O pai do rock é uma mãe –e temos provas! Conheça a Irmã Rosetta Tharpe
A rebelde devota a Deus que, com sua guitarra, mudou os rumos da música
A história da música popular conta, envergonhada, que as mulheres foram cuidadosamente marginalizadas e contidas em papéis específicos. Não foi diferente com uma artista rebelde, cuja fé e devoção no louvor a Deus transbordou para a música: trata-se de Rosetta Tharpe (1915-1973), ou Irmã Rosetta Tharpe, como é chamada.
A cantora e guitarrista é a mãe do rock’n’roll –embora muita gente ainda acredite que a origem do gênero é responsabilidade de um homem. Um teste de DNA musical poderia facilmente comprovar o que Elvis Presley e Chuck Berry já sabiam e diziam: Rosetta, com sua guitarra cheia de distorções e suas performances enérgicas, inspirou todos os grandes nomes do rock que vieram depois dela.
Então por que não fazer um teste de DNA musical? A Billboard Brasil, em parceria com a Almap BBDO vai resolver essa questão.
Quando Elvis Presley atestou que o rock, basicamente, “era gospel e rhythm and blues”, fez também a frase chegar a Rosetta Atikins Tharpe Morrison, que disparou: “Esses jovens e esse rock’n’roll são só um gospel acelerado. E eu venho fazendo isso
desde sempre!”.
Nascida no Arkansas, no sul dos Estados Unidos, em 1915, numa família que se dedicava à colheita do algodão, Rosetta cresceu voltada à música de louvor com influências pentecostais e afro-americanas. Aos seis anos, viu sua família se mudar para Chicago e se batizar na Church of God in Christ, onde se fixou.
Foi nas igrejas pentecostais que a música gospel se desenvolveu nos Estados Unidos, principalmente nas comunidades negras, espalhando, no entanto, o fervor musical também entre as pessoas brancas, contagiadas pela paixão e pelo fervor das congregações. O marido de Rosetta, Thomas Tharpe, usava-a como chamariz musical: ela cantava e tocava linda e puramente, encantando os fiéis, que doavam dinheiro para a igreja.
Mais preocupada em espalhar a palavra do Supremo, Irmã Rosetta não viu sua influência se espalhar pelo delta do Mississipi. Nem imaginou que, pouco tempo mais tarde, suas apresentações enérgicas fariam uma revolução na cabeça de meninos brancos que a ouviam pelo rádio ou se sentavam nos últimos bancos da igreja para estar próximos daquele ritmo divino e, ao mesmo tempo, de malemolência libidinosa.
Foi no Mississipi que Elvis e seus amigos começaram a frequentar igrejas. “O que a gente via acontecendo era aquela música gospel com um sentimento ímpar”, disse o DJ George Klein, em entrevista à BBC. “Aquela música colocava a alma e a verdade para fora. Elvis, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis, Carl Perkins e Buddy Holly viam aquilo e adaptavam para o que viria a se tornar o rock.”
Mãe do rock
Rosetta sabia que, ao se afastar do delta do Mississipi e também de seu casamento, estaria ganhando uma liberdade desafiadora. O relacionamento com o marido começou a ruir. Viu-se nas mãos de um homem abusivo e controlador. Após atrair atenção nos cultos com sua guitarra e sua performance enérgica, decidiu, em 1938, deixar tudo para trás.
Quando chegou a Nova York, enfiou-se em pubs e pequenas boates para entoar canções que se fundiam em blues, cantos criados por escravos e alguma coisa que ainda não tinha nome, mas que iria virar fenômeno nas guitarras e nos maneirismos de Elvis Presley. Depois, cativou audiências em clubes de prestígio, como Cotton Club, Apollo Theater ou Café Society of New York.
Com total controle da própria vida, Rosetta não se dobrou à indústria da música e não aceitou ser tratada com hostilidade racista. Suas performances ganharam popularidade e, ainda em 1938, fez sua primeira canção para a Decca, gravadora atenta àquele novo movimento musical. Após uma breve passagem com Cab Calloway como cantora e guitarrista, ela se juntou à banda de Lucky Millinder, em 1941, para se apresentar no Savoy Ballroom. E virou um hit instantâneo, mas não unânime: por algum tempo, foi perseguida por pastores do Harlem por colocar muito movimento, assim como emoção, em seu canto.
“Coisas estranhas estão acontecendo todos os dias”, cantava Rosetta em “Strange Things Happening Every Day”, como que biografando tudo aquilo que estava vivendo.
Quando Irmã Rosetta Tharpe cantou “Take My Hand, Precious Lord” para uma plateia em Copenhague em 1970, ela tinha 55 anos e logo sofreria o derrame que precedeu sua morte, três anos depois. O funeral da artista que lotava casas de show nos EUA atraiu gente suficiente apenas para encher metade de uma igreja.
Em 2018, foi introduzida no Rock’n’Roll Hall of Fame, tendo pelo menos em parte,o reconhecimento que merece.
DNA e homenagem
A Billboard Brasil preparou uma homenagem à musicista, ainda tão pouco conhecida do grande público. Um algoritmo que realiza uma espécie de teste de DNA em músicas diversas, mostrando quanto a Irmã Rosetta tem influência em tantas canções –sejam elas de sua época ou contemporâneas. A idealização e a criação do algoritmo é da agência Almap BBDO.
Ao reconhecer a música, o aplicativo diz a porcentagem de inspiração nas composições da artista com base em elementos que ela criou ou popularizou.
O trabalho levou meses de desenvolvimento e contou com a dedicação de um time grande. O primeiro passo foi pesquisar a história de Rosetta, a fim de entender qual foi seu papel na criação do rock. A biógrafa Gayle Wald, autora de “Shout, Sister, Shout!: The Untold Story of Rock-and-Roll Trailblazer Sister Rosetta Tharpe” também foi ouvida. Depois, foi preciso dissecar suas músicas para selecionar parâmetros, como distorção de guitarra, gênero musical e estilo vocal entre outros.
Basta entrar em rockdna.app e testar a música de sua preferência. Nós dissemos que o rock tinha uma mãe. Agora está mais do
que provado.