Crítica: Bruno Mars e seu passe de mágica
Cantor ensina como dar vida nova a velhos truques da soul music


Certa feita, um popstar me disse que assistia a shows da nova geração com a sapiência de um mágico aposentado. “O truque eu já conheço, só quero saber se está bem feito”, explicou. Pois a performance de Bruno Mars em The Town eleva esse cantor, compositor, instrumentista, dançarino havaiano à categoria a um David Copperfield.
Porque, convenhamos: Mars – ou Bruninho, como entoa o público do festival – não é o que podemos chamar de inovador. Suas influências coreográficas estão nos requebros de Elvis Presley e Michael Jackson. Musicalmente, bebe na fonte da soul music dos anos 1960 e 1970, especialmente a produzida nos estúdios da Motown, a maior gravadora de música negra de todos os tempos, e no chamado “soul da Filadélfia”, que gerou o andamento acelerado da disco music.
A elas, adiciona as batidas do hip hop e temas um pouco mais picantes do que o cancioneiro inocente de 40, 50 anos atrás. “Eu quero você gatinha gostosa”, clama – pensando bem, é o que diria um Marvin Gaye, soulman que trilhou por canções com mais libido.
Compositor requisitado, Bruno tem na manga um repertório que vai de baladas bem urdidas a reggaes para se escutar na praia – caso de “Billionaire”, que a plateia canta junto. Mas, voltando à análise do popstar veterano, o truque está mais do que bem feito. Bruno Mars é um endiabrado.
A apresentação foi rigorosamente igual a do domingo anterior, quando seduziu a plateia por mais de duas horas. Citações a “When You Wish Upon a Star”, tema do desenho animado “Pinóquio”, da Disney, e “Pure Imagination”, do filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate”; solo de bateria e o momento do soulman ao piano, no qual ele interpreta alguns dos sucessos de seu repertório.
Entre eles “Fuck You”, gravada por Cee Lo Green, e “Leave the Door Open”, do Silk Sonic, projeto ao lado do cantor, baterista e produtor Anderson Paak. E, claro, teve “Evidências”, canção de José Augusto e Paulo Sérgio Valle, que virou hino nacional na voz de Chitãozinho & Xororó, tocada pelo tecladista da banda. Dessa vez, teve a presença de Xororó, a mulher Noelly, e Júnior, filho do casal.
Bom mágico que é, Bruno Mars tira vários coelhos da cartola, que são distribuídos nas duas horas de espetáculo. De “24K Magic”e “Treasure”, que são queimados logo de saída a “When I Was Your Man”, “Locked up Heaven”, “Just the Way you Are”e “Uptown Funk”… Um truque muito bem feito…