A Billboard Brasil, com a ajuda de grandes nomes de cantores, produtores e influenciadores da música, escolheu os 25 maiores grupos da história do pagode.
Força considerada menor pela dita “MPB” desde que começou a se criar para fora dos terreiros do samba, o pagode passou de expressão sambista para se tornar um gênero consolidado. Instrumentos como o teclado e o baixo elétrico, ganhavam força e as experimentações provocadas pelo Fundo de Quintal, desde o Cacique de Ramos, surtiram efeito não só no samba, mas também em um romantismo que se espalhou pela música radiofônica brasileira, unindo partideiros em torno de uma estética nova a partir dos anos 1980.
Espelhados nas carreiras solo de artistas como Jorge Aragão, por exemplo, esses românticos batuqueiros gostavam da MPB do rádio, do hip hop da rua, do samba da avenida. Alguns, inclusive, curtiam sertanejo, forró, reggae. E isso foi definindo umum gênero que, no final dos anos 1990, alcança sua estética mais marcante: romântica e masculina (nas letras), lenta e mais pop (nos arranjos).
As mulheres, inclusive, ficaram quase sempre de fora do movimento de grupos. Partideiras românticas como Eliane Lima e Leci Brandão não tiveram personagens semelhantes a elas fundando ou formando grupos de sucesso dos 1980 aos 2000. Uma pena —e também um retrato de uma indústria.
Com base nisso, chamamos 11 especialistas no gênero para participar da votação (veja lista completa no final do texto), que funcionou da seguinte forma:
- Cada participantes poderia formar uma lista com os 25 nomes, levando em conta quatro parâmetros: relevância e impacto que marcaram o pagode, destaque por gerações, autor de sucessos que marcaram uma pequena época e carinho especial;
- Os escolhidos nas cinco primeiras posições receberiam 30 pontos, entre a 6ª e a 10ª posição seriam 20 pontos, entre a 10ª e a 20ª posição seriam 10 pontos e as últimas cinco posições receberiam cinco pontos;
- Os grupos foram selecionados a partir dos anos 1980.;Isso porque, consideramos que o grupo Fundo de Quintal, que é hors concours, foi uma espécie de “pontapé” inicial para criação desse novo gênero.
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Os jurados:
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- Ferrugem (cantor, instrumentista e compositor)
- Daniel Gomes (jornalista)
- Jr. Belo (comunicador e pesquisador, dono de um dos maiores acervos digitais do pagode)
- Nathália Geraldo (jornalista e pesquisadora do gênero)
- Maria Olivia (influenciadora)
- Prateado (instrumentista, produtor e um dos bastiões do gênero, grande responsável pela estética do pagode)
- Yuri da BS (jornalista da Billboard Brasil)
- Guilherme Lucio da Rocha (jornalista da Billboard Brasil)
- Thay Carvalho (musicista da roda e grupo Samba da Volta)
- Yuri Marçal (influenciador e apaixonado pelo gênero)
- Marvvila (cantora)
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Os 25 maiores grupos de pagode (do 25º ao 16º):
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25Doce Encontro (2003-atualmente), 45 pontos
Nascido em 2003, em São Paulo, o Doce Encontro prova que é mesmo um queridinho dos pagodeiros para emplacar um lugar nesta lista. Os 20 anos de carreira não são à toa: seus integrantes revezam entre os altos escalões de escola de samba (o percussionista Thiagão é mestre de bateria da Mocidade Alegre) e da composição do pagode (o produtor e cavaquinista Tiago Alexandre foi gravado por Péricles, Jeito Moleque e Exaltasamba). O audiovisual do grupo no Pagode Solidário, em 2019, é um hit absoluto no You Tube:
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24Só Preto Sem Preconceito (1983-2010), 45 pontos
O Só Preto Sem Preconceito surge elegante no começo dos anos 1980, sendo o primeiro grupo da primeira geração a figurar nessa lista. O nome provocador e o figurino puro estilo do grupo explicam como estavam se configurando os grupos àquela época: beca invocada e canções que ora eram bem humoradas, ora românticas. O banjo em “Viola Bandoleira”, da compilação “Na Aba do Pagode” chamou atenção e levou o grupo ao seu primeiro álbum, de 1987, que traz composições de Guará, Beto Sem Braço, Nei Lopes e Sereno, Jorge Aragão e Luiz Carlos da Vila —mostrando que, mesmo fazendo uma transição, esse pagode também conectava várias pontas do samba. O grupo, formado por Nem, Cimar, Reginaldo, Paulinho e Fernando, revelou Délcio Luiz que, posteriormente, formaria o Kiloucura, se tornando compositor requisitado do gênero. -
23Menos é Mais (2017-atualmente), 50 pontos
Não tem jeito. Os brasilienses dominaram os charts da Billboard Brasil porque aprenderam uma arte muito querida no pagode: a de fazer hits. Muitos pagodeiros antigos torcem o nariz para o estilo do Menos é Mais porque não entenderam que, há muito tempo, o gênero assim se configura: com ainda mais interferências de outros gêneros e, principalmente, mais capaz de se deslocar do eixo Rio-São Paulo —justamente porque é adorado em todo território brasileiro. Formado em 2017, o grupo surgiu como todos os outros: cantando canções dos seus ídolos, ganhando força local e, então, lançando pedras autorais. Tudo isso fez o grupo se tornar querido pelo público que adora o pagode formado na pegada “Tardezinha”. O carisma do talentosos vocalista Duzão também chama atenção: ele é querido no meio e fora dele como poucos da nova geração. Lançado há cinco meses, o audiovisual “Churrasquinho Menos é Mais 3” já computa 23 milhões de visualizações puxados por sucessos como “Lapada Dela” e, principalmente, o fenômeno “Coração Partido”. -
