Roberto Medina, do Rock in Rio e The Town, quer apostar no kpop
Em entrevista para Billboard Brasil, o empresário comentou a adição de gêneros
Criador do Rock in Rio e do The Town, Roberto Medina comentou a sempre polêmica (mas que esgota ingressos) escalação de seus festivais. Em entrevista para a edição de outubro da Billboard Brasil, o empresário comentou a adição de outros gêneros ao line up de seus gigantescos eventos.
Billboard Brasil: O kpop terá espaço no The Town ou no Rock in Rio?
Roberto Medina: Com certeza. Era para ter uma ou duas atrações de kpop neste ano, porém a negociação não foi adiante. Mas eles estão no meu radar. Principalmente para eventos em São Paulo, onde fazem mais sucesso do que no Rio. Quem sabe na próxima?
Em 2017, o senhor foi pressionado para chamar a cantora Anitta para participar do Rock in Rio. Mas só a convidou dois anos depois. O que dizer do sertanejo?
Eu queria convidar o Luan Santana, não sei por que não conseguimos. Mas ele certamente estará aqui ou no Rock in Rio. Hoje não existe mais espaço para rótulos. Luan é sertanejo, mas também é pop.
Tem uma performance fantástica, uma trilha fenomenal. Aliás, o convidei para assistir a umas apresentações do The Town comigo.
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As bandas de rock do passado foram substituídas por artistas pop. Como o senhor analisa a situação?
Existe uma grande lenda de que o primeiro Rock in Rio foi um festival essencialmente dedicado ao rock. Mas tinha o jazz de George Benson e Al Jarreau, o folk de James Taylor, a new wave de Go-Go’s e B52’s….
Eu sempre soube que para atingir um público de 1,5 milhão de pessoas, era necessário que fosse um projeto transversal em idade e estilo de música. Ou seja, sempre existiu essa diversidade musical no festival. Mas muita coisa mudou em 38 anos. As grandes bandas envelheceram, o que torna mais difícil trazer os sujeitos para cá.
O cenário brasileiro cresceu tanto que penso até em fazer um dia apenas dedicado aos artistas daqui. Hoje você tem Jão e Ludmilla enchendo estádios. Por fim, o palco Sunset mostrou que há espaço para a diversidade musical dos dias de hoje.
O senhor criou o palco Favela. Como lida com a ameaça de sofrer cancelamento pelo uso desse termo?
Preferem comunidade, né? Para mim, comunidade jé coisa da zona sul do Rio de Janeiro. Fiz um teste entre os locais, ninguém gosta de comunidade. Gostam de favela. Mas se você for ligar para esses termos, não faz mais nada. O mundo anda muito chato, cheio de rótulos…
Por exemplo, Ney Matogrosso abriu o Rock in Rio em 1985. Falaram da importância de eu ter chamado um gay para inaugurar o festival. Ora, eu chamei porque o acho um grande cantor. Da mesmo forma que Ney está no The Town porque é um dos principais artistas do país.
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No primeiro Rock in Rio, o senhor simplesmente entrava em contato com o artista e trazia para o país, sem se preocupar em amarrar datas em outros países. Como é fazer um festival nos dias de hoje, quando é preciso ter uma preocupação maior com a logística e fechar shows em outras praças?
Muito chato. Hoje eu tenho um pessoal que faz isso por mim, mas é sempre uma tortura.
No primeiro Rock in Rio, houve artista que sequer leu o contrato e dizia que iria me processar caso algo saísse errado. Hoje isso não acontece, são 300 trilhões de e-mails. Antes, éramos três pessoas. E dava certo.
A Live Nation, conglomerado do showbiz, detém 60% do Rock in Rio. O senhor perdeu o controle do festival?
Não sofro nenhum tipo de ingerência. Nestes anos todos, nunca houve uma reunião sobre Rock in Rio ou sobre o The Town. Eles sequer ajudam na contratação dos artistas, apesar de terem um poder de fogo que eu não tenho. O Bruno Mars, por exemplo, foi conseguido por nós e demorou dois anos para acontecer. Foi a minha aposta nesta edição do festival.
O senhor muitas vezes foi acusado de criar um festival marcado pela obviedade, marcado pelas pesquisas que pedem sempre Bon Jovi, Metallica, Iron Maiden e afins. Mas por outro lado, sempre mescla com artistas novos. Como funciona essa equação?
As pessoas podem falar que tenho um modo pragmático de dirigir o festival. Mas a minha principal preocupação é fechar a conta e deixar o público satisfeito. Quero construir uma história, uma marca. Eu poderia até dar resultados financeiros melhores, era só entregar ao público metade do que foi feito no The Town. Mas não é da minha natureza. O festival ainda não é o que está na minha cabeça, mas vai melhorar muito nos próximos anos. Eu quero sempre mais.