
O Prêmio Multishow, que aconteceu na última terça-feira (7), levantou uma discussão nas redes sociais: número de seguidores, streams nas plataformas e likes trazem estatuetas para os artistas? Cantores com forte presença nas redes sociais como Ana Castela e Luísa Sonza não foram premiadas em nenhuma categoria. Jão, indicado a artista do ano, álbum do ano, pop do ano e Clipe TVZ do Ano, só levou o prêmio na última categoria, decidida por voto popular, por “Pilantra”, sua parceria com Anitta.
Os resultados da edição deste ano, que teve suas regras mudadas, não agradaram muitos fãs dos artistas indicados. Desta vez, 900 jurados ligados à indústria da música —incluindo os editores Liv Brandão e Sérgio Martins, da Billboard Brasil— escolheram os vencedores de 17 das 23 categorias.
Após a cerimônia, a pergunta que pairou foi: como a cantora sertaneja, que está no topo dos charts por muitas semanas e é dona de hits como “Nosso Quadro” e “Solteiro Forçado”, não foi reconhecida pelo júri? “Porque os critérios dos volantes vai de encontro ao clamor dos fã-clubes”, diz Sérgio. “O artista se acostumou tanto com o afago das redes sociais que acaba acreditando que os critérios de escolha se baseiam nos elogios dos fãs.”
Na rede social anteriormente conhecida como Twitter, o X, perguntas como essa e críticas do público foram respondidas por artistas como Zegon, do duo Tropkillaz. “Já falei isso e vou repetir. A maioria do público hoje em dia não é fã de música. É fã de mídias sociais, de estética e de número”, escreveu o produtor.
O trio Tuyo também opinou. “Número na internet é o novo monumento artístico, o novo busto de gesso, o novo arabesco, a nova performance! Vamos expor em museus os prints de like, vamos subir ao palco as visualizações dos bots, vamos promover uma premiação que laureia os melhores plágios do ano!.”

Melly, vencedora da categoria revelação, concorria com Veigh, Kayblack, Thiago Pantaleão, Nadson O Ferinha e Carol Biazin. Ela tem pouco mais de 60 mil seguidores no Instagram –muito, mas muito menos do que os outros concorrentes, que estão entre 800 mil e cinco milhões de fãs na rede social. E tudo bem.
Em entrevista para a Billboard Brasil, Zegon critica a necessidade de todo artista ser produtor de conteúdo para estar em evidência.
“Isso compromete muito a qualidade, porque você não tem tempo de fazer a sua arte. Nas mídias sociais, é muito fácil comprar números. Tem artista de 10 milhões de streams que não vende ingresso. Enquanto isso, tem bem menor lotando casa de show. E tem artista que você não sabe quantos ingressos vendem porque só toca em festivais.”
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Para o produtor, a tendência do cenário é piorar antes de melhorar. “A maioria das gravadoras só se importa com números. Ao mesmo tempo, tem muita gente que está cansada. Acho que uma hora os artistas vão parar de produzir no atacado e fazer um negócio de maneira mais autêntica.”

Foto: Reprodução/Instagram
Ricardo Alexandre, jornalista e crítico musical, diz que, atualmente, não há mais espaço para o novo. Em entrevista, ele ressalta que o elenco das gravadoras antigamente consistia em artistas de lucro imediato e nomes que buscavam tendências, na base da tentativa e erro.
“Nunca estivemos tão presos aos gostos superficiais das pessoas”, avalia. “Hoje é sabido exatamente o que o público quer. O momento que o refrão precisa entrar para que não pule a música. O tipo de discurso e postura que agrada mais. Não tem mais espaço [para a tentativa e erro]. A rádio FM hoje não tocaria uma banda nova e arriscaria perder a audiência.”
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Para o produtor musical Dudu Marote, a estratégia deve contar com a presença digital natural do artista. “A experiência da música é muito fragmentada e seu maior momento é no ao vivo. Um show muito bem planejado e produzido, de qualquer tipo, tem muita [chance] de encher e a estratégia digital é fundamental”, explica.
“O digital é tão dinâmico que tudo muda de um dia para o outro. É tanta informação que as pessoas esquecem depois de uma semana. Na minha opinião, quem ganha é quem aposta na carreira a longo prazo”.
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