Fenômeno na internet, aniversário da Batalha da Aldeia é ainda melhor ao vivo
Evento consagrou trio Neo, Tavin e Apollo como campeões
Na noite de sábado (27), o Clube Atlético Juventus, em São Paulo, foi o epicentro da cultura hip hop na América Latina com a BdA 8 Anos, edição de aniversário da Batalha da Aldeia.
O trio vencedor foi composto por Tavin, Neo e Apollo. Este último também ganhou os prêmios de MVP (como melhor MC do evento) e de fatality (dado à melhor rima). Na final, eles venceram Guri, Barreto e Jotapê por três rounds a zero.
Neo e Apollo, inclusive, ganharam um patrocínio MIBR, empresa especializada em esportes eletrônicos e que passou a investir na cultura de freestyle. Para a Billboard Brasil, Apollo falou sobre a emoção da vitória e sobre o que achou da festa da Batalha da Aldeia.
“Não esperávamos esse 3 a 0 na final. Foi muito difícil, mas tínhamos o foco de ganhar todas as fases e deu certo”, resumiu.
Como foi a Bda 8 Anos
Perto de completar uma década de existência, a Batalha da Aldeia nasceu e cresceu no mundo digital, com transmissões dos eventos via YouTube, e isso fica muito claro na sua festa de aniversário.
A ideia é que mesmo quem está presente fisicamente no evento interaja nas redes sociais –seja declarando sua torcida ou compartilhando imagens em tempo real.
Com abertura dos portões prevista para às 15h, a fila na entrada do clube já era imensa por volta das 12h. A reportagem da Billboard Brasil chegou no local por volta das 17h e enfrentou cerca de 1h de fila, junto de convidados dos MCs e influenciadores. Sim, ninguém escapou dela.
Muita paixão
Dentro do evento, tudo funciona em prol de um grande espetáculo. Os 33 MCs, que se dividiram em trios, duelam em um octógono durante quatro fases, sendo que os duelos têm três rounds, no melhor estilo UFC, um modelo consagrado nos aniversários da Batalha.
Mas vale lembrar que, para além das edições de aniversário, a Batalha da Aldeia acontece toda segunda-feira, de forma gratuita, em uma pequena praça em Barueri, cidade da Grande São Paulo, e costuma receber centenas de pessoas em edições mais cheias.
Na festa, os ingressos mais baratos custavam R$ 50 e, ao todo, foram vendidos cinco mil convites. O Clube Juventus estava bem, bem cheio.
O clima durante as cerca de quatro horas de evento é de festa e o frisson vai crescendo conforme a final vai se aproximando. O público tinha seus favoritos, mas quem decide os vencedores de cada batalha são os jurados –Allan Freestyle, Motta e Alansa.
A magia da vida real
As batalhas de rima ganharam popularidade nos últimos anos com recortes virais na internet, atraindo em peso a geração z, que foi público majoritário na BdA 8 anos. Mas não há nada como a energia do evento presencial.
Muitos dos jovens presentes ficavam boquiabertos a cada rima, meio como se o que acontecesse ali tivesse uma dimensão diferente do que fica registrado nas câmeras.
Porém, o glamour que grandes MCs ganharam nas redes sociais faz com que boa parte do público grite não pela melhor rima, mas pelo MC de quem ele é fã. Numa cultura em que, por muitas vezes, a plateia é quem decide o vencedor, esse comportamento deve ser repensado.
Essa distorção pode até dar a impressão de que um ou outro resultado foi injusto. Mas, na verdade, a voz do povo nem sempre é a voz da razão. No aniversário de oito anos da Batalha da Aldeia, venceu de fato o trio que saiu melhor.
E o hip hop?
Assistir a um evento de batalha de rimas com uma dimensão tão grande, com tantas marcas envolvidas e numa dinâmica de espetacularização, gera uma pergunta óbvio: isso não distancia as pessoas dos fundamentos da cultura hip hop?
Reportagem da Billboard Brasil já mostrou que há quem critique tal meio, mas essas vozes são minoritárias. Entre a velha guarda dessa cultura, a ideia é que o fenômeno atual é imparável, e que o mais importante é passar a mensagem do que é o hip hop e seus pilares para esse novo público.
Da sua maneira, a Batalha da Aldeia consegue fazer isso —mesmo com um envolvimento quase imperceptível de DJs ou até de elementos como grafite e break dance, que poderiam somar. O evento tem diversidade no público e no line up. Com orientação dos organizadores, as rimas devem respeitar padrões mínimos de civilidade. E, a todo momento, os apresentadores Bob 13 e Alva pedem a participação do público.
No fim das contas, a proposta da batalha vem dando certo nos números e na propagação de uma cultura que está em processo de renovação.
