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Billboard Over 30: veja a lista completa

Billboard Over 30: veja a lista completa

Capa desta edição é representada pela cantora Urias

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jup

Já está no ar a segunda edição do Billboard Brasil Over 30, lista que contempla 30 pessoas trans relevantes que conseguiram passar dos 30 anos de idade. A capa desta edição é representada pela cantora Urias.

“Este é o segundo ano do projeto Billboard Over 30, e não pretendemos parar. Queremos não apenas reconhecer talentos trans e travestis que brilham em suas áreas, mas também celebrar suas trajetórias de superação e resistência. Essa edição é um marco de representatividade e inclusão no mercado, refletindo nosso compromisso com uma indústria musical mais diversa e justa”, diz Camila Zana, CMO da Billboard Brasil.

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Confira a lista completa da segunda edição do Billboard Brasil Over 30:

alexandreAlexandre Peixe

Alexandre, 52 anos, é o primeiro homem transexual brasileiro a tazer uma cirurgia de redesignaçao de genero totalmente financiada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foi, também, o primeiro homem trans a presidir a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOLGBT), além de membro do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat) e militante pela melhoria do processo transexualizador do SUS. Aos 19 anos,
quando entendia-se como uma lésbica masculinizada, sofreu um estupro coletivo e corretivo. Engravidou e decidiu manter a gestação, por questões pessoais. Sua filha, Bruna, inspirou-o a persistir na luta pela garantia dos direitos das pessoas trans. Alexandre projetou o movimento transmasculine dentro da comunidade LGBTQIA+ e para além dela. Também criou a irmã mais jovem -Celina o considera pai. É avô de Mariana. “Acho que a sociedade ainda não percebeu que nós, homens trans, somos os homens do futuro. Somos pessoas que não queremos praticar o machismo”, diz.

auaAuá Mendes

Em 2024, fez sua primeira exposição individual, “Sesá Ixé: Olhar Eu”, no Centro da Ação Educativa, na capital paulista. Mas, nos últimos, 10 anos a ilustradura nascida em Manaus (AM) expôs suas obras em grandes fachadas de edifícios em cidades como a capital amazonense, Belém (PA) e São Paulo (SP). Auá Mendes é indígena do povo Mura e foi criada entre ribeirinhos um contexto que chama de “meio-termo entre aldeia e cidade”, no Amazonas, e formou-se em design. Hoje, é mestranda na Universidade Federal do Amazonas (LIFAM) e usa seu trabalho -muitas vezes produzido sobre andaimes a mais de 30 metros do solo- como ferramenta política em defesa de corpos marginalizados, especialmente pretos, indígenas e trans, como o seu, em suas obras. Destaca-se o uso constante do azul, ao mesmo tempo escuro e vibrante. Seu trabalho também questiona a ausência dos povos indigenas das artes sobre sue cultura.

bennyBenny Briolly

Foi a primeira pessoa trans eleita vereadora do município de Niterói (RJ), em 2020. No pleito, foi a quinta mais votada da cidade. Mas o pioneirismo trouxe consequências graves: em seu primeiro ano de mandato, recebeu pelo menos 20 ameaças. Por isso, teve de deixar o Brasil por algumas semanas, até ser incluída no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do governo brasileiro e sentir-se segura para voltar e retamar seu trabalho. Além das ameaças externas, a vereadora também sofreu ataques de colegas parlamentares, especialmente transfobia, violência política de gênero e racismo religioso. Também em 2021 travou uma luta para que ela e todas as trabalhadoras travestis e transexuais da Câmara dos Vereadores fossem tratadas no feminino – a vitória veio com uma resolução publicada pela Casa afirmando que quem desrespeitaese o nome social de uma pessoa trans sofreria sansções. Nas eleições municipais de 2024, Benny Brioli foi reeleita vereadora e deve seguir no cargo ao menos até 2028.

