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Um dos maiores DJs do mundo, Vintage Culture venceu mercado pelo cansaço

Um dos maiores DJs do mundo, Vintage Culture venceu mercado pelo cansaço

Músico dividiu com a Billboard Brasil a estratégia para ser notado

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Um dos pontos fortes do discurso de Vintage Culture, capa da edição #8 da Billboard Brasil, é a autoconfiança. Desde que começou a produzir e a mandar suas músicas por inbox para DJs de que gostava, ele sabia que, uma hora, o retorno viria.

“Se o cara não te respondeu, deixa lá que um dia ele vai ver. Foi assim que aconteceu comigo. E aí comecei a trombar mais com esses caras. E a galera de fora tem um respeito grande pelas pessoas que trabalham muito. Eu trabalhava muito, continuo trabalhando muito. Cheguei a ser o cara que mais fazia tours no mundo, que mais tocava. E, claro, com a música e com a entrega dos sets, conheci e fui entrando em nichos ali dos gatekeepers [os mandachuvas].”

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A pandemia teve um papel importante na vida do DJ, que, como o resto do planeta, se trancou em casa. Sem viajar, começou a ir atrás de novas sonoridades. Dessa busca saíram duas faixas, “Love Tonight” e “Slow Down”, que emplacaram internacionalmente e ajudaram a consolidar seu nome na gringa. Foi a partir do conselho de um amigo que ele meteu na cabeça que tinha que ir para Miami.

“Um amigo que morava lá me falou que minhas músicas estavam tocando muito, que eu precisava ir. Os consulados estavam fechados, e eu não tinha visto, mas tinha uma petição aprovada. Fui para Miami só com esse papel e acabei indo parar na salinha do aeroporto, onde fiquei por sete horas até entenderem a situação e me darem um visto para eu poder entrar”, conta.

“Com poucos DJs viajando, por conta de passaportes e vistos, comecei a tocar muito e fazer sets longos. Isso agradou”, lembra. Ele ficou fixo em Miami durante um ano e, dali, voltou a rodar pelo mundo. “De repente, comecei a receber mensagens dos DJs mais fodas querendo tocar minhas músicas”, lembra. Tocar para o maior número de pessoas possível é o sonho da maioria dos DJs. Mas não de todos.

Quando um DJ opta por um nicho musical, como techno, drum’n’bass, etc., certamente seu público-alvo diminui. Nesse sentido, Vintage Culture segue o caminho aberto por um dos melhores DJs que o Brasil já teve, Ricardo Guedes (1963-2010), que tanto fez para que hoje existam no Brasil clubes, escolas de DJs, programas de música eletrônica no rádio e remixes de tudo que é estilo. Guedes se orgulhava de tocar (e muito bem) tanto para o público underground quanto para o mainstream.

“Eu não conheci o Guedes, mas sei da história dele. Sempre estive no meio desse bolo. Então, quando me perguntavam para que lado eu queria ir, eu falava: ‘Eu não quero ir para nenhum lado, eu quero ficar no meio’. Posso tocar tanto num rodeio, mas toco também no [festival] Time Warp. Acho que é o sonho de qualquer DJ poder fazer um negócio assim. É o que eu chamo de midstream. Porque não é comercial, mas também não é underground. Eu até faço uns sons under- ground, mais cabeçudões, mas meu álbum está ali no meio, tem vocais, mas tem uma produção um pouco mais dark, e tem umas músicas mais comerciais também”, detalha.

Em “Promised Land”, faixas como “Che- micals (feat. Goodboys)”, com um pé na house de Chicago e outro em timbres de techno melódico, a nova modinha da música eletrônica que sempre vem acompanhada de enormes projeções visuais, têm cara de hit. Caso também de “Don’t Know What I Want”, uma house com timbres oitentistas. “Acho que o [som] comercial está meio perdido, né? Está numa fase de transição que ninguém sabe o que vai ser do comercial aí dentro da música eletrônica”, analisa.

