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O dia em que Dave Grohl, do Foo Fighters, tietou Cássia Eller

O dia em que Dave Grohl, do Foo Fighters, tietou Cássia Eller

Lan Lahn relembra show histórico de Cássia Eller em 2001

Avatar de Liv Brandão
21 01 creditos foto Gisella Chinelli Cassia Eller Dave Grohl RIR2001 jpg

A percussionista e compositora Lan Lahn relembra show histórico de Cássia Eller no Rock in Rio –que teve a participação do filho da artista, Chico Chico, então com 7 anos, tocando “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana. E de como Dave Grohl,
que tocou no mesmo dia com o Foo Fighters, se encantou pela versão. A apresentação aconteceu em janeiro de 2001.
No fim do mesmo ano, Cássia morreu após passar mal e, no hospital, ter quatro paradas cardiorrespiratórias.

“Eu me lembro de estar bem triste naquele dia. Era o dia em que íamos tocar no Rock in Rio, mas eu acordei triste. Estava com problemas emocionais naquela época, era muito jovem, mas eu tinha a música que me salvava de tudo. Então, acordei e fui para a Cidade do Rock passar o som.

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Foi tudo muito corrido, como sempre é, em todo festival. A gente já tinha feito shows grandes, tínhamos aberto para os Rolling Stones na praça da Apoteose [em abril de 1998], no Rio, e havia sido igualmente corrido. Mas, no Rock in Rio, havia aquele nervosismo da equipe técnica, que é sempre muito profissional.

Meses antes, quando soube que a Cássia tinha recebido o convite para se apresentar no festival, voltei no tempo. Lembrei do primeiro Rock in Rio a que fui, ainda bem nova. Já projetando que um dia eu iria tocar ali –porque, quando a gente gosta de música, vai para o show e não quer estar na plateia. Sonha com o palco. Fiquei lá, no meio daquela lama, vendo os shows, e o que eu queria mesmo era estar ali, tocando para uma plateia grande.

Mas, quando isso finalmente aconteceu, para a gente era mais um show. Claro que era um show especial, mas a gente já vinha se apresentando há muitos anos juntos, na estrada, estávamos tão azeitados que não rolou tanta expectativa. Quase tudo o que aconteceu naquele palco não havia sido pensado exclusivamente para o Rock in Rio. As músicas eram as que a Cássia gostava, e os convidados, pessoas que ela admirava. Vai ter uma festa grande? Então vamos levar os nossos amigos.

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Cássia Eller no palco do Rock in Rio III / Ivo Gonzalez/Agência O Globo

E aí corta para a gente chegando ao Rock in Rio, já na hora do show. E a coragem da Cássia em abrir a apresentação só com voz e violão [com a faixa ‘Primeiro de Julho’]. Foi com essa vibe que a gente entrou no palco, com um show que já era muito potente e que explodiu na última música, que era ‘Smells Like Teen Spirit’ [canção do Nirvana].

O Dave Grohl [que foi baterista do Nirvana] estava lá para tocar com o Foo Fighters. Estávamos depois do show em uma espécie de lounge, que era uma área comum dos artistas, e ele ficou encantado com a versão da Cássia de ‘Smells’. Foi conversar com ela e disse que era a mais foda que ele tinha ouvido.

Era aniversário dele naquele dia, e a namorada do Dave Grohl, Melissa Auf der Maur, levou um bolo para ele no palco. A Cássia subiu nessa hora, e o abraçou também.

‘Smells Like Teen Spirit’ havia entrado no repertório por sugestão do Chicão [filho de Cássia], que, na época, tinha 7 anos. Ele adorava tocar percussão e queria participar. Aí eu disse a ele: ‘Tá bom, então vamos ensaiar’. Eu falava o que ele tinha que fazer, e ele ficava atento. Mas ele entrava no show só na parte do ‘Smells’, que era a última música. Então, às vezes no ensaio, ficava com sono e dormia ali, atrás da percussão.

Depois que a Cássia morreu, ele continuou fazendo aula comigo. Pegava ele uma vez por semana na casa da Eugênia [mulher de Cássia], e ele passava o dia tocando percussão. Era uma alegria, sempre fui apaixonada por Chicão e acompanhei esse crescimento dele.

Foi m​uito legal ter visto a criação dele com duas mães, numa época em que não se falava disso. Hoje, vejo o tamanho da revolução que a Cássia promoveu. E não só na música, né? Ela fez isso tudo naturalmente, sem levantar nenhuma bandeira [após a morte de Cássia, Eugênia conquistou na Justiça –em decisão até então inédita– a guarda de Chicão, que viu nascer e de quem cuidou desde bebê].

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A percussionista Lan Lahn / Marcos Ramos/Agência O Globo

O Rock in Rio foi um ápice na carreira da Cássia. Foi um divisor de águas. Ela já vinha arrebatando um público grande com os discos, mas acho que existia um preconceito também. E foi muito bonito ver esse crescimento, que veio de uma cantora tão verdadeira. Ela chegou ao coração de todo mundo, e acho que sabia disso. Foi fazendo o que gostava, e o resultado foi natural. O Rock in Rio foi a consagração, na minha visão.

Meses depois, fizemos o ‘Acústico MTV’, que também foi um grande sucesso. Foi, obviamente, um reconhecimento, mas para a Cássia foi um momento… Talvez tenha sido delicado lidar com isso tudo. Ficou tudo muito maior, né? E a Cássia tinha o jeito dela, tímido, de ficar nesse lugar de conforto com as pessoas dela. Não era muito de falar, ela se revelava por meio da música.
E tudo foi crescendo.

A gente não sabe, mas acho que houve, sim, um cansaço. Mas um cansaço feliz, de estar construindo tudo o que ela queria, de estar fazendo muito show. Ela viveu isso intensamente, mas com cuidado também. Nunca escondeu que viveu uma vida louca um tempão, mas o nascimento do Chicão aterrou ela. Eu vi a Cássia querendo se cuidar.

Do sexo, drogas e rock’n’roll, naquela época, ela estava curtindo mais o sexo e o rock.”

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