O que é um superfã? Segundo um estudo da Luminate, companhia norte-americana que consolida informações do mercado e fornece dados para os charts da Billboard, são ouvintes com mais de 13 anos que interagem com um artista por, no mínimo, cinco formas: streaming, redes sociais, compras de álbuns e itens oficiais, além de ir aos shows.
Os superfãs também têm três características específicas: socialização (normalmente, em grupo de amigos e familiares, são eles que descobrem primeiro novos artistas); expressão de identidade (se alinhar e formar laços com seus artistas favoritos como uma forma de se expressar); e comunidade (se envolvem com outros superfãs, até de outros países, em torno de seus artistas favoritos).
As mudanças tecnológicas na indústria da música transformaram não apenas como os fãs se conectam com seus ídolos, mas também como eles interagem entre si.
As fanbases (como agora são chamados os fã-clubes) são peças-chave para a promoção de um artista no Brasil e no mundo. São equipes voluntárias que se dividem entre redatores, administradores, designers e até tradutores para replicar notícias e material dos cantores e de grupos nas redes sociais –principalmente no X, o antigo Twitter.
Essas comunidades transcendem fronteiras e formam alianças ao redor do mundo, seja na América Latina ou mesmo com fã-clubes de alcance global.
“No cenário digital atual, onde milhares de músicas são lançadas diariamente, é fundamental manter a fidelidade dos fãs”, afirma Cristiane Simões, vice-presidente de marketing e promoção da Sony Music Brasil.
“Reconhecendo o poder e a influência das fanbases, adotamos uma estratégia de apoio mútuo, na qual tanto os artistas quanto os fãs saem beneficiados. Nosso objetivo é promover nossos artistas no Brasil de forma eficaz, e contar com uma fanbase engajada é a chave para maximizar o impacto de nossas campanhas e estratégias de marketing.”
As gravadoras, como a Sony, estão cada vez mais buscando trabalhar com esse tipo de fã para promover seus artistas.
Em 2023, o fã-clube Rosalía Brasil teve a oportunidade de assistir ao show da cantora no Lollapalooza, em São Paulo, direto do pit, aquele espaço reservado em frente ao palco. Além disso, seus integrantes receberam ingressos e produtos oficiais para sortear entre os seguidores, permitindo às empresas alcançar seu público-alvo diretamente, sem intermediários.
“Foi muito gratificante. Nós passamos a maior parte do nosso tempo atrás de informações, postando conteúdo. Nos dedicamos ao portal. Então, receber produtos oficiais e ingressos para doar aos fãs ou como presente para nós é um reconhecimento”, afirma Lucas Sagaz, administrador do Rosalía Brasil.
Um exemplo de projeto idealizado e produzido por fãs é o “Honey 4 News”, versão brasileira do jornal em vídeo criado por Beyoncé durante a turnê “Renaissance”.
“Apresentamos a ideia para a Sony, que foi extremamente receptiva e colaborou com toda a logística das gravações, além de dar ótimas sugestões para a finalização dos conteúdos, envolvendo diversos profissionais da gravadora. Todos estavam empenhados em ver o projeto acontecer. E deu certo!”, celebra Rafaella Silveira, de 27 anos, publicitária e administradora do Beyoncé Brasil.
Entender o comportamento do consumidor é ferramenta crucial para as gravadoras e seus negócios, desde a precificação de vinis e álbuns até parcerias com marcas.
O relatório da Luminate revela que superfãs gastam 80% mais em música mensalmente do que ouvintes comuns nos Estados Unidos e têm 128% mais chance de comprar música física –vinil, CDs e até fitas-cassete.
“Hoje, tudo gira em torno das plataformas de streaming. O que não é ruim, mas acabou virando uma obsessão dos fandoms ter o artista no topo, custe o que custar. Perdeu um pouco do sentimento que é realmente ouvir e gostar de música. Você apoia aquele artista por qual motivo? Pela quantidade de streams que ele tem ou porque você genuinamente gosta da arte dele?”, questiona Pamela Taketomi, de 26 anos, administradora do Beyoncé Access.
Inspirada pelo trabalho na fanbase, ela vai começar o curso de publicidade e propaganda em breve. A equipe da página, com mais de 420 mil seguidores só no Instagram, foi convidada a conhecer pessoalmente a cantora durante a visita dela à Bahia, no final de 2023.
“Meu intuito com a página sempre foi ter um espaço onde os fãs pudessem estar por dentro das novidades em relação à Beyoncé, mas também um lugar onde se conectassem com outras pessoas, fazendo amigos. Grande parte da minha vida hoje, até mesmo profissional, eu devo a ela e às pessoas que gostam dela”, diz o diretor de marketing Isaak Gonçalves, de 25 anos, que criou a página em 2016.
Bem juntinhos
Outra marca que se aproximou dos superfãs é a Deezer. Até o momento, no Brasil, a plataforma de streaming francesa já promoveu sete grandes eventos, que impactaram diretamente cerca de 900 superfãs.
Entre os destaques está o Palco Deezer na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, em 2023 e também em 2024. Montada dentro da arena de rodeios, a ação aproximou, literalmente, os artistas dos fãs.
“Desde o ano passado, já era um sonho ter Chitãozinho e Xororó cantando ‘Evidências’ no nosso palco. Algumas pessoas falaram que seria muito difícil. Mas temos um lema: só o impossível nos interessa. Abraçamos a ideia e conseguimos executá-la na edição deste ano”, conta Helena Gaia, líder de relações artísticas LATAM da plataforma.
Além da dupla sertaneja, também participaram da ação Lauana Prado, Daniel e Zezé Di Camargo e Luciano.
“Ter um bom relacionamento com os artistas é um fator fundamental. Não pagamos cachê para eles descerem para o nosso palco. Então, a gente investe muito na diversidade de gêneros na plataforma. Temos editores que cuidam de playlists de cada gênero e que também participam desses projetos especiais.”
Os superfãs de kpop se destacam ainda mais do que os de outros gêneros: gastam 75% a mais em música mensalmente e são 67% mais propensos a comprar música como demonstração de apoio aos artistas.
Além disso, 46% desses fãs compraram um álbum no último ano e quase um quarto comprou fitas-cassetes recentemente.
“Quando os fãs se sentem parte do processo criativo e do sucesso do artista, tornam-se embaixadores naturais, ampliando a base de admiradores. Quanto mais o fã percebe que é ouvido e valorizado, mais ele se envolve nessa relação”, diz Cristiane.
Esta reportagem está na edição #11 da Billboard Brasil; veja aqui.