Thiago Mansur lança ATKO e conta como ‘passou a perna’ para virar DJ
Ex-modelo da Calvin Klein, produtor virou DJ na cara e na coragem
O produtor e DJ Thiago Mansur é, hoje, um dos artistas mais ouvidos da eletrônica no Brasil. Desde 2016, como muitos outros produtores da música comercial eletrônica, ele incorporou sucessos da MPB às fórmulas da pista e viu os números do duo JetLag decolarem. Desgarrado do projeto que o revelou e lançando o ATKO, ele conta que sua trajetória quando ele se intrometeu na trilha sonora de um desfile da Calvin Klein.
“Fui morar em Nova York trabalhando como modelo”, conta, relembrando os tempos em que se tornou rosto de uma das marcas mais populares do mundo. “E eu era aquele modelo que ficava um mês no escritório para eles testarem a coleção, então comecei a palpitar nas trilhas dos desfiles. ‘Pô, meu, não tem um Beatles nisso? A temática é toda ‘flower and power’… Tem de ter um ‘Yellow Submarine'”, ele resenha em sotaque paulistano.
O que o jovem Thiago fez, no entanto, deixa sua versão mais madura um tanto quanto envergonhada. “Me dá a trilha aqui que eu vou botar”, disse em um arroubo de coragem, já que não entendia muito de edição de áudio. “Recortei a trilha no CubeBase [software de edição e produção de áudio] e toquei. Hoje eu sei que o que eu fiz era uma m… Como é que eu pego o trabalho de um produtor e quero mudar? Se eu conhecesse quem fez aquelas trilhas eu teria já pedido desculpas pelo inconveniente. ‘Posso te pagar um jantar?'”, dizm entre gargalhadas.
Mas a infração ética acabou percebida como ousadia e ele começou a ser chamado para tocar nos afters das festas novaiorquinas. “Eu baixava um som e subia o outro. Parecia criança no microsystem. Depois que vi tutorais, fiz aulas e aprendi a ser DJ mesmo. Olha que louco, nem tocar eu sabia. O bom gosto eu sempre tive, mas se tivesse algum profissional me vendo certamente acharia que eu era muito ruim. É óbvio que o Thiago de hoje não faria isso, mas foi algo que mudou meu destino”, conta.
Do JetLag ao Atko
Apesar de ter sentido o gosto de ser hitmaker na eletrônica comercial com o JetLag, Thiago diz ter sentido também os efeitos negativos do sucesso.
“Nós tivemos duas músicas que foram as mais tocadas do Brasil [remix de ‘Oração’, da A Banda Mais Bonita da Cidade, e de ‘Trem Bala’, de Ana Vilela], ficamos ao lado de Ed Sheeran, Dua Lipa [nas paradas]”, conta.
“Depois veio colaboração com Alok, Anitta… Só que por ser um duo, ter agência, empresário, rola uma pressão por resultado comercial. Muitas vezes eu vinha com alguma ideia e recebia uma negativa por isso”, explica.
Com o ATKO, Thiago busca uma liberdade maior para explorar raízes de gêneros como o house.
“Voltei a ser aquele nerd que faz música no quarto. Dane-se se essa música não vai ‘performar’. Sei lá, 99% do tempo eu fui feliz fazendo. Daí que veio a ideia do ATKO. Eu acho que vai ser um projeto comercial para o underground e underground para o comercial”, conta citando os produtores Black Coffee e Peggy Gou como referências.
Mas o projeto, que agora lança o single “Clareou”, demorou a sair para a pista.
“A minha mulher estreou na TV, depois trocou de emissora… Aí veio a gravidez e eu não queria estar distante. Então minha carreira ficou postergada”, relembra citando a advogada e apresentadora Gabriela Prioli.
Da academia ao casamento com Gabriela Prioli
Certa feita, esbaforido em uma esteira da academia, o produtor recebe um cutucão. “Você é DJ?”, perguntava uma frequentadora enquanto o bonitão recuperava o fôlego. Um certo desdém na fala chamou a atenção de Thiago.
“Depois a gente trocou contato, conversamos e ela viu que eu não era burro”, conta, gargalhando. A advogada já sabia quem era o DJ por causa de amigos gays que haviam dançado ao som de Thiago. Daí para frente, o cutucão virou flerte, namoro, roteiro de videoclipe e um casamento de dez anos, com direito a um rebento.
“Eu estava solteiro e não queria ficar com ninguém. Tinha tido dois namoros longos e estava querendo passar o rodo em geral. Mas era ela, então tinha que ser aquilo!”, comenta.