiro, a cantora de 28 anos é uma das apostas do gênero para ficar de olho em 2025.

“Noto que ainda há resistência [do mercado] em alguns momentos. Parece que não querem falar sobre o nosso enredo. Acho que as gerações Z e Alfa estão quebrando [preconceitos] de forma muito natural. Estão lidando com isso como uma forma de contracultura e obrigando toda uma indústria a aceitar”, avalia.

Ludmilla e Brunna Gonçalves são a maior representatividade sáfica no pop hoje. Lá fora os movimentos costumam ser mais rápidos. Mas tem muitos artistas incríveis surgindo aqui no Brasil.”

Quem concorda é King Saints, cantora e compositora de grandes nomes da música brasileira como IZA. Nascida em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, ela diz que o debate sobre sexualidade está mais amplo.

“Hoje temos mais espaço para dialogar, falar sobre nossas orientações sexuais e que não precisamos nos colocar em caixas. Isso também vale para o socioeconômico e racial. Pode parecer o fim do mundo, mas talvez seja o melhor momento para se viver”, diz a artista de 31 anos.

“É bom quando a gente olha para o lado e vê outras mulheres no mesmo movimento. É a sensação de que estou andando com as pessoas certas no recreio da escola [risos]. Se eu estou fazendo isso agora foi porque antes outras artistas plantaram essa semente e lutaram muito. Eu espero estar plantando a minha sementinha também.”

Nascida em uma família musical, Kynnie é mais um expoente da música sáfica brasileira. A carioca bebe da fonte de grandes nomes da música nacional e internacional, como Tim Maia, Beyoncé e Janelle Monáe. No entanto, ao dar o pontapé inicial em sua própria identidade musical, apoiou-se em características importantes de sua vida.

“Minha beleza é vista de forma diferente. Sou uma mulher preta, lésbica, gorda. É complicado. Quem vive com isso todos os dias sabe. E acho que eu consigo relatar todos esses assuntos dentro do meu álbum”, conta ela, referindo-se a “93”, lançado em agosto de 2023. Apesar dessa resistência, ela sente que mostrar a normalidade de vivências de mulheres que amam outras mulheres através da música é algo que devemos celebrar, e serve como forma de empoderar outras vidas.

“Eu sempre falei de mulher para mulher, e falar sobre o que a gente vive é normal, sabe? Acho que é uma conquista muito grande para todas nós quando temos uma artista brasileira formando uma família. É uma conquista para geral. Só posso colher da arte delas e trazer para a minha.”

[Esta entrevista foi publicada na 13ª edição da Billboard Brasil. Adquira sua revista aqui.]

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