À procura do line up perfeito: curador do Doce Maravilha revela estratégia do evento
Nelson Motta é produtor musical e jornalista com décadas de experiência
Amigos de longa data, o produtor musical Nelson Motta e o empresário Luiz Oscar Niemeyer uniram forças para criar o Doce Maravilha, festival que acontece no Rio nos dias 25 e 26 de maio no Jockey Club. Visando celebrar a diversidade e riqueza da música brasileira, os dois tiraram do papel um sonho que nasceu há mais de uma década.
“A gente queria que fosse no Forte de Copacabana, porque era uma vista sensacional. Mas o evento nunca aconteceu”, conta Nelson em entrevista para a Billboard Brasil. O jornalista é o curador do evento, ou seja, responsável por escolher os artistas que subirão no palco.
Ao lado dos produtores Rod Tavares e Luiz Guilherme Niemeyer, da Bonus Track, a dupla veterana criou o Doce Maravilha.
“É como uma transfusão de sangue para mim. Eu adoro meu vampirismo [risos], essa absorção da energia da juventude deles. E eles se beneficiam da nossa experiência, dos perrengues que já passamos. Encontramos um equilíbrio maravilhoso.”
Como é escolhido o line up?
Aos 79 anos, Nelson já produziu shows de Marisa Monte, Elis Regina (1945-1982), Gal Costa (1945-2022), entre outros. A curadoria é baseada na experiência do produtor, além das novidades musicais que ele escuta no dia a dia.
“Busco a harmonia por contraste. Gosto de coisas que, aparentemente, são incompatíveis, mas que juntas harmonizam justamente por essa diferença. A coisa óbvia, previsível, para mim tem menos graça”, explica.
“Descobri isso quando trabalhei com a Marisa. O primeiro disco dela era caótico. Tinha de Waldick Soriano a Philip Glass, música clássica, brega… As pessoas não souberam classificar. Ela sabia construir essa harmonia pela diferença.”
O line up da edição de 2024 traz Maria Bethânia com Xande de Pilares; Jorge Ben Jor apresentando “É Coisa Nossa!”; Jorge Aragão com BK, Xamã, Djonga, Ana Carolina e Negra Li; Capital Inicial celebrando os 25 anos do acústico da MTV; entre outros shows especiais.
“A música brasileira é rica. Lutei muito, na minha carreira, contra o preconceito, a arrogância e a tentativa de superioridade de um gênero musical sobre o outro. Sempre detestei isso. É uma discussão que não vai adiante”, explica Nelson.
Foi esse incentivo de misturas de gêneros musicais que o produtor reuniu Chico Buarque e Caetano Veloso em um programa de TV da Globo, exibido em 1986. Nelson escreveu “Chico & Caetano” com Luiz Carlos Maciel.
“Juntas os dois no horário nobre da TV era inconcebível. Era um escândalo! Foi graças a audácia do Roberto Talma e do Daniel Filho. Era um programa que as pessoas não acreditavam que estavam assistindo.”
O produtor avalia como um dos destaques do Doce Maravilha a possibilidade de tocar discos na íntegra. Caetano apresentou “Transa” na primeira edição do festival no ano passado.
“Funcionou maravilhosamente bem. Era um sonho antigo meu. Fiquei enchendo o saco do Caetano há bastante tempo [risos]. Outra alegria foi o Marcelo D2 apresentando ‘À Procura da Batida Perfeita’ [de 2003]. Eu entendo esse disco como um divisor de águas na música brasileira. A fusão perfeita do hip hop com o samba. Foi um dos shows mais emocionantes que eu já vi na minha vida. Nunca vou esquecer disso.”