betaBeta Boechat

Aos 35 anos, a publicitária e ativista tem no currículo 15 anos de experiência no mercado de marketing de influência e comanda o Movimento Corpo Livre, que começou como um perfil no Instagram e cresceu até se tornar uma empresa que já prestou consultoria em inclusão e diversidade para grandes marcas. Em entrevista ao “Meio & Mensagem”, Beta, que cresceu no subúrbio do Rio de Janeiro (RJ), conta que sempre se sentu diterente; nunca se encaixou no grupo dos homens nem no grupo das mulheres. Depois de enfrentar uma depressão profunda em 2016 buscou ajuda e encontrou na internet uma ferramenta importante para sua recuperação; aquela altura, começou a criar conteúdo e dividir seu processo de autoconhecimento. Nas redes sociais, conheceu o movimento body positive, que já existia fora do Brasil para incentivar pessoas a aceitarem seus corpos, especialmente aqueles considerados fora do padrão. Então, Beta uniu-se a Caio Cal e Alexandra Gurgel para fundar a versão brasileira, Movimento Corpo Livre. O trio abriu a conta no Instagram em 2017; hoje, o perfil já ultrapassa meio milhão de seguidores.

brunoBruno da Silva Santana

Primeiro estudante trans a se formar na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na qual concluiu o curso de Educação Física, é professor, pesquisador, escritor, poeta, instrumentista, palestrante e ativista nos coletivos Transbatukada e Manifesta. Atuou como assessor parlamentar na construção de políticas públicas para a população LBTQIA+ na cidade de Salvador (BA). É autor de “Amar Devagarinho (Padê); “Pensando as Trans-masculinidades Negras”, no livro “Diálogos Contemporâneos sobre
Homens Negros e Masculinidades” (Ciclo Contínuo Editorial); e um dos organizadores de “Transmasculinidades Negras: Narrativas Plurais em Primeira Pessoa” (Ciclo Contínuo Editorial). Também é idealizador do projeto “Transencruzilhadas da Memória”, arquivo dedicado à preservação e visibilidade da memória transmasculina negra brasileira. E especialista em gênero, diversidade e direitos humanos pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Umbandista, também traz a religião como forma de manifestação e de educar. Tem 34 anos.

carolCarolina Iara

Aos 12 anos, Carolina Iara de Oliveira, nascida na Fazenda da Juta, zona leste de São Paulo, já havia passado por ao menos três cirurgias de redesignação de gênero. Nascida intersexo em 1992, quando havia pouca informação sobre o assunto, Foi submetida aos procedimentos para adequar seu corpo ao sexo biológico mascuilino. As recuperações eram lentas, muito doloridas e Carolina ouvia dos médicos que estava passando por aqui para “virar homem”. Por isso costuma dizer que sua trajetória política começou no dia em que nasceu. Na adolescência, contou sua história a algumas amigas travestis, que sugeriram que ela pesquisasse sobre interssexualidade – assim, descobriu que fazia parte da letra l da sigla LGBTQIA+. Foi servidora pública na saúde e assessora parlamentar até se tornar a primeira covereadora intersexo eleita no país, assumindo o cargo em um mandato coletivo: a Bancada Feminista, do PSOL. Atualmente, é codeputada estadual e atua em defesa da população LGBTQIA+ na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, especialmente em defesa da população que vive com HIV, como ela.

danielaDaniela Andrade

A infância de Daniela em São Miguel Paulista, na periferia de São Paulo, foi invadida por episódios de violência e discriminação. Já na adolescência, entendeu-se como uma mulher trans. Desde então, luta pelo sonho de ver outras pessoas como ela escolherem onde estar, o que fazer e que profissão exercer. É uma das criadoras da Transempregos, a maior plataforma de divulgação de oportunidades de trabalho para a população trans e travesti do Brasil. Também coordenou a Transerviços, em parceria com a ThoughtWorks. Daniela é uma das ativistas mais importantes de sua geração para a população trans no Brasil. Aos 45 anos, coleciona e compartilha saberes. É advogada e também tem formação em Letras e em Tecnologia da Informação, com pós-graduação em Engenharia de Software. Atuou no Grupo dos Advogados pela Diversidade Sexual e de Gênero (GADVS). Vive em Québec, no Canadá. “É preciso ousar ser visível. Mais que isso, não podemos deixar de comemorar cada pequena vitória da nossa comunidade, conquistada sobre tanto sangue e lágrimas”, diz.

