MC Taya: a roqueira do metal mandrake que tenta fazer história com fock
Cantora e compositora mistura rock e funk com um toque de rap em seus projetos


Representar as mulheres pretas no rock é o desejo de MC Taya. A cantora de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, faz sucesso com o seu metal mandrake –também conhecido como fock, um gênero mistura rock e funk com uma pitada de rap.
No próximo sábado (5), a compositora e comunicadora se apresenta no festival Plano de Menina, que acontece no Memorial da América Latina, em São Paulo.
Dona de letras potentes que falam de empoderamento feminino e racismo, ela retrata as vivências das mulheres em sociedade. “A gente perdeu Rita Lee, Elza Soares. Estamos perdendo todas as nossas grandes heroínas rebeldes”, explica a MC em entrevista para a Billboard Brasil.
“A última grande pessoa que vimos amedrontar o status quo foi Pabllo Vittar. Vimos os cidadãos de bem falarem: ‘O que está acontecendo no Brasil?’. Quero ser essa mulher na mídia.”
Do rap ao fock
Tatiane Pereira de Oliveira Gomes sentiu a primeira conexão com a música aos 12 anos, influenciada pelo pai e a irmã. Ainda na adolescência, começou a estudar música com ajuda da avó e aprendeu a tocar baixo.
Até seus 18 anos passou por diversas bandas, mas deixou o sonho de viver da música de lado devido ao preconceito.“[Na época] Resolvi parar e falei: ‘Nunca mais eu quero saber de música, já passei tudo que eu tinha que passar.’ Eu me deslumbrava em ser uma artista de rock e, conforme eu fui crescendo, caí na minha consciência de que eu era uma mulher preta e que aquilo não era para mim”, relembrou.
“Se eu pensava isso na década de 2010, a gente chegou em 2024 e ainda não tem uma mulher negra no rock.”
MC Taya quer ser um reflexo para outras mulheres no gênero, justamente por não ter representatividade quando crescia.“Na minha adolescência, a grande mulher no rock eram Amy Lee, do Evanescence, e Avril Lavigne. Mulheres brancas, de olhos claros. A Pitty é uma mulher branca de olho verde. Então, eu não me via no rock. Eu não me achava bonita no rock.”

Entre suas referências estão Korn, Slipknot, Pitty, além de Sister Rosetta Tharpe, Nicki Minaj e Lil’ Kim. “O rock da quebrada era a galera que não tinha dinheiro e fazia show em garagem. As festas eram em lugares insalubres. Era bem underground mesmo.”
Durante a pausa musical, ela se dedicou à moda, estudando artes cênicas e indumentária na UFRJ. Após concluir o curso, se especializou na área e começou a se dedicar ao marketing e à publicidade.
Assim como as rappers Tasha e Tracie, em 2015, MC Taya também falava sobre moda e estética negra na internet, em seu canal do YouTube.
Foi trabalhando no mundo fashion como figurinista de nomes como IZA e Dream Team do Passinho, que o desejo de voltar a trabalhar com música renasceu.
Com o incentivo de Preta Gil, a cantora voltou a escrever e produzir canções. Em 2019, antes do fock, ela transitava entre o rap e o trap.
Nessa mesclam lançou o primeiro single solo, “Preta Patricia”. O resultado foi um viral na época e se tornou uma espécie de hino do movimento afropaty.
Na mesma época, nomes como Ajuliacosta, Duquesa e MC Luanna e Mac Júlia, também começaram a lançar seus primeiros trabalhos e movimentar a cena. Foi nesse período que Taya começou a pensar em trazer o rock novamente para sua arte.
“Eu pensei: ‘Cara, as meninas estão arrasando [no rap e trap], mas o rock tá muito parado. Precisava de uma mulher preta no rock e percebi que eu precisava ser essa pessoa”, diz Taya.
Durante os anos de pandemia, ela buscou maneiras de acrescentar uma sonoridade mais agressiva nos lançamentos. Nomes como rapper norte-americana Rico Nasty a inspiram nesse movimento.
Aos poucos, MC Taya dava indícios de como seria sua nova era. Em 2022, durante sua apresentação no VME, ela apresentou uma versão roqueira de “Preta Patricia” e usou samples de bandas, como System of a Down, no seu EP “Betty”, inspirado na personagem Betty Boop.
Mas a virada de chave em novembro de 2023, quando ela lançou a música “Bitch Eu Sou Incrível” e apresentou seu novo alter-ego, a Búfalo Taya.
Para coroar esse momento, a cantora irá liberar em novembro o EP “Histeria Agressiva 100% Neurótica”, um projeto de metal mandrake, que segundo Taya será uma ‘convocação’.
“Ele vai falar sobre a raiva da mulher negra, as letras falam de ódio. [O EP] Ele é uma convocação às mulheres e à rebeldia. “