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MC Yara: ‘parece que só temos reconhecimento quando falamos de outras pessoas’

MC Yara: ‘parece que só temos reconhecimento quando falamos de outras pessoas’

Além da MC, a banda Calorosa entoou contra o agronegócio no Se Rasgum

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“Sempre quis fazer isso”, diz MC Yara logo após encerrar sua apresentação imitando um barulho de tiro. A sensação de vitória vai além de reproduzir pela primeira vez o estampido vocal característico do trap: é uma sensação de que há uma tentativa de virada feminina e trans para cima de um mercado de vozes masculinas reprodutoras de clichês sobre malote, glock e heteronormatividade.

Ao lado das rappers Agatha Sou, Matemba, Thais Badu e Yanna MC, a paraense abriu a primeira (e gratuita) noite do Festival Se Rasgum, em Belém, na quinta-feira (16).

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“Ser artista independente pra quem já passou fome e dividiu o dinheiro do corre e do bonde da prostitução… É muito difícil”, disse a MC de Mirituba à Billboard Brasil logo após a apresentação que teve gosto de cypher e que ocorreu poucos dias após diss da rapper Ebony versos posturados contra MCs homens dominantes da cena como L7NNON, Djonga e Filipe Ret. “É uma questão de dar protagonismo às pessoas que estão mais vulneráveis. A sacada dela [da Ebony] é genial, mas a gente tem que lembrar que tem coisas incríveis antes disso. Parece que só temos reconhecimento falando de outras pessoas. Por quê ela não estava em voga com essas coisas incríveis de antes? É essa a reflexão que deve ficar”, analisa.

Na platéia, a identificação era vista pela euforia. “Eu vim só para assistí-las, na real. É sempre esse corre de vir prestigiar. Acho que a Ebony lançou um diss que é sobre isso, né? Sobre como a galera do rap não consome mulheres. Então, qualquer oportunidade para prestigiar mulheres na cena do rap amazônico é algo incrível, necessário e urgente. Sem elas, esse espaço não seria construído”, diz Vic Argôlo, travesti e mestranda em comunicação social.

“Sem tempo pra chorar”

“Infelizmente, a gente não tem muito tempo para parar. Eu queria ter muito tempo para isso: parar para chorar. Mas, tipo, é um corre diário, sabe? Sempre caindo e sempre levantando, trampo após trampo. E se for parar para lamentar, não conseguimos realizar as coisas. Não que não seja válido botar sentimento pra fora mas, às vezes, não tem tempo nem pra isso. E isso não é ser ‘guerreira’. É resistindo e sobrevivendo, nossas únicas opções”, arrebata Yara.

A noite gratuita de Se Rasgum contou ainda com a anfitriã Cravo Carbono, a banda acreana Filomedusa e a mato-grossense Calorosa. Esta última, liderada por Karola Nunes, agitou o público ao levar o rasqueado e o lambadão com um posicionamento claramente anti-agro.

“A gente passa por isso dentro de casa”, diz a vocalista se referindo à críticas recebidas pelo endosso ao discurso contra o agronegócio. “Mas somos só uma bandinha de Rondonópolis [risos] e as pessoas insistem em nos incomodar. A gente tá falando com quem tá interessado em ouvir. Se não está e quer ouvir putaria e bebedeira, segue sua vida. Mas não podemos fechar o olho para o que tá acontecendo. A verdade é que é cansativo e até perigoso. O Mato Grosso tem vários milionários da soja, do algodão. Então, assumir essa postura é doido. Vir pra cá e falar com outras pessoas é um mega incentivo em um caminho difícil. Mas a gente ainda tá com energia”, analisa em meio a uma risada de alívio pós-show, mas também nervosa de quem sabe que o agro, além de pop, pode ser mortal.

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A vocalista Karola Nunes, da banda mato-grossense Calorosa, que entou discurso contra o agro em meio a lambadões e rasqueados (Adrielly Ferreira/Se Rasgum)
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Billboard Brasil

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