danteDante Preto

Criado em Guaianases, São Paulo, brincava na rua e gostava de todos os jogos -futsal e futebol eram seus preferidos. Com a chegada da adolescência, foi “compulsoriamente afastado” dos esportes, lembra, em entrevista à Billboard Brasil. Isso porque seu coroo foi mudando e ele não queria jogar no time das meninas, por medo de sofrer violências. Hoje, aos 33 anos, é ator e tem no currículo trabalhos como “Manhãs de Setembro” e “Cidade by Moto-boy”, que lhe rendeu um prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival Guarnicê de Cinema. Dante dedica boa parte de seu tempo também à prática esportiva. Há pouco mais de dois anos, voltou a jogar futebol, desta vez no Instituto Meninos Bons de Bola, que usa a atividade como ferramenta de inclusão para travestis e pessoas trans. Em 2022, fundou ao lado de outras quatro pessoas o Projeto Trans no Corre que reúne pessoas trans para corridas coletivas todos os sábados, em São Paulo.

divina 1Divina Aloma

Aos 8 anos, Divina já sabia que queria ser uma estrela. E, assim, o destino encarregou-se de fazê-la brilhar. O caminho, porém, não foi fácil. Ela fugiu de Salvador (BA) ainda criança e foi para o Rio de Janeiro (RJ) em busca do sonho. Viveu nas ruas, até cer adotada por uma mulher que a apresentou ao mundo do teatro e a ensinou a costurar. Estreou no palco do Teatro Rival em 1066 e tornou-se uma musa dos espetáculos e das casas noturnas, além de ter sido inspiração para o pintor Di Cavalcanti. Aloma abriu caminhos para outras artistas negras e travestis na época em que a ditadura militar impedia que ela se apresentasse com mulheres cis ou que apenas frequentasse certos lugares. O racismo vinha até de suas colegas brancas, também travestis. Onde diziam que ela não poderia estar, porém, era onde ela deixaria sua marca. As injustiças que sofreu não foram capazes de ofuscá-la e ela se destacou nos shows pelo país. Aos 75 anos, sua trajetória ilumina o futuro.

eltonElton Panamby

Panamby se considera artista do corpo, que é sua ferramenta de expressão política e poética. Sua produção explora diversos contextos: as ruas, os movimentos sociais, os centros culturais, os festivais de arte e cultura, museus, universidades e residências artísticas. A arte de Panamby estende-se até a xilogravura, desenho, pintura, colagem analógica, edição audiovisual e produção sonora. Afroindígena, mãe, não binárie, nasceu na periferia da zona sul de São Paulo e mudou-se em 2016 para São Luís (MA). Há 12 anos, dedica-se à pesquisa acadêmica e à criação em performance. Formou-se em Comunicação e Artes do Corpo pela PUC-SP e tornou-se mestre e doutore em artes pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Liderou projetos como “Performance Preta no Brasil” um intercâmbio artístico voltado para a valorização da negritude, e participou de eventos internacionais como a exposição “Experience of Imobility”, na Suíça. Morou e coordenou a CASA 24, no Rio de Janeiro, importante espaço de arte e resistência LGBTQIA+, durante 5 anos.

erickErick Barbi

Escritor, cantor, compositor, publicitário e palestrante, Erick Barbi é o que se pode chamar de multitalentoso. Além dos feitos profissionais, sua voz é uma potência que conscientiza sobre o que é ser uma pessoa trans. Aos 41 anos, viaja o Brasil com a DIFERENTES, consultoria especializada em relações humanas, comunicação e diversidade que criou com a psicóloga e sexóloga Bárbara Menêses, com quem é casado. Desde 2009, Erick atua como palestrante, levando sua história de vida e suas reflexões para empresas, escolas e instituições em todo o Brasil. Ele também foi vocalista de diversas bandas e integrou projetos musicais. “Tudo que o Mundo Vai Me Dar” foi trilha sonora do documentário “Questão de Gênero”, de 2006, em que também foi um dos entrevistados. Em 2013, apresentou a canção ao vivo no programa “Na Moral” de Pedro Bial, em um episódio que abordava a transexualidade. Em 2016, participou da série documental “Liberdade de Gênero”, que foi ao ar no canal GNT. É padrasto de dois meninos.

