As turnês podem ser realmente sustentáveis? 5 conclusões do SXSW Londres
Coldplay, The 1975 e mais artistas elogiados como pioneiros
Na edição inaugural do SXSW Londres, realizada de 2 a 7 de junho na Inglaterra, com quase 900 palestrantes participando de cerca de 500 sessões, um tópico específico foi de extrema relevância para a indústria da música – na verdade, para todos os setores e participantes.
A crise climática.
No ano passado, condições climáticas extremas provocaram incêndios em Los Angeles, a capital da música; um ciclone provocou o cancelamento de cerca de duas dúzias de eventos ao vivo na Austrália em uma única semana; e mais de 50 festivais no Reino Unido foram adiados ou cancelados devido a fatores como o aumento dos custos de seguros relacionados ao clima.
“A mudança climática não é uma ameaça distante”, disse Leila Toplic, diretora de comunicações e diretora de fundos da Carbonfuture, que fornece verificação de esforços para remover carbono da atmosfera.
“O argumento comercial para agir ainda existe”, observou Helen Clarkson, CEO do Climate Group, uma organização sem fins lucrativos que já trabalhou com mais de 500 empresas multinacionais em 175 mercados. (Ela discursou durante um painel provocativamente intitulado “Cancelando a Sustentabilidade”, sobre os esforços para perseguir uma agenda verde diante da nova retórica anti ambiental nos Estados Unidos).
Os organizadores do SXSW London escolheram o Bellwethers Group, focado na construção de uma economia verde, como seu parceiro oficial de sustentabilidade, e a empresa sediou vários dias de painéis na Nature and Cimate House.
Um desses painéis focou no papel que as agências de publicidade e relações-públicas podem desempenhar na orientação de empresas que afirmam estar preocupadas com o clima. Lameya Chaudhury, chefe de impacto social da agência criativa Luck Generals, voltada para missões, comentou: “A pergunta que estamos fazendo aos clientes em 2025 é: vocês realmente falaram sério?”.
O SXSW London se baseia no legado de quatro décadas da conferência e festival de música, artes, cinema e tecnologia South By Southwest, lançado em Austin, Texas, em 1987. Dois anos atrás, a Penske Media (proprietária da Billboard) assumiu participação majoritária na empresa, que agora realiza conferências em Austin; Sydney, Austrália; e agora no antigo distrito industrial de Shoreditch, no leste de Londres.
A discussão sobre o clima que mais impactou a indústria musical ocorreu na manhã de quarta-feira. Intitulada “O Futuro dos Eventos Sustentáveis ao Vivo”, a sessão foi moderada por Claire O’Neill, CEO e cofundadora da organização internacional sem fins lucrativos A Greener Future e cofundadora da Grid Faeries, especialista em energia verde.
Os participantes do painel incluíram Sam Booth, diretor de sustentabilidade da AEG Europa; Alex Bruford, fundador, diretor administrativo e agente da ATC Live, cujos clientes incluem The Lumineers e Fontaines DC; e Mark Stevenson, cofundador da CUR8, cuja missão é remover 1 bilhão de toneladas de carbono da atmosfera por ano.
Aqui estão cinco pontos-chave da discussão.
Siga os líderes
Artistas como Coldplay, Billie Eilish, Massive Attack e The 1975 estão na vanguarda dos esforços para reduzir o impacto climático de suas apresentações ao vivo, disseram os painelistas. O Coldplay relatou que as emissões de carbono — provenientes da produção dos shows, frete, viagens da banda e da equipe — nos dois primeiros anos de sua turnê “Music of the Spheres” foram 59% menores do que em sua turnê anterior em estádios (2016-2017), com números verificados pela Iniciativa de Soluções Ambientais do MIT. Eilish fez uma parceria com a REVERB para reduzir a pegada ambiental de sua turnê.
O show do Massive Attack em Bristol, cidade natal do grupo, no ano passado, estabeleceu um novo padrão de baixas emissões de carbono, sendo totalmente alimentado por bateria e vendendo apenas comida vegana, uma das várias iniciativas do grupo. Na O2 Arena de Londres, em fevereiro do ano passado, o The 1975 trabalhou com a A Greener Future, a CUR8 e a administradora do local, a AEG, para remover 545,9 toneladas de carbono da atmosfera durante suas quatro noites.
Foco no clima era necessário mais cedo
Apesar do volume quase diário de notícias terríveis sobre o estado do clima, quando se trata de como as práticas de turnê precisam mudar, “a maioria das pessoas na indústria da música não está focada nisso”, disse Bruford no ATC Live.
“Poucas pessoas estão tendo essa discussão.” E quando os artistas ou suas equipes perguntam como podem reduzir o impacto de carbono das turnês, eles o fazem “tarde demais”, disse O’Neill, do A Greener Future, quando a escala de produção já está definida e os shows já estão programados.
O triunfo derde do The 1975
Três dos painelistas — O’Neill, Stevenson, da CUR8, e Booth, da AEG — participaram da iniciativa inovadora do The 1975 no ano passado, não apenas para reduzir a pegada de carbono de seus shows ao vivo, mas também para remover o carbono da atmosfera durante os quatro shows da banda na O2 Arena.
“É incrível o que pode acontecer quando se aplica um custo ao carbono”, disse Booth, explicando como o The 1975 tomou decisões que afetaram tudo, desde os produtos disponíveis nos shows até a comida em suas concessões, com foco no impacto de carbono nos shows de fevereiro de 2024.
Uma pequena sobretaxa nos ingressos pagos compensava o custo das emissões de carbono das viagens dos fãs. Na época, a O2 anunciou que os shows se baseavam em “um portfólio de métodos de remoção de carbono para extrair fisicamente da atmosfera o carbono gerado pelos eventos e armazená-lo de forma duradoura, longe de perigos — um passo revolucionário no caminho para ajudar a indústria global de eventos ao vivo a atingir o verdadeiro zero líquido”.
Iniciando a conversa
Por mais que os artistas estejam preocupados com o futuro do clima, “Esses caras estão ocupados criando arte”, disse Booth, da AEG. Por esse motivo, sugeriu Bruford, da ATC, “É aí que a equipe [do artista] precisa se mobilizar. Acho que cabe aos empresários, aos agentes e à equipe de produção da turnê” levantar a questão da redução do impacto climático de uma turnê logo no início do processo de planejamento. “É nossa responsabilidade dizer ao artista: ‘Nós conseguimos!'”.
Ficar em casa não é uma opção
Apesar da enorme quantidade de energia necessária para transportar e realizar uma grande turnê de shows, os painelistas concordaram que o maior impacto climático da indústria da música ao vivo advém das próprias viagens dos fãs para os shows.
Para sua turnê de verão no Reino Unido, Eilish fez uma parceria com a Trainline para oferecer passagens de trem com desconto para os fãs que viajam para seus shows de trem. Para Stevenson, da CUR8, mesmo com seu empreendimento focado na remoção de carbono da atmosfera, abrir mão de viajar para shows “não é uma vida bem vivida em um planeta bem-amado”, disse ele.
[Esta lista foi traduzida da Billboard dos EUA. Leia a reportagem original aqui.]