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Cypher: música com dezenas de artistas e 10 minutos de duração? Sim, isso é tendência

Cypher: música com dezenas de artistas e 10 minutos de duração? Sim, isso é tendência

'Let's Go 4' atingiu primeiro lugar dos charts usando essa fórmula

Avatar de Guilherme Lucio da Rocha
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Uma das músicas mais ouvida do país nas últimas semanas, segundo o Billboard Brasil Hot 100, tem mais de 10 minutos de duração e 11 artistas envolvidos. “Let’s Go 4” vai na contramão de uma tendência do mercado mainstream, que vem priorizando canções mais curtas, com refrãos pegajosos e oportunidades de danças que viralizam no TikTok.

A canção ultrapassa os 10 minutos e não passou batida aos olhos da nossa audiência. “É uma redação do Enem?”, dizia um comentário numa publicação da Billboard Brasil no Instagram.

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Mas a dezena de funkeiros paulistas na canção que alcançou o topo dos charts não é uma revolução mas, sim, uma evolução de um modelo de negócio que o próprio funk criou. E isso aconteceu nas ruas e nas palmas da mão.

As diferenças entre cypher e medley

Antes de entrar na explicação mais a fundo, é bom separarmos o que é cypher do que é medley, com suas diferenças e similaridades.

Começando pelo final, as cyphers são uma criação da cultura hip hop, de meados dos anos 1990, que consistem em uma reunião de MCs cantando rimas inéditas sobre um beat simples.

No Brasil, as cyphers (ou sets, como ficaram conhecidos no universo do funk) ganharam fama com produções mais sofisticadas – caso de Poesia Acústica e Poetas No Topo, primeiros projetos de sucesso no Brasil.

Porém, antes da cypher, o Brasil conheceu o medley, que reúne várias músicas, na maioria das vezes já de sucesso, que são cantadas na palma da mão ou no tamborzão.

Talvez a origem do medley e da cypher seja o pot-pourri, que é a união de três ou mais canções, resguardando o arranjo e melodia de cada uma delas. A história não é muito clara nesse ponto.

Papo de futuro

No dia 10 de agosto de 2017 foi lançada a 1ª Cypher 4M, com seis artistas e quatro minutos de direção. O primeiro verso é do MC PP da VS, que dura cerca de 22 segundos.

Já no dia 28 de setembro do mesmo ano, o mesmo funkeiro que abre a cypher lançou “Sem Estresse“, música de 2 minutos e 52 segundos que tem como refrão o mesmo verso usado no trabalho anterior.

Já a canção “O Fim É Triste“, do MC Hariel, veio do “Set do MK 2”. O verso “é que esses caras imita os gringo e eu sou brasileiro”, além de marcar um hit de mais de 65 milhões de visualizações, inspirou mercadologicamente outros MCs, como o MC PH, outro campeão de audiência e fã das cyphers.

“Para lançar um single, na altura que eu estou da minha carreira, tem de ser algo pensado. Não adianta pagar de louco, é burrice. E a chypher ajuda nisso. O freestyle de “Let’s Go 3” virou “Os Bico Tão Se Perguntando”. A galera tava postando no TikTok, no Instagram, tá ligado?”, diz PH, explanando a tática.

Não à toa, “Let’s Go 3” e “Os Bico Tão Se Perguntando” também fazem sucesso nos charts da Billboard.

É que esses caras imita os ‘gringo’ e eu sou brasileiro

“Eu nunca tinha pensado dessa forma. Mas eu vejo sentido nisso, tá ligado? É como se a cypher fosse mesmo um medley gravado: vários artistas e cada um com sua parte”, reflete PH ao ser indagado sobre a cypher como atualização do que o funk sempre fez nas rodas de MCs anônimos espalhados por todo o país.

Com uma cultura na palma da mão, os medleys viraram sets e, no mundo do funk, foram crescendo em quantidade, tempo de reprodução e número de artistas.

Além da oportunidade de testar a adesão de possíveis singles com o público, o set passou a ser uma plataforma de impulsionamento.

Isso se justifica porque artistas mais famosos na cena passavam a convidar artistas iniciantes. Além de apresentar um novo nome para o mercado, também ajuda a “bombar” os números de quem está começando.

O passado que explica o presente

Antes do sucesso em São Paulo, tudo começou na calçada, sem carros luxuosos ou bebidas caras. E o arquivo todo pixelado. Em vários vídeos, é possível ver um magrelo MC IG, um desacreditado do funk MC PH e o ídolo eterno MC Kevin (1998-2021).

“Foi um marco gigante na nossa vida, ‘cê é loco. Lembro de um deles como se fosse ontem: a gente tava fazendo um churrasco no quintal do Kevin e do DJ Nenê. Tava geral lá e, bêbados, resolvemos fazer um som. O IG ficou com pé atrás, porém, insisti para lançarmos um cypher. Eu sempre acompanhei hip hop e o The Cypher Defect [do duo de rap paulistano Costa Gold] era, na época, o que me inspirou”, relembra MC PH.

A Cypher 4M, projeto mais longevo desse estilo, está na sua nona edição. Todas acumulam, pelo menos, uma dezena de milhões de visualizações no YouTube.

No caso de “Let’s Go”, projeto que está na quarta edição, o resultado é parecido. Os números ultrapassam a marca de 90 milhões de reproduções no Spotify e 120 milhões de visualizações no YouTube.

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