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Como Manu Gavassi criou o ‘jeito Manu’, desejado por fãs e, principalmente, marcas

Como Manu Gavassi criou o ‘jeito Manu’, desejado por fãs e, principalmente, marcas

Ela dirige, roteiriza, faz publi, engana psicólogos e critica sua geração

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Manu Gavassi gosta de falar, falar, falar e falar. Entrevistar a popstar paulistana é se deparar com uma combinação de discurso ensaiado e frases confessionais que parecem saídas de uma sessão de terapia.

“Sim, já fiz algumas”, diz ela, de modo despretensioso. Mas, nesse caso, a resposta é muito mais uma explicação treinada do que uma confissão. Filha de psicóloga e adepta do divã desde os cinco anos, ela raramente dispara algo que fuja da sua zona de conforto. O controle também se faz presente nas manifestações artísticas da cantora e compositora de 30 anos. Manu assina a direção dos próprios videoclipes, burila conteúdos para o mercado publicitário e está construindo um estúdio, o Gracinha, onde dará vazão às criações de sua própria lavra e às de terceiros.

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“Eu tenho alimentado todas essas frentes de uma maneira que me agrada. Estou me realizando”, diz.

A segurança adquirida em 14 anos de carreira também lhe permitiu se arriscar em atos mais ousados. No ano passado, se desafiou a reproduzir, de modo acústico, “Fruto Proibido”, LP que Rita Lee lançou em 1975, considerado um clássico do rock nacional. “Eu e Rita temos algumas semelhanças. Somos paulistanas, capricornianas e hoje tenho a mesma
idade que ela tinha ao lançar esse álbum”, dispara a cantora, durante a sessão de gravação do projeto.

“Manu é um pouco exagerada. Como eu”, entrega Zé Luiz Francisco, pai da cantora. Que também gosta de falar, falar, falar e falar. Apresentador do programa “Do Balacobaco 2.Zé”, transmitido pela 89FM de São Paulo, ele não se contém ao exaltar as qualidades artísticas de sua pimpolha, que desde os seis anos flerta com o universo do showbiz. “Era um vulcão desde pequenininha.” E bota vulcão nisso.

A menina teve a petulância (no bom sentido) de fazer a seleção de elenco para uma apresentação que aconteceria no colégio onde ela estudava. Zé conta que sempre estimulou a busca de Manu e da irmã mais nova, Catarina, por conhecimento. Deu certo em ambos os casos. Catarina é estudante e instagrammer de moda. “Tudo o que elas traziam a gente devolvia com respeito”, diz.

O radialista criou um efetivo esquema de troca de informações com as filhas: para cada RBD, Jonas Brothers, Hannah Montana e S Club 7 que elas traziam, ele respondia com Beatles, Guilherme Arantes e Rita Lee. A filha mais velha de Zé Luiz tinha 15 anos quando deu seus primeiros passos na carreira
artística. Filmada pelo pai, ela cantou “Fearless”, de Taylor Swift, e viu a cover explodir no site da revista “Capricho”. Dali surgiu a ponte entre ela e o versátil produtor Rick Bonadio, cujo escopo ia dos roqueiros emo do CPM22 e do NXZero ao rebolativo quinteto feminino Rouge.

Desde o início, Manu se diferenciou por compor o próprio material e por enveredar pelo pop, algo que poucos artistas da sua geração estavam fazendo naquele período. Além disso, ao lado da também cantora e compositora Mallu Magalhães, foi pioneira no uso das plataformas de conteúdo como veículo de divulgação –no caso de Manu, o YouTube. “Hoje em dia é fácil julgar. Mas não existia um cenário pop no Brasil depois de Sandy & Junior”, justifica. “Era eu, de saia de tule, e um monte de banda de rock.”

Cinco anos foram mais do que suficientes para que ela desejasse fazer as coisas do seu jeito. Manu foi à luta: nos bastidores de um programa de TV, abordou Junior Lima e pediu a ele que a produzisse. O resultado foi “Vício”, um EP com influências do pop eletrônico, que apre sentou ao público uma Manu com mais controle do seu processo artístico. “É o trabalho que mais se aproxima de quem eu sou.” “Manu”, de 2017, é um disco fundamental na carreira da cantora. Menos por suas qualidades artísticas e mais por deixar claro o que não queria para o seu trabalho.

