Sucessos recentes, processos, leite e fake news: por onde anda Amado Batista
Nos últimos anos, cantor vem sendo notícia mais por polêmicas do que por música
Amado Batista lançou um álbum de inéditas em janeiro deste ano, “Perdoa”. Os números não chegam perto dos milhões de álbuns vendidos durante as decadas de 1970 e 1980, mas são ótimos: “Pode Chorar” tem mais de dois milhões de plays e muitas outras do disco ultrapassam os 100 mil ouvintes. Mas o artista, de 73 anos, tem sido retratado pela imprensa como uma celebridade e pelos assuntos que cercam uma: a pensão exigida pela ex-namorada de 23 anos, a morte de uma criança em sua fazenda em Goiânia, um processo em favor do filho do presidente da República por fake news, entre outros assuntos que o fazem figurar nos programas de fofoca vespertino da TV brasileira.
Com 49 anos de carreira, o cantor romântico disse, em entrevista a André Piunti, que sente saudades dos shows pelo Brasil inteiro. “Já cheguei a fazer cinco shows no mesmo dia, com banda. Hoje, eu só faço ‘dobras’ em São Paulo”, disse Amado, citando que praças como Rio Grande do Sul e Ceará eram fortes também durante o auge.
O quase meio-século de carreira resultou em mais de 38 milhões de discos vendidos e mais de 3 bilhões de visualizações nas plataformas digitais. Combinando seu lado autoral com melodias da Jovem Guarda e do sertanejo, se tornou proeminente nas rádios brasileiras a partir dos anos 1970.
Amado Batista, hoje
Atualmente, o cantor se divide entre novos hits, a fazenda (que segundo o filho do cantor, dizendo ao Estadão, pode valer entre R$350 e R$800 milhões) e se defender de acusações. Em julho deste ano, a colunista Fábia Oliveira, do site Metrópoles, descobriu que Amado Batista responde na Justiça pela morte de uma criança em uma propriedade do artista. O cantor foi processado por um casal de ex-caseiros de sua fazenda. Um dos filhos se afogou na piscina da fazenda de Amado, em Goianápolis, Região Metropolitana de Goiânia. Segundo eles, a piscina não tinha tela de proteção.
Segundo a defesa do cantor, a propriedade rural onde aconteceu o acidente conta com mais de 45 funcionários e ambos os pais da criança prestavam serviços no local quando tudo aconteceu. Na fazenda, além da piscina, existem várias represas, o que é comum em qualquer área rural. Portanto, o cantor não contribuiu para que o acidente acontecesse.
Outro processo que fez Amado figurar no noticiário foi o pedido de pensão de Layza Bittencourt, sua ex-namorada. Ela e o cantor viveram um relacionamento entre os anos de 2019 e 2023 e chegaram a morar juntos. No processo, Layza afirmou que Amado Batista possui uma fortuna estimada em R$ 800 milhões, enquanto ela, sem fonte de renda própria, não teria como se sustentar. A defesa de Amado Batista recorreu da decisão e a Justiça determinou que a pensão deve ser paga até que Layza conclua o curso de medicina veterinária, em um prazo de um a três anos, uma vez que ela iniciou o curso enquanto ainda namorava o cantor.
Em 2018, depois de declarar apoio a Jair Bolsonaro durante a corrida presidencial, Amado integrou uma comitiva de 30 artistas para endossar, junto ao então presidente eleito, a importância da música sertanejo para a cultura brasileira. Quatro anos depois, durante a disputa entre Bolsonaro e Lula, o cantor teve que pedir desculpas por “graves ofensas” e “afirmações equivocadas” contra Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do então pré-candidato petista. A retratação ocorreu em audiência, na semana passada, no 3°Juizado Especial Criminal de Recife. Lulinha acusava o cantor pelo crime de injúria, mas as partes entraram num acordo, encerrando o processo.
Em uma entrevista concedida em 2021, o cantor afirmou que Lula e seus filhos “roubaram pra caramba”. “Existem pessoas que eram pobres antes do comunismo aqui, antes da esquerda, e que estão milionários hoje”, disse o cantor, aludindo à família do ex-presidente. Ele também insinuou que Lulinha seria latifundiário. “É só ir pro Pará, lá pro Mato Grosso, para vocês verem. Ao vivo e a cores.”
O cantor também passou a ter seu nome em uma marca de leite que promete ter o frescor de suas fazendas e que, espontaneamente, se tornou objeto de piadas e memes na internet por causa do duplo sentido possível de se imaginar:
A carreira
Goiano, o cantor começou a cantar na roça, em Catalão, com enxada na mão, depois de ter se apaixonado pelo hit “O Calhambeque”, de Roberto Carlos. Depois de perder o pai, aos 14 anos, se mudou para a capital de Goiás com a Jovem Guarda na cabeça. Queria ser cantor —ou, no mínimo, trabalhar com música.
“Só rico tinha televisão naquele tempo. A gente ficava na calçada vendo a televisão dos outros. Olha como as coisas mudam. Fui acompanhando a carreira do Roberto e nunca imaginei que ia ser cantor. Mas não arrumava emprego nas lojas de discos”, conta. Foi aí que decidiu abrir uma loja de discos bem na rodoviária de Goiânia. “O que mais vendia era Roberto, Odair José”, relembra. Foi na loja que ele recebeu, de um amigo, o convite para compor uma canção. “Ele ia se lançar como artista e foi a primeira vez que escrevi uma música inteira”, disse também em entrevista ao canal do jornalista André Piunti, citando a música “É Sempre Assim”, que ele mesmo nunca gravou.
Seu primeiro sucesso foi “Desisto”, lançado após o fracasso do primeiro disco que, segundo Amado, “nem a família comprou”. O compacto de “Desisto” vendeu 100 mil cópias em 1976. Foi em 1982, com o álbum “Sol Vermelho” que veio seu primeiro milhão de cópias.
Desde então, tornou-se um dos maiores vendedores de discos da música popular brasileira, fazendo frente ao próprio ídolo Roberto Carlos. Em 1985, ele já fazia, em média, de 20 a 25 shows por mês. O cantor eternizou sucesso como “Folha Seca”, “Secretária”, “Casamento Forçado”, “Vem, Morena” e “Princesa”. “Folha Seca”, inclusive, foi regravada por Simone e Simaria porque a canção era a predileta da mãe Mara Mendes.
Atualmente, Amado produziu alguns hits que, se menos conhecidos nacionalmente, uma vez que as rádios perderam muito do espaço na programação que seria dedicado ao cancioneiro do artista, sobrevivem muito bem, obrigado, nas plataformas musicais.
“Perdoa”, seu álbum mais recente”, viu “Pode Chorar” chegar a 2 milhões de plays.