O dia em que Prince trouxe um estoque do próprio sangue para o Brasil
Músico morto em 2016 se apresentou no país no Rock in Rio 1991
Num passado não muito distante, os astros do pop e do rock internacional encaravam uma turnê pelo Brasil com o espírito aventureiro de quem embarca num safári. Havia um temor de se deparar com macacos e jacarés andando livremente pelas praias, mas a maioria temia mesmo um piriri causado por intoxicação alimentar – a ponto de trazerem um chef particular e sua própria comida na bagagem.
Mas Prince (1958-2016), que tocou na edição de 1991 do Rock in Rio, extrapolou. O genial cantor, compositor, músico e dançarino americano chegou por aqui acompanhado por um estoque de seu próprio sangue, devidamente guardado em bolsinhas térmicas.
A informação foi confirmada por Léa Penteado, ícone da história da assessoria de imprensa, que trabalhou em diversas edições do festival criado pelo publicitário Roberto Medina. “O que me impressionou mesmo foi o tamanho do bumbum do Prince, um dos menores que eu já vi”, comentou.
A finalidade do sangue, contudo, permanece um mistério. Sabemos de antemão que Prince não foi um adepto do vampirismo. Em 1991, ele ainda não havia se convertido a Testemunha de Jeová, que proíbe que seus adeptos recebam transfusões de sangue de outras pessoas –o que viria a ser necessário caso ele enfrentasse os fictícios jacarés das praias cariocas. O autor de “Purple Rain” só encontraria Jesus dez anos depois.
Outra dúvida é de como declararam essa preciosidade na Receita Federal. Muito simples: todo grande festival conta com um time de despachantes profissionais, que desembaraçam artefatos, digamos, complicados. O sangue passou de boa.
Roberto Medina e Dody Sirena, que trabalharam em parceria no Rock in Rio 1991, não se recordam do plasma do gênio do soul e do funk, mas premiaram este editor com outras histórias saborosas. Medina se recordou das 400 toalhas brancas que o cantor exigiu para a sua performance, que obrigaram o publicitário e um esquadrão de assistentes a percorrem todos os motéis perto do estádio do Maracanã, onde ocorreu a segunda edição do festival.
“Eu acho que tem toalha branca até hoje lá em casa”, brinca o empresário.
Prince fez Dody Sirena viajar
Sirena contou causos ainda mais divertidos sobre o diminuto músico (ele media 1,57m). Junto do empresário do showbiz Phil Rodriguez, ele estava em Los Angeles para contratar Prince quando o agente do cantor disse que a dupla tinha de ir até Londres para assistir a um show dele e negociar a participação no festival brasileiro.
“Ele não dirigia a palavra para nós, tínhamos de falar com um assistente e este passava as informações para o Prince. E olha que falamos em inglês”, contou.
Contrato assinado, voltaram no primeiro voo disponível para Los Angeles. Quando chegaram ao hotel, foram proibidos de subir no elevador que os levaria para os seus quartos porque, segundo o gerente, “uma pessoa muito famosa iria passar por ali”. Era Prince. “Ele fez a gente ir até Londres só para conferir o quão interessados estávamos nele”, diz Sirena.
Prince Rogers Nelson subiu ao palco do estádio do Maracanã nos dias 18 e 24 de janeiro de 1991. Não quis ser a última atração da segunda noite e cedeu a honra para o cantor pernambucano Alceu Valença –que até hoje se vangloria que o astro norte-americano abriu seu show.
Amparado por dois ventiladores gigantes para fazer com que a cabeleira parecesse ainda mais esvoaçante, encantou a plateia com sucessos como “Kiss”, “Nothing Compares 2 U”, “Let’s Go Crazy” e, claro, “Purple Rain”. Ninguém até hoje sabe que fim levou o plasma real, mas uma coisa ninguém pode negar: o sangue de Prince tem poder.