gabGab Van

Estudante de Contabilidade; consultor de Diversidade, Equidade e Inclusão; presidente e cofundador da Liga Transmasculina João W. Nery, primeira do Rio de Janeiro a desenvolver projetos voltados para homens trans e pessoas transmaculinas; criador do TransZen, projeto psicosocial para prevenção de suicídio e promoção de saúde mental. O currículo de Gab Van, 36 anos, é extenso. Além de todas as funções listadas, ele também é diretor da Marcho Trans o Travesti do Rio de Janairo e pesquisa transmasculinidade e saúde mental. Nascido em Niterói (RJ), tornou-se ativista em 2019, quando começou a entrar em contato com projetos ligados à população LGBTQIA+ e percebeu a falta de iniciativas específicas para a sua parcela da sigla: homens trans e pessoas transmasculinas. A partir dessa demanda, fundou a Liga, naquele mesmo ano. “O ativismo é o que nos mantém vivos. É a construção coletiva que nos impulsiona a conquistar e a exigir nossos direitos mas também é acolhimento, coragem, afeto, base e cuidado”, escreveu.

guilhermeGuilherme Silva de Almeida

Assistente social, doutor em Saúde Coletiva e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), participou da implementação da primeira política pública voltada as pessoas LGBTQIA+ do Brasil, em 1999: o Disque Defesa Homossexual. Também atuou na criação dos centros de cidadania e no processo transexualizador do Sistema Único de Saúde (SUS), que representou um passo à frente no acolhimento da comunidade trans na saúde pública. É o primeiro doutor trans do Brasil. Desenvolveu estudos, ações extensionistas e assessorias voltadas especialmente a política de saúde e às relações de trabalho. Tem a produção técnico-científica voltada as relações de gênero, sexualidade, saúde sexual, direitos sexuais, diversidade sexual e diversidade de gênero. Dedicou boa parte de seus 50 anos ao Serviço Social, com o intuito de formar profissionais alinhados às questões das pessoas trans e LGBTQIA+. “O maior desafio das pessoas trans é, inegavelmente, permanecerem vivas. Ser visibilizado é uma condição para a sobrevivência tão importante quanto as condições materiais de vida”, diz.

indianareIndianare Siqueira

Em 53 anos de vida, a ativista esteve presente na primeira parada LGBTQIA+ do Brasil, em 1995, e acompanhou de perto os marcos importantes dessa luta no país nas últimas três décadas. Em 2010, criou o centro de acolhimento Casa Nem, no Rio de Janeiro. Começou como um cursinho preparatório pré-vestibular dedicado a incluir travestis e transexuais nas universidades – das 20 alunas do primeiro ano, 12 ingressaram em uma instituição de ensino- e se tornou a ocupação de um imóvel no bairro da Lapa, para garantir um teto para muitas estudantes que não tinham onde morar. Hoje, a Casa Nem funciona no bairro do Flamengo e acolhe cerca de 60 pessoas. A maior conquista de Indianarae, no entanto, foi a retificação dos documentos para constar o gênero não binário —a primeira pessoa do Paraná a conseguir o feito, que é possível apenas a partir de uma ação judicial. A ativista protagonizou dois documentários: “Aconchego da Tua Mãe”, de Adam Golub (2020), e “Indianara”, de Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa -o segundo concorreu ao prêmio Queer Palm, em Cannes.