22Jeito Moleque (1998-atualmente), 55 pontos
O Jeito Moleque vir logo após o Menos é Mais não é coincidência. Antes de You Tube ser o grande rádio do pagode, o grupo paulistano já antecipava algumas modas mesclando referências da geração dos 2000. O grupo foi uma espécie de boy band dos anos 2010, quando o pagode já perdia força nas rádios para o sertanejo universitário de Victor e Léo e Luan Santana e para o pagodão baiano de Léo Santana. Nesta época, apenas três grupos tocavam à exaustão nas rádios populares de gêneros mistos: Exaltasamba, Revelação e o próprio Jeito Moleque. Apadrinhados por Thiaguinho, o grupo emplacou o hit “Amizade é Tudo”, um hino de amigos que tinha tudo a ver com uma estética que o jogador Neymar oficializaria como a nova dos pagodeiros dos anos 10 do século 21. -
21Imaginasamba (2001-atualmente), 55 pontos
Revelado em Nova Iguaçu, subúrbio do Rio de Janeiro, o Imaginasamba tinha um só objetivo: cantar pagode para os amigos. Mas a voz de Suel, de timbre parecidíssimo ao de Belo, chamou a atenção em um gênero que parecia perder fôlego em meados dos 2000 após a saída de diversos vocalistas de seus grupos originais. Por ironia do destino, o grupo precisou achar um novo vocalista em 2007. Por ter pouco impacto nacional, eles surpreendem ao emplacarem a posição de #21 nesta lista —o que, talvez, dê ainda mais destaque para sua discografia. -
20Bom Gosto (1997-atualmente), 60 pontos
Formado ainda na década de 1990, o Bom Gosto saiu da zona oeste do Rio de Janeiro para se tornar um dos representantes do pagode radiofônico do final da primeira década dos 2000. Eles apostaram em composições de Paulo César Feital e Altay Veloso, Almir Guineto e Sombrinha e Ana Carolina e Antônio Villeroy para, depois, emplacarem hits maiores do pagode como “Curtindo a Vida”. Eles ainda teriam “Patricinha do Olho Azul” incluída em repertório de novela ao explorar uma renovação da clássica narrativa Romeu e Julieta do gênero. O grupo revelaria, ainda, o vocalista Thiago Soares —atualmente, um dos maiores solistas do gênero. -
19Grupo Raça (1985-atualmente), 70 pontos
Essa é a segunda vez que você lê o nome de Délcio Luiz na lista —não é pra menos. O compositor também esteve em uma das formações do Grupo Raça, um dos maiores nomes da gênese do pagode nos anos 1980. Antes do ingresso de Délcio, em 1991, eles haviam lançado dois discos (“Grupo Raça” e “Tempero”) que possibilitaram o hit do LP “Da África à Sapucaí”, com grande impulso da gravadora BMG Music (atual Sony Music). É neste álbum que o grupo consegue, ainda, introduzir-se com João Bosco e Aldir Blanc (com a faixa que dá nome ao álbum), ir para o samba de terreiro e chegar ao pagode romântico de forma exuberante. Eles ainda emplacariam diversos sucessos como “O Teu Chamego”, “Ela Sambou, Eu Dancei”, “Tô Legal”, “Mulher de Amigo Meu”. -
18Bokaloka (1995-atualmente), 75 pontos
Anteriormente chamado de Água na Boca, o Bokaloka parecia que iria sofrer com o rebranding. Pelo contrário. Liderado pelo vocalista Renatinho (1975-2023), o grupo esbanjou safadeza nas letras e uma esperteza ao se apropriar de canções como “Melhor Amiga da Minha Namorada” e “Que Situação, originalmente do grupo Alô Som. Armado com o cavaco ostentador de Toninho, o grupo foi enfileirando hits pela década de 2000 e se tornando uma referência de partido que tinha uma mão mais pesada nas letras que tratavam sobre desejo sexual explícito, traições e confissões. -
17Swing & Simpatia (1997-atualmente), 75 pontos
Também formado em Nova Iguaçu (tal qual o Imaginasamba), o Swing & Simpatia foi um grupo querido do pagode carioca no final dos 1990. Apadrinhado por Leci Brandão, o grupo chamou atenção com “Tropeço” e “Swing da Neguinha”, tornando-se logo uma aposta do gênero. No entanto, como muitos outros desse início de lista, a capilaridade do grupo não foi nacional, ficando como memória nostálgica entre os partideiros. -
16Katinguelê (1983-atualmente), 80 pontos
Liderado por Salgadinho, o grupo paulistano é o primeiro da geração romântica dos anos 1990 a dar as caras nessa lista. Antes de se tornarem figuras carimbadas nos programas de auditório, o grupo se formou na zona sul de São Paulo e lançou “Um Doce Sabor” que impulsionou a coletânea “Chopapo” e os levou ao primeiro LP, “Meu Recado”. O hit que intitulava a estreia chamou a atenção da Warner Music e, na multinacional, eles venderiam 600 mil cópias a mais do que o debute com sucessos do trio Salgadinho, Mita e Papacaça. Ao lado de grupos como Molejo e Art Popular, o grupo angariou simpatia infantil ao se apresentarem sempre de óculos escuros, principalmente durante a fase do hit “Inaraí”, em 1999. Até hoje, Salgadinho é considerado uma das grandes vozes daquela geração.
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