Luciana Chama, aquela que tem de fazer o show continuar
Profissional paulistana coordena turnês de grandes nomes da música


É uma situação até que corriqueira: o ser humano é impactado de tal maneira por uma manifestação artística que decide seguir o agito do showbiz. No caso da paulistana Luciana Chama, 45 anos, o clique se deu quando ela foi assistir a uma apresentação de jazz no Bourbon Street, tradicional casa de shows de São Paulo. Encantou-se de tal maneira que largou de vez a faculdade de direito para atuar na produção de shows –e se tornar referência do mercado.
Luciana é o que chamam de tour manager, profissional que cuida de cada detalhe de uma turnê para que ela aconteça sem maiores problemas. É uma profissão sem descanso nem rotina. Se em uma semana recebe uma sensação do kpop, em outra recepciona uma banda de cabeludos do terreno do heavy metal. “Criamos um mercado, porque, às vezes, essas funções acabavam destinadas a profissionais que não tinham intimidade com a música”, diz. O tour manager decide detalhes que vão de cuidar da chegada do popstar ao país, o hotel onde ele vai se hospedar, a alimentação e a logística para conduzi-lo para a casa de shows ou o estádio onde vai tocar.
A menina que amou aquela noite no Bourbon Street passou a trabalhar na casa, no início dos anos 2000. Até que, influenciada pelo amigo e músico John Pizzarelli, em 2007, ela migrou para os Estados Unidos para estudar Music Business em Los Angeles. Passou por muitos perrengues, até conseguir um estágio na poderosa Live Nation. Voltou ao Brasil em 2011, contratada pela Mondo Entretenimento, com a missão de assumir a turnê de ninguém menos do que Amy Winehouse (1983-2011), que teve acontecimentos curiosos. Como quando foi surpreendida por um fotógrafo no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, que desejava tirar uma foto de Amy para uma espécie de “Hall da Fama” local. “Saí dando bronca e fui salva pela Fabiana Lian, outra produtora, que mostrou para o sujeito que não seria legal tirar uma foto dela amarfanhada da viagem”, diz Luciana.
O produtor de Amy, contudo, foi extremamente exigente e, em algumas situações, deu até bronca na tour manager, que conta ter sido essa uma passagem tensa. Porém, na terceira vez em que ele visitou o país –com outro artista, claro– elogiou a profissional, selando uma relação de confiança.
Luciana conta com equipes que podem ir de duas a 60 pessoas. Tudo tem de estar como o contrato do astro exige. Mas há momentos de muito prazer. Por exemplo, quando Robert Plant veio ao Brasil, em 2012, fez sua equipe parar num restaurante de beira de estrada e se fartou de comida portuguesa. “Ele ficou perguntando da minha família, é um sujeito despido de afetação.” Outra vez, ela viu músicos e técnicos de som do cantor inglês Morrissey, vegetariano raiz, aproveitarem uma soneca do sujeito para fazer um pit stop numa churrascaria carioca. E os moços do metal? “As mulheres que decidem. As dos integrantes do Iron Maiden estão sempre interessadas nos melhores salões de beleza.”
Em 2020, durante a pandemia, Luciana se mudou para o vilarejo do Cumbuco, próximo de Fortaleza. Ali, dedica-se à prática de esportes radicais. É lá também que descansa e se prepara para cada uma das turnês que abraça. Mas a verve empreendedora começa a falar mais alto. “Quero investir na produção de shows e festivais”, confessa. Porém, antes de transformar a cara do showbiz nordestino, outro desafio a espera. “Vou fazer Mariah Carey e sei de antemão que precisamos entregar o mesmo carinho e cuidado também para seus cachorrinhos de estimação.”