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Imersa em amapiano, ENME lança ‘MOVEDIÇA’ evitando gatilhos ao seguir tendência

Imersa em amapiano, ENME lança ‘MOVEDIÇA’ evitando gatilhos ao seguir tendência

Cantora maranhense recrutou Kafé, Sanvtto e Gugs para novo EP

Enme embarcou no amapiano e no afrohouse mas ela faz uma ressalva quando perguntada sobre a caça por tendências: “Tem mais profundidade nas minhas composições. Tem mais de mim, tô me abrindo mais”. Os dois subgêneros foram apropriados com frequência pela música pop de 2023 e 2024 —o afrohouse, inclusive, tornou-se porta de entrada para DJs brancos tomarem de assalto as plataformas e os line-up de música eletrônica.

Mas a cantora maranhense está mais preocupada em ampliar o repertório em que versa sobre intimidade amorosa. “A Liniker [dona de “Caju”, destaque de 2024] elevou muito o nível da composição no Brasil. A gente se cobra pra entregar com maestria”, diz. Morando em São Paulo, ela diz, por videochamada, que sentiu uma vontade maior de perceber a música para além das fronteiras de sua casa maranhense e de sua residência em São Paulo.

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Oi, Enme. Faz um ano que não conversamos. Da última vez falamos do seu bloco [ela toca o “Bloco da Emne”, no carnaval maranhense], por exemplo. Hoje, qual é sua principal preocupação para agora?

Então, eu tenho trabalhado com o afrobeats [apesar de constantemente citado como gênero, o termo é um guarda-chuva para a música eletrônica popular vinda da diáspora africana e engloba dezenas de gêneros]. Eu lembro que eu te falei muito sobre construir uma identidade, uma sonoridade única, de trazer a sonoridade do Maranhão. Agora, em São Paulo, a gente percebe como o Brasil é generoso com gêneros e ritmos. Ele proporciona muita coisa pra gente. Então, já tenho pensado muito mais numa sensação de mundo, sabe? Levar a nossa musicalidade pro mundo.

Quero muito construir meu álbum esse ano, receber uma indicação aí ao Grammy Latino —não sei se vai rolar— mas quero muito trabalhar pra isso acontecer. Tenho melhorado minhas composições, tô refinando a musicalidade dessa Enme. E acho que esse é o ponto de partida maior. São Paulo me permite trabalhar com pessoas incríveis.

E como é que foi o seu critério para escolher a produção? Como você orientou os produtores para não cair numa mesmice, não repetir os afrobeats de 2023, 2024?

Então… Eu sempre gostei muito do Kafé [cantor e produtor soteropolitano, responsável por tentativas pop interessantes como “360”, de 2017]. Na verdade, eu já era fã dele. Ele tinha um som chamado “Coladinho” [com Zamba e Liz Kaweria, de 2023] que me chamava bastante atenção. Ele me trouxe algumas referências de amapiano, coisas muito recentes e pensamos como colocar nossa originalidade nisso. E eu tenho uma pesquisa musical bem vasta também.

[O EP] teve também o Sanvtto, aqui de São Paulo, que misturou o dancehall. Todo mundo nesse projeto tem uma conexão natural, sabe? Não foi premeditado.

Então, foi Kafé, Sanvtto… Quem mais?

O Gugs também. Foi ele quem deu o start lá em 2023 com “Esperando o Sinal”. A gente já veio pra São Paulo com essa música pronta, só esperando a voz do FBC. Depois comecei a trabalhar mais com Kafé e fizemos várias músicas. Eu e Gugs também fizemos várias, mas nem todas entraram no EP —quem sabe num volume 2.

E quem você vê hoje no Brasil trabalhando bem essa mistura desses gêneros todos do afrobeats?

Ah, penso muito na Luedji [Luna]. Adoro a Luedji. O El Coffee[trapper paulistano] acabou de lançar o “Asopo”, tá lindo demais. A Torya [cantora também de São Paulo] também.
O Rael também tá nessa onda.

Literalmente nessa ‘Onda’ [o cantor e rapper de São Paulo lançou um disco com o nome da canção de Cassiano]…

O Martte é outro que tem muito essa sonoridade. A cena tá se construindo e vai perdurar. A galera tá mais firme nesses gêneros, sem misturar tanto com funk ou música eletrônica. Agora é algo mais cru mesmo, sabe?

Você comentou que está “melhorando” suas composições.

Eu acho que é uma maturidade. Antes, eu pensava muito na pista, na galera dançando, em quem eu queria me conectar. Agora, eu tô deixando fluir mais. Tem mais profundidade nas minhas composições. Tem mais de mim, tô me abrindo mais. A música agora é uma verdade artística minha, não é mais só uma persona criada. São meus sentimentos, minhas vivências.
“Movediça” é um projeto muito pessoal. São romances meus, encontros meus.

E depois da Liniker —que elevou muito o nível da composição no Brasil— a gente se cobra pra entregar com maestria. Mesmo que não tenha milhões ouvindo, a verdade precisa estar lá.

É curioso, né? Porque o mercado às vezes pede coisas menos densas…

Sim… mas eu tô num momento de não pensar no mercado. Eu já vivi muito essa loucura de seguir tendências e isso virou até um gatilho pra mim. Agora, eu quero curtir esse processo artístico, me apaixonar pelas músicas que eu lanço, gostar delas daqui a 50 anos, sabe? Antes, tinha coisa que eu olhava e pensava: “nossa, podia ter sido melhor.” Agora, não. Agora é verdade.

Você lançou seu primeiro trabalhou com quantos anos?

Tinha uns 25, 26 anos.

Aí a gente quer colocar os 25 anos de vida ali, né? Por isso você diz também sobre maturidade como um filtro.
Hoje, com 30, eu tenho outra cabeça, outra maturidade. Antes eu queria dizer tudo rápido, muito rap, muito acelerado. Agora eu posso transmitir o que eu quero dizer numa melodia, numa linha de baixo, numa história visual. Tenho outras formas de me comunicar.

E como você tá pensando a transposição disso pro palco?

Nossa, tá uma delícia. O EP ao vivo funciona muito bem. A gente tá com uma galera massa aqui de São Paulo: baixo, guitarra, teclado, percussão.
E, claro, o balé não pode faltar. Apesar das músicas serem gostosas de ouvir, a performance faz a diferença. “Movediça” é dançante, por isso o nome: você se move de algum jeito. Te move pra pensar, pra sentir, pra dançar. É muito lindo isso.

Sobre o nome “Movediça”, você explicou um pouco… mas queria que você aprofundasse.

Vem dessa ideia de movimento. Se mover de cidade, de corpo, mas também de sentimentos. É tipo uma areia movediça: às vezes, você se afunda num sentimento, quer sair, mas também é tão aconchegante. E também tem a ver com as areias movediças dos Lençóis Maranhenses, que se movem com o vento e mudam tudo ao redor. Então, a gente é muito movediça também.

Achar esse movimento aconchegante é algo que eu não senti aos 30 anos, mesmo. Interessante que você veja assim. 

É que eu acho que a história é de cura. A Enme de hoje é uma pessoa que se curou de muitas dores. As músicas falam de amor, de paixão, não só de feridas. Eu tô muito apaixonada —por mim, pelo que eu tô fazendo, pela música. Quero fazer parte do dia a dia das pessoas, embalar encontros, trilhar histórias. Não quero correr, nem chegar em primeiro. Quero chegar onde eu tenho que chegar: no coração das pessoas.

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