jupJup do Bairro

Aos 31 anos, já levou suas músicas aos palcos de festivais como The Town e Lollapalooza, mas segue morando no mesmo bairro periférico em que nasceu e cresceu: o Capão Redondo, no extremo sul de São Paulo. Lá, ainda na adolescência. escreveu os primeiros versos que anos mais tardes fariam parte de seu primeiro álbum, “Corpo sem Juízo”, lançado em 2020. Na obra, sucesso de crítica e público, a cantora discute as próprias vivências como mulher trans, nascida e criada na periferia. Naquele ano, venceu os prêmios Multishow e APCA. Antes de dar início à carreira solo, Jup passou três anos como segunda voz da cantora Linn da Quebrada, sua grande amiga; as duas se conheceram em 2012, quando davam os primeiros passos para trabalhar na música. Em 2024, lançou seu segundo EP, “in. corpo.raçao”, com cinco faixas compostas em parceria com o duo CyberKills. O disco fecha com a versão de Jup da música “Mulher do Fim do Mundo”, famosa na voz de Elza Soares, “uma grande responsabilidade”, ela reconhece.

juviJuvi Chagas

Você provavelmente já se deparou, no feed do Instagram ou do TikTok, com um vídeo que começa com “top 5” alguma coisa. “Top 5 delírios coletivos, top o colsas bregas de casa de rico” ou “top 5 tipos de pessoas no karaokê”, sempre com pitadas de humor na mesma medida da crítica social. Quem cria e apresenta o quadro é a fluminense de Volta Redonda Juvi Chagas, 33 anos. Para ela, uma pessoa não binária que prefere ser tratada no feminino, o humor é uma ferramenta poderosa na arte. Embora tenha conquistado a maior parte dos seus mais de 2,3 milhões de seguidores criando conteúdo nas redes desde 2014, ela tambem é produtora musical, cantora e compositora-herança da adolescência vivida na igreja evangélica que a família frequentava. Com o projeto Juvi e a Rapazeada, lançou dois álbuns: “Musicas pra ex, vol. 1. Só Gatilho Foda” (2022) e “Músicas pra Ex, Vol. 2: 99% Boladona, 1% Xonadona” (2024). Sozinha, lançou também “Cultura do Ódio” (2024), composto com um acordeão de oito baixos e um saxofone de visual futurista.

keilaKeila Simpson

Na década de 1990, foi a responsável por fundar a Associação de Travestis de Salvador e a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), até hoie uma referência em organização política da população T no país. Ela é, provavelmente, a mais importante liderança entre pessoas trans no Brasil. Prova disso é que, em 2013, recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos das mãos da então presidente Dilma Rousseff pelos serviços prestados à comunidade LGBTQIA+. No começo dos anos 2000, ela integrou o grupo de ativistas transexuais e travestis que lançou a campanha Travesti e Respeito, em parceria com o Ministério da Saúde, para promover a cidadania desta população. A iniciativa foi tão marcante que a data de seu lançamento -29 de janeiro de 2004- tornou-se o Dia Nacional da Visibilidade Trans no Brasil. No no passaco, lernou-se a primeira doutora honoris causa em vida no país -Keila, hoje com 59 anos, recebeu o tiuo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) em 2024. Em seu discurso, lembrou sua trajetória no ativismo trans e agradeceu o apoio das pessoas cis aliadas à luta.

linoLino Arruda

O autor, ilustrador e pesquisador inspirou-se em sua própria história com denciencia, lesblanidade e, depois, transmasculinidade, para dar vida aos quadrinhos autobiográficos “Monstrans: Experimentando Horrmônios” (2021). Com toques de fantasia, o livro reúne histórias que discutem a percepção sobre o corpo do autor, especialmente durante o processo de transição, a partir de imagens surrealistas em que a figura humana se mistura animais, fantasmas e monstros, aue inspiram o título. A obra foi contemplada pelo edital Rumos, do Itaú Cultural, e recebeu os prêmios Mix Brasil de melhor livro LGBTQIA+ do ano (2021) e Golden Crown Literary Society de melhor não-ficção (2022). Aos 38 anos, também é mestre em História da Arte e doutor em Literatura. Além de “Monstrans”,o autor publicou os zines “Anomalia” (2014), “Novo Corte de Peitos” (2018), “Quimer(d)a” (2015) e “Sapa-toons” (2011). Atualmente, escreve a trilogia de quadrinhos transfuturistas “Cisforia: O Pior dos Dois Mundos”, com o apoio do edital ProAC.

