‘Eu amo a energia do caos’: Ebony e a diss que abalou o frágil mundinho do rap BR
Música feita pela MC critica fãs. E ela adianta que não vai parar.


“Acho que você não tem noção do impacto que isso aqui vai gerar”. Foi esse o aviso que a rapper Ebony recebeu da produtora LARINHX ao terminar a faixa “Espero Que Entendam“.
Lançada na última quarta-feira (15), a diss provocou o caos no mundinho do rap nacional. E, quem tinha que entender, entendeu.
Na cultura hip hop, diss é um termo usado para canções feitas com o propósito de atingir uma outra pessoa ou grupo.
“Eu queria atingir esses caras [fãs] que só estão olhando para homem. Vi na minha atitude uma forma de olharem para mim. E falar dos homens gerou esse resultado porque eles parecem intocáveis”, disse Ebony, em entrevista para Billboard Brasil.
A MC acredita que a repercussão é uma prova que o objetivo foi atingido com sucesso. Inclusive com a demonstração de passividade dos seus colegas.
Depois de uma canção tão forte, é comum que a resposta venha por meio de uma música ainda mais ácida. Porém, nomes como Djonga, L7NNON e Filipe Ret foram só elogios.
“Sei que a resposta na caneta faz parte, mas eles entenderam que não foi pessoal, não estava falando de um deles em específico. Minha parada é sobre a cena. Não tem o porquê responderem, ficou algo que quem acompanha entendeu, gerou uma reflexão. Mas se quiser responder também, só vem. Eu faço a minha resposta depois, está tudo certo”.
L7NNON se pronunciou após ser citado na diss da Ebony! pic.twitter.com/snjCxP6kvg
— RAPRJ (@CanalRapRJ) November 15, 2023
Da lama ao caos
No dia 13 de novembro, Ebony foi ao Twitter (agora X) e afirmou que iria “matar” alguns MCs homens na caneta.
meu mano eu não compito com mulheres. Eu quero bater os números masculinos, eu compito com homens. Quero que percebam logo que minha caneta é melhor que a deles 😘💋 BK, Borges, Major, Ret, L7, Djonga, Xamã, adoro vcs mas vou matar todos 🤷🏾♀️ espero que entendam
— Ebony (@baddiebony) November 13, 2023
As respostas para sua postagem deram a certeza para a MC de que aquela ideia deveria virar música. Ela então correu pro estúdio da LARINHX, pegou um beat e fez parte da composição de freestyle.
“É no mínimo respeito o que quero. Ódio vou receber de qualquer forma, então decidi tirar o melhor para minha carreira. Foi daí que decidi fazer essa diss“.
A escolha dos MCs citados tem a ver com o seu histórico na cena, pessoas que ela admira o trabalho e um outro fator que a MC preferiu não revelar.
No fim das contas, ela queria era colocar o dedo na ferida e bagunçar a p*** toda.
“Eu gosto muito da energia do caos, porque depois dela você precisa se reorganizar”.
Rimo igual Nick
2023 foi um ano onde MCs como Duquesa, Slipmami, N.I.N.A., MC Luanna e outras tantas conseguiram destaque por trabalhos que fogem do marasmo, além de números expressivos, o que também é importante.
Porém, isso não foi suficiente para chamar a atenção de grandes nomes masculinos da cena. Entre os homens, as parcerias são abundantes. Mas na hora de chamar uma mina…
“Só de estarmos falando sobre isso já é um absurdo. Pensa: isso deveria ser algo natural, não tinha que ter cobrança. Mas esses caras vivem juntos, só no mundinho deles. Parece que quando um vai no banheiro o outro que segura”.
A missão de Ebony era produzir uma diss que atingisse o público, não os artistas. Era algo que levantasse a discussão do baixo engajamento dos fãs com as MCs mulheres.
Para isso, a cantora fez um paralelo com o cenário norte-americano. “A Nick Minaj, por exemplo, fez uma diss para os caras da mesma época dela. Acho que a gente faz muita coisa aqui no Brasil depois que deu certo lá [EUA]. Se eu não fizesse, outra MC faria. Era uma oportunidade meio evidente”.
“Uh, mata ele”
A frase acima faz parte das batalhas de rima, e costuma ser gritada pelo público para provocar animosidade entre MCs. A troca de ofensas, com certo padrão de civilidade, é algo normal no rap.
Ebony reforça que sua intensão não era ofender nenhum de seus colegas. Para isso, ela usa o exemplo de L7NNON. Na sua canção, ela diz:
E o L7 que me espere porque, porra, mano / Ainda nem me decidi se tu é preto ou branco
Os dois são amigos de longa data e o que está na canção foi tema de conversa anterior entre eles.
“Estávamos numa festa na Barra [da Tijuca, bairro do Rio de Janeiro] e começamos a conversar sobre essa questão de raça. Eu perguntei como ele se identifica e ele ainda brincou, perguntou o que eu achava que ele era. Foi exatamente o que está na letra”.
De onde eu venho tem mais
Ebony não quer ser levada tão a sério. Seus ataques são direcionados aos fãs da manutenção de um mercado machista. E sua música faz parte de um jogo de cena em prol da revolução.
No “game”, como alguns rappers denominam o mercado do rap, você tem que estar preparado para atacar e se atacado nas rimas. A diferença está em quem produz os melhores versos.
Mas se engana que pensa que a caneta da MC está guardada.
“É o sonho de todas nós [mulheres] fazer uma música chutando o balde, falando que fulano não paga pensão, meter o louco mesmo. Eu não vou dar sossego. Se depender de mim, vou colocar todo mundo para trabalhar. Eles vão ter que rimar como uma garota, sem nenhuma linha mediana”.