Revelação do novo soul inglês, Raye ainda precisa amadurecer para se tornar lendária
A cantora foi um dos destaques da noite de ontem do C6 Fest
Um dos maiores escritores e dramaturgos brasileiros, Nelson Rodrigues (1912-1980) saiu-se com uma frase inesquecível quando perguntado se tinha algum conselhos para os jovens. “Envelheçam”, disse ele. Pois Raye, a cantora inglesa que se apresentou ontem à noite no C6 Fest, é um talento que precisa atingir a maturidade.
Sim, claro, seus predicados são inegáveis. Ela chegou ao estrelato credenciada por parcerias ao lado do DJ David Guetta, da diva suprema Beyoncé, Rihanna e Jonas Brothers. Seu álbum de estreia, “21st Century Blues” é uma bela aula de soul music e com letras que fala sobre temas importantes –caso de “Ice Cream Man”, no qual relata um assédio sexual que sofreu.
O teste do palco, contudo, é diferente do teste do estúdio. E Raye fez um bom show, quando todos sabemos que poderia ter sido inesquecível. Existe uma necessidade em mostrar que “canta muito”, que por vezes soa cansativa: extensão de notas, melismas (aquele sobe-e-desce na voz , característico de Whitney Houston). Porém, a qualidade do grande intérprete é justamente passar a emoção do que está se cantando. É o que fez de artistas com “voz pequena”, como a jazzista Billie Holiday e Amy Winehouse serem tão adoradas.
Emocionada, Raye passou um loooongo tempo anunciando cada música de seu repertório. Simpática, até autografou o CD de um de seus admiradores. Gestos nobres, mas que atrapalharam o fluxo do show.
Quando cantou, Raye botou pra quebrar. “The Thrill is Gone”, que abriu a apresentação, tem um quê de acid jazz (movimento inglês de revitalização do soul, no inicio dos anos 1990) e “Ice Cream Man”ganha uma interpretação sentida e emocionada. Em suma, Raye é um fenômeno. Mas quando amadurecer, será grande.