marcinhaMarcinha  do Corintho

Ícone da noite, Marcinha deixou sua arte expressa em produções como o “Programa Silvio Santos”, o “Clube do Bolinha” e o “Show de Calouros”. Nascida em Belo Horizonte (MG), chegou a São Paulo aos três anos com a avó, após a morte da mãe. Aos 14, comecou a tomar hormônios femininos escondida da família. Iniciou sua carreira aos 16 na boate Nostro Mundo, gerida por Condessa Mônica, também performer e travesti. Chegou a ir para a Europa nessa época, a convite de empresários que queriam sua arte por lá. Voltou ao Brasil e, daí em diante, trabalhou em diversas casas de São Paulo. A que lhe rendeu mais fama -além de seu nome artístico- foi a Corintho. Com o reconhecimento, além das oportunidades, veio a perseguição. Foi presa durante a ditadura militar (em 1982) e exilou-se na Europa, onde viveu por 30 anos entre Alemanha, Espanha, França e Itália. Colecionou prêmios de beleza e foi musa dos carnavais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Hoje, aos 57 anos, é lembrada por sua história de glamour, beleza e, principalmente, resistência.

mariaMaria Felipe de Medeiros

A médica de 32 anos é especialista em infectologia, desenvolve pesquisas sobre tratamento e prevenção de HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis e atende no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, um centro de referência em São Paulo. Se o caminho para se tornar especialista em uma área médica é longo, ela enfrentou uma verdadeira corrida de obstáculos como mulher negra, trans e não binária. Para Maria, “cada uma, ou um, de nós que se forma é uma grande vitória”. Isso porque a faculdade de medicina não é um ambiente acolhedor para pessoas pretas e LGBTQIA+. Além da Infectologia, doutora Mafe, como é conhecida, especializou-se em saúde de pessoas LGBTQIAPN+, principalmente da população trans e travesti. Ela também é a profissional responsável pela linha de cuidado em saúde LGBTQIA+ no projeto TeleNordeste, atuando com teleconsultas e treinamentos a distância para os estados do Maranhão, Piauí e Alagoas, e integra o Podcast Infecto Cast, voltado a profissionais da saúde.

niloNilo Nühatê

Há quase uma década, Nilo Nühatê Ybyraporã dedica-se ao slam. Desde 2016, quando começou na arte da poesia marginal, foi campeão de torneios em Minas Gerais, seu estado natal, e venceu o campeonato nacional Slam BR de 2018. No ano seguinte, levou sua arte para a França e recitou em português para o público da Grand Poetry Slam de 2019, a Copa do Mundo da Poesia, sediada na França, conquistando o quarto lugar entre 20 competidores. Hoje, é bicampeão mundial de poesia falada – e também a primeira pessoa trans a vercer o concurso na história. Sob o pseudônimo Pi Eta Poeta, Nilo Nühatê, que é biólogo de formação, escreve sobre absolutamente tudo: família, juventude, racismo, espiritualidade. “Não tem uma palavra-chave para definir meus temas como poeta”. disse, em entrevista ao “The New York Times”. Nilo também é músico, artista cênico e escrior, autor de dois livios e dezenas de zines. Também é artesão de joias – em 2019 fundou sua marca Ybyra Maçaka- e pesquisador da arte e da história dos povos pretos e indígenas, que compõem sua ancestralidade.

paulaPaula Beatriz de Souza Cruz

A primeira diretora trans da rede estadual de escolas de São Paulo soma 35 anos de dedicação ao magistério público. Desses, duas décadas são à frente da Escola Estadual Santa Rosa, no bairro do Capão Redondo, que atende cerca de 1 mil alunos. Ativista e pesquisadora, Paula é pioneira na mobilização em favor da inclusão do nome social dos estudantes trans e travestis nos diários de classe e nas listas de chamada. A escola que dirige tornou-se uma referência na comunidade em atividades sobre o movimento LGBQIA+. Paula deu início a sua missão de educar aos 18 anos em Taboão da Serra, no colégio em que a mãe trabalhava como zeladora. Ainda criança, divertia-se na biblioteca e ajudava na secretaria. É pedagoga pós-graduada em gestão educacional pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com 53 anos, coleciona prêmios como o Darcy Ribeiro de Educação, concedido pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Em 2021, foi homenageada pelos moradores do Capão, que deram seu nome a uma rua.

