Soft Cell estimula a união de classes no palco do C6 Fest com seu tecnopop
Duo liderado pelo vocalista Marc Almond colocou todo mundo para dançar
Marc Almond cantava o refrão de “Nostalgia Machine”, canção do álbum “Happiness is not Included” (2022), quando uma espécie de transe festivo tomou conta da plateia. O público –devotos de primeira hora e novos agregados, diga-se– cantava junto, bem como os funcionários do bar. Outros, mais animados, chamaram as pessoas da limpeza para dançar (e teve gente que aceitou, ainda que por alguns segundos). Mais do que um show, a performance do Soft Cell no C6 Fest foi uma congregação de pessoas de todo o tipo e função em nome da música.
Almond (vocais) e David Ball (teclados, que não se apresenta mais ao vivo) combinam, em doses nem sempre iguais, as experimentações eletrônicas do grupo alemão Kraftwerk, a postura de palco de David Bowie e a soul music –em especial a Motown (principal gravadora de música preta dos Estados Unidos) e o northern soul, festas dedicadas ao gênero que aconteciam no norte da Inglaterra. É uma nothern soul, aliás, que produziu o primeiro single de sucesso do Soft Cell. “Tainted Love” foi escrita pela cantora Gloria Jones.
“Non Stop Erotic Cabaret”, de 1982, é o primeiro disco da dupla. É um clássico absoluto do pop que gerou canções dançantes e letras que retratavam solidão, as vidas nas boates e no submundo. Que pode ser percebido em títulos como “Seedy Films” e “Sex Dwarf”. E “Bedsitter” é uma das melhores letras feitas sobre viver sozinho. A dupla terminou em 1983, voltando para shows e discos esporádicos a partir do início dos anos 2000.
Almond subiu ao palco consciente da importância histórica da dupla, mas sem preocupação em fazer um show saudosista. Equilibrou as canções de seu disco mais famoso, com faixas mais recentes. Emocionado –afinal, era sua primeira vez aqui– pediu o canto do público, no que foi atendido. E terminou com um coro de pessoas entregues em “Say Hello, Wave Goodbye”.