“Gosto muito de new wave, synthpops, new romantic, The Cure, The Cult! Quando vou produzir, eu falo: ‘Cara, que synth o New Order usou para fazer ‘Blue Monday’? Que synth o Depeche Mode usava? Eu vou nes- sas referências”, revela. “Assim como eles, eu quero fazer música para durar.”

Mas que lugar é esse da sua “terra prometida”, que dá nome ao álbum? “Promised land é o lugar aonde eu queria chegar com a minha música. Porque você evolui, né? Com o passar dos anos, você vai escutando outras coisas, você viaja, assiste a shows, sets, e eu não gostava mais do som que eu fazia. Então, comecei a buscar todas as referências que eu gostava, pesquisar novos artistas, novas sonoridades. Para mim, o ‘Promised Land’ é isso. A minha terra prometida é aonde eu consegui chegar para poder tocar o que eu gosto de tocar e educar o público. Eu não sou mais o cara que tem que ir lá e tocar aquela mesma sequência de faixas pra agradar.”

Das muitas collabs que fez nos últimos tempos, destaca-se o set que criou com ou- tro nome fortíssimo que representa a ban- deira brasileira na música eletrônica mundial, a DJ ANNA. Os dois tocaram juntos no formato back2back (quando dois DJs dividem o mesmo set) no Tomorrowland Brasil de 2023 e foi pura sintonia.

“Foi um match perfeito. Um set de duas horas, umas 15 músicas para cada um. E aí quando ela me mandou as referências e as tracks que ela ia tocar, eu falei: ‘Caramba’! Sem falar que a Ana é uma pessoa incrível, né? Ela tem uma presença meio molecona na hora de tocar, me deixa mais calmo. Então acho que foi uma química, assim, que rolou entre a gente. E aí depois a gente fez o [festival] Green Valley e foi demais também.”

Dançando com o celular

A tendência dos últimos anos na cena eletrônica são os shows com telões enormes e músicas feitas para acompanhar imagens e não o contrário. O chamado techno melódico, divulgado mundialmente por eventos como o Afterlife, criado pela dupla italiana Tale of Us, e Holo, do DJ sueco Eric Prydz, colocam imagens gigantescas em projeções em 3D no primeiro plano.

“Não curto muito isso. Eu estava vendo uns vídeos das antigas da galera tocando, não tinha celular, todo mundo dançava, curtia o momento. Hoje, com essa evolução das mídias sociais, a galera quer mostrar onde está, que é cool, que está numa festa legal e tal. E não está nem aí para o som. Não sou contra telão, a gente usa uns enormes no festival. Também adoro a forma como os Chemical Brothers utilizam, mas, em alguns casos, os DJs produzem a música para encaixar na imagem, e a pista acaba virando um cinemão”, opina.

Enquanto se prepara para uma temporada lotada de compromissos, como suas residências em Ibiza e em Las Vegas, além do lançamento de “Promised Land”, Vintage se programa para a maior edição já feita do festival Só Track Boa, tendo que lidar com as demandas do público e a crescente dificuldade em encontrar locações para eventos de grande porte em São Paulo.

“Até pode parecer que a música eletrônica passou da fase de sofrer com o preconceito, mas ainda existe, sim. Olha a sinuca de bico: se a gente não entregar o som alto, o público xinga a gente. Mas se deixar o som alto, quem vai xingar a gente é a polícia, o prefeito. Por isso eu me sinto meio desanimado de fazer evento. A Só Track Boa deste ano só vai acontecer porque a gente se esforçou muito”, diz.

Para quem ficou com vontade de conhecer a terra prometida de Vintage Culture, além do álbum em si, vem ainda por aí o lançamento de um álbum de remixes com versões de todas as faixas do disco, repaginadas por nomes como ANNA, Solomun e Adriatique, entre outros. Em setembro, sai também a versão deluxe, que ganhou mais dez músicas. O álbum terá formatos diversos, como discos de vinil, além de CDs e até fitas cassete. É “Promised Land” para não passar batido por ninguém. Vintage Culture chegou lá e faz questão de ter os fãs e amigos com ele no front.

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