Assista: Kendrick Lamar exorciza pesadelos, Drake e Donald Trump no Super Bowl
Apresentação do rapper foi muito além do esperado 'funeral' de Drake


Kendrick Lamar subiu ao palco do Super Bowl nesta noite de domingo (9) para cantar a premiada “Not Like Us” e precisou de pouco mais de sete minutos para fechar com chave de ouro a contenda que iniciou com Drake em 2024 —e monopolizou discussões no hip hop, desde então.
A apresentação contou com a cantora SZA e também foi marcada pela presença do presidente Donald Trump que ouviu um dos melhores rappers da história repassar algumas histórias e pesadelos que o novo governo pretende dizer que “não foi bem assim”. De quebra, Kendrick ainda levou Serena Williams —ex do desafeto— para um “crip walk” no momento histórico do rap.
Assista:
Kendrick Lamar’s full #SuperBowlLIX Halftime Show (2025)
pic.twitter.com/lgLZwqSGfX— Complex Music (@ComplexMusic) February 10, 2025
Para azar daqueles que não querem ver essa história sendo cantada e contada, o show começou logo com Samuel L. Jackson como um Tio Sam, apresentador de um espetáculo que revisitaria alguns dos pesadelos que assolam os Estados Unidos: a luta negra contra o racismo, a volta de Donald Trump à presidência e, claro, o poderio do artista que chega ao ponto de ser considerado um dos grandes da história. O ator apareceria outras vezes, como uma representação de uma suposta “consciência” que cobrava de Kendrick uma performance mais moderada para o público do Super Bowl: “‘Pancadã0, irresponsável, favelado. Sr. Lamar, você sabe mesmo como jogar esse jogo?”, provocou Samuel.
Além disso, somava-se à apresentação a disputa recente entre Kendrick e Drake —que culminou em “not like us”, música que centralizou discussões que foram desde a simples disputa à relação entre Estados Unidos e Canadá. Como se não bastasse, o anúncio da perfomance em Nova Orleans —casa do popularíssimo rapper Lil’ Wayne—rachou o hip hop e colocou Nicki Minaj e Jay-Z em colisão.
“Not Like Us” e a “questão Drake”
“Eu quero mandar aquela que eles curtem, mas eles também amam processar”, disse o rapper em alusão ao processo que seu oponente canadense moveu por difamação contra a Universal Music.
“I want to perform their favorite song, but you know they love to sue” 👀
-Kendrick Lamarpic.twitter.com/XGFUzgwkgP
— HotNewHipHop (@HotNewHipHop) February 10, 2025
Nessa toada, o rapper embalou “Euphoria”, canção que continuou os trabalhos contra Drake iniciados nos versos de “Like That”. A faixa só não encontrou “Not Like Us”, sua continuação mais famosa e premiada, porque o show ainda contava com a já clássica “HUMBLE” e participação da cantora e compositora SZA —a dupla possui sete colaborações espalhadas pelas carreiras.
O suspense guardou um dos momentos mais esperados da noite que, para muitos, era visto como uma espécie de funeral de Drake: a frase “Say Drake, I hear you like em’ young”, que denuncia o canadense como alvo de especulações, acusações e críticas por suas interações com jovens mulheres —incluindo atrizes menores de idade, como Millie Bobby Brown, Billie Eilish e outras celebridades mais novas, o que gerou controvérsias na mídia e entre fãs.
Também era óbvio que todo o estádio gritaria “A minor”, um dos momentos mais importantes da lírica do duelo: o acorde “lá menor”, muito comum na música pop, aqui também é uma forma de chamar o rival de pedófilo —Lamar usou, por todo show, um cordão com o pingente que continha uma letra “a” minúscula.
KENDRICK SMILING AT THE CAMERA WHILE SAYING “SAY DRAKE, I HEAR YOU LIKE EM YOUNG”??!!! pic.twitter.com/2RCvf2UGiz
— cassidy ★ (@snlsmulaney) February 10, 2025
Game Over
A importância desse contexto todo fez com que a apresentação também soasse insossa para espectadores que veem no intervalo do Super Bowl um grande momento para experimentações cenográficas. Foi possível reparar comentários que chamavam o rapper de superestimado ou viram a apresentação como qualquer coisa.
Talvez, esses possam ter sido influenciados pela apatia do jogo que foi interrompido pelo show: o placar estava 24 a 0, e os torcedores não estavam curtindo muito aquilo ali. O favorito Kansas City Chiefs foi dominado pelo Philadelphia Eagles.
Basta uma olhada no setlist do show para comprovar que tudo ali veio de um personagem cujo o protagonismo no rap é valorado por aquilo que o mais gênero preza: quem sabe escrever remando contra a corrente.
“HUMBLE”, por exemplo, é uma canção anti-ego e, portanto, contra toda uma estrutura valiosa do mercado cultural norte-americano; “DNA” destrincha a herança negra, entre conquistas e maldições e “All The Stars” medita um futuro melhor pela perspectiva negra.
Não parece entediante apresentar tudo isso no meio do jogo de um esporte que mais cresce em público no mundo —um dos maiores commodities culturais dos EUA. Fora que, no meio disso tudo, ainda tinha a “questão Drake”. Luzes na platéia e o tuíte de JPEGMAFIA resumiram o jogo: “game over”
Ao todo, foram 10 canções (ainda que quase todas em versões reduzidas): “squabble up”, “HUMBLE”, “DNA”, “euphoria”, “man at the garden”, “peekaboo”, “luther” (com SZA), “All the Stars” (com SZA), “Not Like Us” e “tv off”.
Com requinte de crueldade, “Not Like Us” contou com a coerografia de Serena Williams —a multi-campeã tenista se relacionou com Drake entre 2011 e 2015.
Serena Williams during Kendrick Lamar’s #SuperBowl halftime show. pic.twitter.com/BEX41hDCXR
— Film Updates (@FilmUpdates) February 10, 2025