Em busca de sucesso fácil, ela caiu nas armadilhas do mercado. Soltou um disco que mais se parecia com um projeto publicitário do que com uma compilação de canções. Foi nessa hora que surgiu o músico e produtor Lucas Silveira, da Fresno. “A gente se juntou durante as gravações de vídeos que ela fazia para o YouTube”, diz Lucas referindo-se ao conteúdo de “Garota Errada”, uma web série roteirizada e estrelada por Manu. “Artistas como ela deixam as gravadoras nervosas, porque fazem os executivos correr riscos.”

Em 2020, Manu colhia os frutos de “Garota Errada” quando recebeu o convite para participar do “Big Brother”Brasil”, da Globo. O primeiro impulso foi dizer não. Ela mudou de ideia depois que o empresário Felipe Simas, com quem trabalhava desde 2016, a fez perceber que estaria cometendo o maior erro de sua carreira. “Eu disse: ‘Você acabou de falar não para a oportunidade de levar o Brasil inteiro para tomar café da manhã contigo”, disse Felipe à cantora.

Manu então engendrou uma estratégia inovadora. Ela incluiu conteúdos pré-gravados para as redes sociais alinhados com looks para cada aparição na TV. O fator Manu, nesse caso, também foi fundamental. A cantora conquistou a simpatia do público e das marcas por conta de sua naturalidade e espontâneas ações de marketing. Foi da dança do tamborzinho, que chamou a atenção da cantora Dua Lipa, ao uso da palavra “sororidade” –que aumentou em 250% a procura pelo termo no Google, após um lacre no participante Felipe Prior.

Embora tenha ficado na terceira colocação, estima-se que seu faturamento tenha superado o da campeã Thelma Assis. Só para descolorir o cabelo para uma marca de cosméticos, Manu embolsou R$ 500 mil. Posteriormente, a cantora assinou contrato de publicidade com um banco, uma marca de celular, uma marca de bebidas e uma marca de calçados.

Manu não apenas protagoniza esses comerciais como também roteiriza os seus conteúdos. “Nunca fui refém das marcas, me dei bem sendo quem eu sou.” Foi esse jeito que reverteu as muitas portas na cara que ela e seu agente vinham levando. E, como em tudo que acontece na sua carreira, a cantora não se contentou em somente cuidar da parte artística. “Ela criava as campanhas de acordo com os objetivos das marcas, se importava com o resultado, pedia relatórios. Manu veste a camisa”, diz Mariana Madjaroff, diretora comercial da agência F/SIMAS.

A música “Deve Ser Horrível Dormir Sem Mim”, lançada naquele mesmo 2020, saiu logo depois do “BBB”. Parceria com Lucas Silveira, traz dueto com Gloria Groove, com clipe dirigido pela própria cantora. Uma curiosidade: Manu assumiu o cargo depois que o diretor escalado simplesmente não apareceu para trabalhar. Aparentemente, ele não fez falta: somados, vídeo e música foram assistidos e escutados mais de 100 milhões de vezes.

A audiência é sempre bem-vinda, embora chegue com alguns embates. “A gente bate muito a cabeça. Às vezes, a Manu está pensando na propaganda, no filme, na série, mas cabe a mim lembrá-la da parte que nos cabe, que é a musical”, diz Lucas. Manu, diga-se, não se acomodou nesse quesito. “Gracinha”, de 2021, é seu lançamento mais ambicioso. Com um clipe para cada faixa, tem participações do pianista Amaro Freitas e do músico Tim Bernardes, destaques do jazz e do cenário alternativo brasileiro. Gracinha, não por acaso, foi o nome escolhido para batizar o seu estúdio, construído em parceria com Felipe Simas. É por meio dele que a cantora pretende viabilizar seus projetos audiovisuais, negados pelas plataformas de streaming.

“Só agora estou exercendo as duas profissões por igual. Sou uma atriz e uma cantora/compositora. As oportunidades não caem do céu para mim.” Atualmente, ela toca quatro projetos audiovisuais. Neles, Manu assina como roteirista, atriz e executiva.

De fato, Manu fala, fala, fala, fala. Mas também faz, faz, faz, faz.

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