Henrique Portugal, ex-Skank, se inspira nas big bands para sair em carreira solo
O tecladista –e agora vocalista– lança um EP no qual vai do tango aos Beatles
Henrique Portugal, de 59 anos, foi por três décadas um dos formatadores do sucesso do grupo mineiro Skank. Tecladista e vocalista de apoio e com passagens até pelo Sepultura (sim, ele faz uns climinhas de teclado nos discos “Schizophrenia”, de 1987, “Beneath the Remains”, de 1989, e “Arise”, de 1991), Portugal se arrisca em carreira solo com um EP que chegou às plataformas de streaming essa semana. O trabalho traz canções de sucesso em formato de big band, uma das paixões do instrumentista. Em entrevista para a Billboard Brasil, ele fala do porquê de ter escolhido essas canções e de como ele adaptou seu estilo para as mudanças musicais do Skank.
Esta semana chegaram às plataformas de streaming “Olha”, sucesso de Roberto Carlos; “Ticket to Ride”, dos Beatles; “El Día que me Quieras, de Carlos Gardel, e “Eu sei que vou te Amar” , de Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes. Por que escolheu essas canções?
São canções que adoro e que gostaria de escutar com arranjos de big band. “Olha” foi a primeira música que toquei ao piano e cantei para minha esposa – tem um significado muito importante pra nós. A partir desta gravação, assumi definitivamente a minha função de interpretar canções que sempre gostei. “Ticket to Ride” tem a ver com a minha paixão pelos Beatles. Só que eu queria fazer algo diferente, sem destruir a melodia original. Mais uma vez, a inspiração foi a sonoridade das big bands. “El Día que me Quieras” … Adoro música latina e cantar em espanhol. Escolhi uma canção conhecida por gerações e que mostra exatamente toda a intensidade que nossos vizinhos colocam em suas interpretações. Por fim, “Eu sei que vou te Amar” eu toco desde a minha adolescência. Tudo começou ouvindo o meu pai tocá-la em casa. Foi um resgate.
Por quê o piano? O que te fez escolher esse instrumento?
Comecei a tocar muito cedo, aos cinco anos. Na verdade quem escolheu o instrumento foram os meus pais. Mas me apaixonei totalmente pelas teclas.
O piano tem uma conexão importante com o rock e com o pop. Little Richard, Elton John, Billie Joel… Jamie Cullum? O que te inspirou a utilizar no reggae do Skank?
O piano é o pai de todos os instrumentos de teclas. Depois dele vieram algumas derivações como o órgão, os sintetizadores, os pianos elétricos e a clavinete. No reggae , apesar de não parecer, tem muita utilização de teclados. O mais importante é o suingue maravilhoso e peculiar que ele tem.
Qual a importância do piano no momento inicial do Skank, o baixo e a bateria são predominantes?
Os três primeiros álbuns foram fortemente influenciados pelo dancehall, a vertente eletrônica do reggae, que utiliza em seus arranjos sons de piano, quase como um instrumento percussivo, junto com a bateria e o baixo. Foi um grande aprendizado tocar um instrumento que tem seu ponto forte na harmonização tendo outra função na música.
Como você avalia o momento posterior do piano no Skank, onde ele passou a ser mais predominante –por exemplo, em “Dois Rios”, que tem um quê de Beatles?
A partir do álbum “Maquinarama”, lançado em 2000, mudei meu jeito de tocar. Passei a utilizar todo o meu conhecimento adquirido estudando música clássica, seus detalhes, sutilezas e sofisticação harmônica.
O teu trabalho solo possui um conceito de baile, onde você toca de Roberto Carlos e Kleiton e Kledir, além de material próprio? Como surgiu?
Sempre gostei de música e de entretenimento. Sinto falta quando a plateia não participa. Agora quero me divertir com amigos que conquistei na minha carreira musical e de certa forma devolver um pouco do que a música me deu. Sinto falta de bons eventos para a minha geração , que já passou dos quarenta anos. Pensamos e agimos diferente da turma que está com vinte e poucos anos. Queremos e devemos nos divertir, mas com outros valores e necessidades. Canto canções que fazem sentido com o que penso e gosto. Sejam autorais ou de outros compositores. Montei uma big band para realizar isto. Tocar e cantar músicas que gostaria de escutar nesse formato.
Para você, qual a maior dificuldade do piano ser mais assimilado no país? É porque é considerado um instrumento caro e elitista?
O piano é um instrumento fisicamente grande. Isto já é um dificultador. Ele exige mais conhecimento e estudo. Durante algumas gerações , dependendo da classe social, ter um piano na sala era um fator de status social.
Venho de uma família onde estudar algum instrumento musical era tão importante quanto praticar um esporte. Mas isto tem um custo financeiro. Vivemos num país onde ainda estamos lutando pelas necessidades básicas e ao escolher um instrumento, as pessoas preferem aqueles que trarão um resultado mais rápido e barato.
Me sinto privilegiado por ter tido a oportunidade de aprender a tocar um instrumento tão completo e gostoso de se ouvir.