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Kamilla Fialho: ‘Vivemos o melhor momento do funk no Brasil’

Kamilla Fialho: ‘Vivemos o melhor momento do funk no Brasil’

Empresária falou sobre o funk no exterior, 'guerra' de empresários e machismo

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O funk vive um dos seus melhores momentos no Brasil e no mundo. Nomes como MC Kevin O Chris e MC Ryan SP são figurinhas carimbadas nas listas de músicas e artistas mais ouvidos do país. Internacionalmente, Anitta é o principal nome do país, carregando a bandeira do baile funk.

No entanto, o cenário poderia ser ainda melhor. Artistas têm dificuldade em furar bolhas e oferecer ao público apresentações mais sofisticadas, que envolvam mais do que pirotecnia e sucessos dos charts.

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Além disso, empresários focam “na quantidade”, ao invés de investir na qualidade dos artistas, inflando o mercado e tornando a internacionalização do gênero um processo lento e tortuoso.

Essa é a análise de Kamilla Fialho, proprietária da K2L, produtora musical especializada em funk que, atualmente, cuida da carreira de Kevin o Chris.

A empresária, que também já trabalhou com nomes como Anitta e Lexa, conversou com a Billboard Brasil sobre a situação atual do mercado do funk no Brasil, como é ser uma empresária do gênero do Rio de Janeiro num momento em que São Paulo conquistou protagonismo e, algo que não é um tema novo, mas recorrente: o machismo dos seus pares.

Kamilla Fialho
A empresária Kamilla Fialho (Divulgação)

Billboard Brasil: Como você enxerga o mercado atual do funk, com uma internacionalização cada vez maior do gênero?

Kamilla Fialho: Acho que vivemos o melhor momento do funk. Há 20 anos, quando tudo parecia uma loucura, eu tinha certeza que o funk era o movimento musical brasileiro digno ou possível de exportação e estamos nesse caminho.

Acredito muito que 2024 será um ano especial.

O que te dava essa certeza?

O funk é a música eletrônica genuinamente brasileira, né? A gente consegue abrir o computador e fazer um funk. Eu acredito que a galera de fora não entenda tão bem como funcionam os instrumentos de percussão, nossos ritmos. O funk tem essa facilidade de troca e eu adoraria que o brasileiro entendesse isso e ficasse feliz orgulhoso.

Você acha que hoje o Brasil ainda não vê o funk como um gênero para exportação?

Com certeza não vê. Muita gente do mercado achou um absurdo a Anitta lá no VMA. As pessoas não conseguiram entender ainda que a nossa música eletrônica é o nosso ponto de partida, que é por meio dela que uma pessoa pode conhecer melhor outros artistas ou gêneros que são destaque por aqui, fazer um feat com uma Ivete Sangalo, por exemplo.

Acredito que a Anitta é fundamental na missão de abrir essa porta e outros artistas podem acessar o mercado internacional com mais facilidade agora.

Pensando no lado empresária, como auxiliar um artista a alcançar o mercado internacional?

Fazendo que ele entenda que o funk tem tudo para isso. Mas também não basta só a gente falar. Por exemplo: quando meu artista [Kevin o Chris] troca um WhatsApp com o Post Malone, ele passa a enxergar a própria relevância. Creio que é importante essa instrução, mas o artista também tem que olhar o que acontece ao seu redor e ter a noção do seu tamanho e do tamanho da cultura baile funk.

Atualmente, São Paulo é o principal polo do funk no Brasil e desenvolveu um ecossistema onde as produtoras ganharam destaque e se multiplicaram. Por que o RJ não consegue emplacar tantos artistas e a K2L é uma das poucas produtoras cariocas que conseguiu destaque nacional?

Eu vejo o mercado de São Paulo mais desenvolvido em quantidade. E isso é um problema. São Paulo é o Estado que tem a maior quantidade de usuários no Spotify, YouTube, Instagram. Qualquer um que abra uma ferramenta de análise vai ver São Paulo em primeiro nos números. Mas não há um investimento individualizado, um carinho para melhorar o show colocando uma banda, um ballet completo, som e luz de qualidade, profissionalizar a equipe de produção.

Claro que os números são importantes, representam uma relevância muitas vezes, mas empresários e artistas não podem se apegar apenas nisso, principalmente se falarmos em internacionalização. Estamos com vários festivais pelo país, é fundamental pensarmos numa entrega de espetáculo para o público.

E é por isso que você não tem mais artistas no seu casting?

Sim. Nunca terei [muitos artistas] porque quero fazer com que eles acreditem que é possível ser do mesmo tamanho como de um Jorge e Mateus ou de um Thiaguinho, fazendo um show com a mesma qualidade. Eu quero estar num line up com esses artistas, os maiores do país, não só num line com outros 20 artistas de funk. Para isso, preciso de foco.

Acho que os escritórios de São Paulo têm um poder financeiro muito maior e deveriam olhar para os artistas que têm um destaque, uma relevância nacional, e investir com mais carinho, não olhar apenas em grupo. E, infelizmente, quando converso com meus colegas empresários eles acham que eu não sei o que estou falando.

Nesse caso, é machismo mesmo? Seu currículo não ajuda como resposta?

Óbvio. Eles não me respeitam porque eu sou mulher, né? Na cabeça de muitos eu consegui conquistar as coisas por outros métodos, não porque eu sou boa no que faço. E é assim por mais de 20 anos.

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