O Rock in Rio 2024 teve um dia dedicado inteiramente ao trap e, ao longo dos outros seis dias, vários artistas do gênero se espalharam pelos muitos palcos do festival. E, olhando em retrospectiva, podemos dizer que foi uma escolha acertada, tanto comercialmente, quanto musicalmente.
Pensando no negócio Rock in Rio, ter um dia dedicado ao gênero que melhor dialoga com a juventude atualmente fez com que os ingressos se esgotassem rapidamente. Os fãs interessados em curtir um grande festival, que receberia nomes como Travis Scott e 21 Savage puderam se deslocar para a Cidade do Rock e curtir funk, rap e trap da melhor qualidade.
E quem foi até lá notou que havia muitas crianças e adolescentes acompanhados dos pais. É um público sedento por grandes eventos do gênero, e ter a chance de acompanhar shows não só de estrelas internacionais, mas também de nomes nacionais num ambiente tão imponente é um bom chamariz.
Mesmo sendo um evento que visa uma “experiência 360°”, a música não pode ser apenas detalhe. Daqui a 40 anos, o público não vai se recordar do brinde que pegou em um espaço publicitário, mas do show daquele artista tão esperado.
No mundo do showbiz, há quem diga que o rap e o funk ainda têm um ticket baixo e, para quem organiza festival, não é muito atrativo dar destaque para essa molecada pois, seguindo esse raciocínio, é difícil vender ingresso a preços não populares. Bem, a julgar pelo Rock in Rio, isso já é coisa do passado.
Agora, quando falamos de música, o trap vive seu melhor momento no Brasil. Artistas rodam o país lotando casas noturnas dos mais variados portes e com trabalhos aclamados pelo público e pela crítica. Nos últimos anos, vimos também uma evolução das das apresentações.
Foi o caso, por exemplo, de Yunk Vino no último The Town, em 2023, e de MC Cabelinho, um dos destaques no Rock in Rio deste ano junto com MC Poze do Rodo, Major RD, Slipmami, MC Hariel, Veigh, Kayblack e muitos outros.
Esse bom momento teve como resultado o trap no Palco Mundo no Dia Brasil, em detrimento do rap, que foi destaque no Palco Sunset. Além dos problemas técnicos, que afetaram outros shows no dia, a ausência do MC Ryan SP, que faltou ao show para ver o jogo do Corinthians com a filha e não deu satisfação para os fãs, mostram um lado que precisa evoluir no gênero que ainda passa a imagem de pouco zelo pelo profissionalismo musical. Episódios com esse não ajudam.
No fim das contas, o plano do Rock in Rio deu certo. Um dia dedicado ao rap/trap/funk lotou e agradou público e crítica. Agora, é entender se tal atitude, que acompanhou um caminho de outros festivais, seguirá nas próximas edições. O Lollapalooza, por exemplo, que em 2024 trouxe 18 artistas de hip hop, recuou e, no próximo ano, terá apenas seis artistas de rap, trap ou funk.
Zé Ricardo, vice-presidente artístico do festival, disse à Billboard Brasil que a ideia é que o trap venha para ficar, mas isso também depende da resposta do público, com a consolidação do gênero no gosto popular. Ou seja: são negócios. E ele não vai embora enquanto trouxer dinheiro. E, se o rock morreu, o trap está vivíssimo.