quantikaQuântika

Multiartista trans não binárie e capoeirista, Quântika dedica sua pesquisa à Capoeira Vogue, que une elementos da capoeira e do voguing, estilo de dança popular na comunidade LGBTQIA+. É diretora do Capoeira para Todes, coletivo multiartístico que investiga a influência da binariedade e do monoteísmo judaico-cristão na construção social e subjetiva da sociedade. Começou em 2019 como um encontro entre amigos, que se reuniam em uma praça para treinar capoeira e trocar vivências, e hoje oferece workshops, promove ações sociais -como a distribuição de cestas básicas nas comunidades- e investe na formação e na educação dos alunos e participantes. Na cultura ballroom, movimento que enaltece a comunidade, é Overall Princess da Casa de Odara. Também é cantora, comunicadora e performer. Sua pesquisa ainda passa por psicanálise, espiritualidade e física quântica, ferramentas potentes no processo de autoempoderamento.

raphaelRaphael Henrique

Aos 38 anos, o educador social atua com crianças, jovens e adultos trans em situação de vulnerabilidade social e no esporte. Raphael fundou, em 2016, o Instituto Meninos Bons de Bola (IMBB) o primeiro time de futebol e futsal feito por e para pessoas trans. A ideia surgiu em um momento em que foi impedido de seguir jogando futebol profissionalmente. Ele continuou treinando nas comunidades, com homens cis. Era aceito no jogo, mas não em sua identidade. Não podia, por exemplo, usar o vestiário e isso o revoltava. Esses eventos o motivaram a criar o IMBB. Não era o fim de uma carreira, mas o início de muitas. O IMBB foi criado para ser um espaço seguro para a troca de experiências, afetos e aprendizados entre jovens trans. O instituto também carrega a missão de incentivar outros times compostos por pessoas trans no Brasil, alám de fomentar a participar do competições profissionais. No instituto, os atletas têm seu desenvolvimento acompanhado e impulsionado.

sylvioSilvyo Lucio

Aos 60 anos, vive em Pacatuba (CE), dedica-se ao trabalho como jardineiro e à família —há cinco anos, ele e a mulher, Widdy, realizaram um sonho antigo e se tornaram pais do pequeno Théo Lúcio. Silvyo também é artesão de barro e madeira. “Me sentia preso. Nasci com vagina, vivenciei a maternidade, mas nunca deixei de ser homem”, disse em entrevista à “Trip”, há 11 anos, na ocasião do lançamento do documentário “Olhe pra Mim de Novo”, dirigido por Kiko Goifman e Claudia Priscilla, do qual foi protagonista. Formado em Letras, coordenou a secretaria de Diversidade nas cidades cearenses de Pacatuba e Maracanaúba. A sensação de isolamento, por não encontrar outras pessoas como ele em seu estado, o levou a fundar, em 2013, o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat), que tem como intuito promover os direitos das pessoas transmasculinas e é uma referência no país. Em 2024, o Instituto organizou a primeira Marcha Transmasculina do Brasil, em São Paulo, e ganhou um espaço na mostra “Histórias LGBTQIA+”, no Museu de Arte de São Paulo (Masp).

