Homem de negócios, Gusttavo Lima encerra o ‘Buteco’ e faz balanço da carreira
Cantor sertanejo posou para ensaio exclusivo na capa da Billboard Brasil #9
Por onde passa, Gusttavo Lima arrasta multidões. Nas pistas de pouso, nos mais distantes recantos deste país, há sempre uma centena de pessoas à sua espera. Ele virou referência, não apenas na música, mas também como símbolo de superação. Afinal, sua vida é digna de filme.
Da infância pobre ao sucesso em mais de 70 países, seguido de um turbulento rompimento com seu escritório musical que o levou à falência, ele ressurgiu. Lançou um dos mais bem-sucedidos projetos musicais do país, o “Buteco”, que só na edição de de Belo Horizonte (MG), neste ano, colocou 80 mil pessoas no Mineirão –com um tíquete médio alto, para os padrões brasileiros.
Nesta entrevista exclusiva para a capa da edição #9 da Billboard Brasil, Gusttavo Lima fala sobre a pausa no projeto que mudou sua realidade. Em mais de uma hora de conversa, o Embaixador, como ficou conhecido, faz um balanço completo de sua vida e carreira, além de deixar transparecer o grande empresário que é. De caneta em punho, rabisca os milhões de faturamento, sabendo exatamente de onde vem cada tostão da sua fortuna.
Como foi a decisão de acabar com o “Buteco”?
O “Buteco” é um dos maiores projetos da música sertaneja e da música popular brasileira. Mas acredito que tudo, para ser especial, tem que ter começo, meio e fim. É legal também parar enquanto está em alta. A gente começou lá em 2017 e, desde então, realizou mais de cem edições incríveis, criando um novo modelo de evento no mercado. Agora vamos dar uma pausa. Daqui a três, quatro ou cinco anos, eu não sei o que vai ser. A gente pode pensar em voltar.
Como surgiu a ideia desse projeto?
Essa história é longa, começou lá em 2013. Eu estava de férias, fui na casa da minha mãe e passei no estúdio de um amigo. Regravei umas 12 músicas e, depois, esse CD desapareceu. Após uns 20 dias, um amigo meu de Patos de Minas [MG] me ligou e falou: “Esse CD voz e violão que você gravou está explodindo aqui, tocando em todos os bares”. Aí gravamos o primeiro DVD “Buteco”, lá em 2014. Foi um sucesso, mas ainda não era um evento. Em 2017, gravamos o segundo volume e, aí sim, virou uma festa. Começamos a tocar para 4 mil ou 5 mil pessoas sentadas. Foi crescendo e virou o que virou.
E quando ganhou tamanho de estádio?
Em 2019. Naquele ano, botamos 60 mil pessoas em Brasília, 50 mil em Goiânia, e assim sucessivamente. Fomos para São Paulo, fizemos todas as capitais, com sucesso em todas as edições. O “Buteco” foi um projeto que nunca deu um centavo de prejuízo.
Quanto desse lucro vem do ingresso e quanto vem do bar?
Dos ingressos devem vir uns 70% da renda, e uns 30% do bar. Por exemplo, em Goiânia, nós temos um faturamento de milhões com o bar. Mas, desse montante, 50% são de despesa. Vai sobrar metade, com que a gente paga o palco, o espaço, os artistas. O dinheiro da bilheteria praticamente sobra. É muito lucrativo.
É equivalente a um festival como o VillaMix nos tempos áureos?
É muito maior. Quando colocavam 40 mil pessoas no VillaMix de Goiânia, eles faziam cerca de ¼ do que a gente alcança de bilheteria. O tíquete médio do “Buteco” é muito alto [cerca de R$ 500]. É por isso que estou parando um pouco de fazer, para dar acessibilidade aos fãs que não têm essa grana toda. O “Buteco” é o projeto mais fora da curva da música sertaneja. E não o iniciei visando ganhar dinheiro. Porque, se fosse, eu cantava uma hora e meia e tchau, valeu. Mas não. Eu faço quatro ou cinco horas de show, é o projeto da minha vida.
Disseram que você se preocupa com pequenos detalhes do “Buteco”, como a temperatura da bebida. Procede?
Tomar cerveja quente em evento não dá. Tenho que me preocupar com tudo. Acabou o energético, acabou o uísque, liga na distribuidora e compra um caminhão de energético e um caminhão de uísque. Graças a Deus a minha equipe é muito boa, e a gente nunca se enrolou. Qualquer ocorrência no “Buteco” pode refletir no nosso nome e na nossa marca e, por isso, contamos com um grupo de advogados para cuidar de qualquer problema ou processo que possa surgir.
Fica claro em seus shows que há um público que se veste como você, que treina como você. Nota-se claramente que a sua imagem tem um peso enorme no “produto” Gusttavo Lima.
Tem sim, faz parte. Quando eu passei a me vestir assim, em 2017, foi quando comecei a cuidar da imagem, da aparência. Não do corpo, porque sempre gostei de treinar. Mas é legal as pessoas verem você bem –também por conta dos negócios. A gente tem várias empresas, faz networking o tempo todo, reunião com grandes empresários, banqueiros. A roupa muda a forma como as pessoas te enxergam. O público gosta, eu também. O lugar onde eu ando mais malvestido é em casa, com chinelo de dedo. Mas quando eu boto o pé para fora, eu tenho que me portar como Gusttavo Lima, conservando a minha essência.
*Esta entrevista foi originalmente publicada na edição #9 da Billboard Brasil impressa. Compre ou assine a revista aqui.