OPINIÃO: ‘Nós, mulheres, queremos ser a voz que fala e ressoa’
Leila Oliveira, presidenta da Warner Music, fez artigo para a Billboard Brasil
Antes de estar na cadeira da presidência da Warner Music Brasil, eu já imaginava a importância que teria de exercer esse cargo sendo uma mulher. Ocupar espaços em grandes empresas é uma tarefa difícil, principalmente em um país como o nosso, e eu sempre acreditei que a representatividade seria sinônimo de mudança.
Mas quando realmente a rotina se impôs diante de mim e consegui enxergar o mercado dessa perspectiva, foi que percebi o tamanho da responsabilidade e do desafio que é criar, no dia a dia, ações que possam perdurar nessa estrutura —não só para o desenvolvimento de artistas mulheres, mas também de todas as minorias e pessoas que vivem à margem da sociedade. É isso que as novas gerações esperam da arte, principalmente em um país tão rico em diversidade como o nosso.
O mercado fonográfico ainda tem muito a evoluir nessa direção para que consigamos realmente potencializar e respeitar a pluralidade cultural do nosso país. Em março, mês em que comemoramos e refletimos sobre os desafios e avanços das mulheres em todas as frentes da sociedade, divulgamos para as funcionárias da Warner Music um vídeo. Nele provocamos uma reflexão: o que gostariam de ouvir de si mesmas daqui a cinco anos?
A maioria pede um equilíbrio justo e saudável entre a vida pessoal e a vida profissional, porque historicamente a estrutura de nossa sociedade incita essa cobrança (e autocobrança) da performance da mulher em casa e no trabalho. Nós precisamos estar sempre à frente, sempre em excelência para conseguir chegar a competir de igual a igual, ou próximo de, no mercado profissional.
Mas, diferentemente de muitas áreas, já podemos falar de alguns avanços no nosso segmento. No dia 8 de março promovemos, na sede da empresa, dois painéis de conversa: um com artistas que lutam para crescer dentro dos seus gêneros musicais sendo mulheres, e outro com lideranças femininas que temos no nosso mercado. Foi importantíssimo para ver que estamos no caminho certo.
Tanto diante dos holofotes quanto nos bastidores, temos representantes femininas com histórias inspiradoras em posições de gestão: 54% da nossa equipe interna é formada por mulheres. E, muitas delas, ocupam espaços de liderança: Luciana Brito (diretora jurídica), Aline Teixeira (diretora comercial), Luciana Costa (gerente de marketing), Ana Paula Paulino (gerente de Artístico&Repertório) e Marielle Javarys (gerente comercial), dentre outras tantas.
E, claro, ainda temos o orgulho de trabalhar com inúmeras vozes femininas dentro de gêneros majoritariamente masculinos, como Azzy, IZA, Ludmilla, Marvvila, Pocah e muitas outras que passaram e passarão pela nossa companhia. Me emociona muito, por exemplo, ver uma artista como a Ludmilla, que, começou conosco quando ainda era MC Beyoncé, alçar voos cada vez maiores, em diversas frentes, da composição à interpretação, do funk ao pop e pagode. Ludmilla lota estádios com seu projeto “Numanice”, agora tem seu selo próprio e é a primeira mulher afrolatina a bater a marca de 1 bilhão de streams em suas músicas no Spotify.
Como trabalhamos com música e cultura, temos o desafio de fazer com que a liberdade e o respeito desse universo prevaleçam também na estrutura por trás dos holofotes. Sobretudo porque ainda não temos suficientes ferramentas de ensino acessíveis para preparar profissionais de maneira adequada dentro do nosso business. Muitas funções técnicas, por exemplo, ainda não têm nenhuma participação de mulheres. Precisamos formar um mercado mais inclusivo e frutífero –como é a música.
Cada vez mais o papel de uma gravadora deve ir além de construir a trajetória profissional de uma artista e ajudar na potencialização cultural e no fortalecimento do seu propósito.
Além da voz que canta, nos interessa a voz que fala e ressoa. Para isso, adotamos novos modelos de negócios e, recentemente, inauguramos o Warner Music Space, com uma variedade de zonas criativas, estúdios, lounges, arena e palco para apresentações acústicas. Um espaço que olha para esse objetivo e para o futuro, criando algo que reflita o que realmente queremos ser: um hub para a arte e a cultura, rompendo fronteiras, estimulando encontros, potencializando histórias e ecoando cada vez mais vozes.