sofiaSofia Favero

Autora de “Psicologia Suja”, “Pajubá-terapia” e “Crianças Trans: Infâncias Possíveis”, Sofia é uma voz respeitada na psicologia social. É doutora pelo Programa de pós-graduação em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e participa da Associação e Movimento Sergipano de Transexuais e Travestis (Amosertrans). Desde 2014, faz parte do Núcleo de Pesquisa em Sexualidade e Relações de Gênero (Nupsex). Suas pesquisas são voltadas a infâncias brasileiras, direitos humanos e psicologia da saúde crítica. Em seus 41 anos de vida, não movimentou apenas a área acadêmica. Manteve, na década de 2010, a página “Travesti Reflexiva”, no Facebook, e ajudou a construir o EducaTrans (pré-vestibular gratuito para pessoas trans e travestis), quando foi coordenadora da Semana da Visibilidade Trans, evento anual junto à Universidade Federal de Sergipe (UFS). Ao lado de Daniela Andrade e Maria Clara Araújo, foi uma das pioneiras a usar as redes como forma de conscientização.

uyraÚyra

Aos 33 anos, Úyra é indígena em diáspora, travesti, artista e arte educadora de comunidades tradicionais. Mora em um território industrial em meio à floresta, em Manaus (AM), onde se transforma, sempre com elementos orgânicos, para incorporar a Árvore que Anda. Uýra utiliza o corpo como suporte para narrar histórias de diferentes naturezas via fotoperformance, performance e instalações. Além disso, é bióloga, mestre em Ecologia da Amazônia e já participou de mais de 50 exposições coletivas, nacionais e internacionais. Apresentou cinco mostras individuais no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e no Currier Museum of Art, nos Estados Unidos, entre outros. Foi destaque da 34ª Bienal de São Paulo, da Bienal Manifesta! (Kosovo), da 13ª Bienal de Arquitetura de São Paulo e da 1ª Bienal das Amazônias. Coleciona reconhecimentos importantes do mundo das artes, entre eles o Prêmio EDP nas Artes (Instituto Tomie Ohtake), o Prêmio PIPA, o Prêmio SIM à Igualdade Racial e o Prêmio FOCO Arte Rio.

valeria

Valéria Barcellos

Quem assistiu à novela “Terra e Paixão”, que foi ao ar na Rede Globo entre maio de 2023 e janeiro de 2024, encantou-se com a personagem Luana Shine, interpretada pela atriz gaúcha Valéria Barcellos. Assim como ela, Luana era uma mulher trans que se dedicava as artes, mas também era ativista de direitos humanos e dava aulas sobre igualdade em cena. Fora dos estúdios de gravação, Valéria, que além de atriz é cantora, escritora, DJ e ativista, enfrentou desafios profundos, como um câncer e agressões físicas por transfobia. Hoje, aos 45 anos, considera que foi mais fácil lidar com a doença do que com a violência. “Para a doença tem remédio, mas para o preconceito, não”, disse, ao participar do programa “Encontro”, da Globo. Durante a exibição da novela, diz que virou “a paixão das senhorinhas”; as fãs de mais idade e abraçaram. Valéria é autora de “Transradioativa: Você me Conhece Porque Tem Medo ou Tem Medo Porque me Conhece?”, livro escrito durante o tratamento de saúde e publicado em 2020 pela editora Arole Cultural.

victoriaVictória Dandara

Em 2022, Victória Dandara Toth Amorim foi a primeira travesti a se formar na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), a mais antiga do país. Em sua formatura, em janeiro de 2023, subiu ao palco enrolada em uma bandeira trans e dedicou a conquista a travestis e mulheres trans que vieram antes dela: Jovanna Baby, Kátia Tapety, Keyla Simpson, Bruna Benevides, Sara York, Dandara dos Santos e Xica Manicongo. “Essas são as verdadeiras protagonistas dos direitos humanos no nosso país. E é por elas que nós temos que zelar em cada palavra que dissermos adiante em nossas profissões”, assinalou. Um ano mais tarde, tornou-se a primeira pessoa trans brasileira a ingressar no mestrado da Universidade de Harvard. Ela também foi aprovada em outras universidades renomadas dos Estados Unidos, como Berkeley, Columbia, UCLA, NYU e Northwestern. Nascida e criada em Itaquera, zona leste de São Paulo, Victória estudou em escolas públicas até conseguir uma bolsa para uma instituição particular, o que lhe permitiu ser aprovada no disputado vestibular da USP.

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