Yago Oproprio volta ao ARVO como sensação do rap: ‘sei o que é perrengue’
Músico paulista celebra paternidade e revela influências latinas e caribenhas


Quando os caminhos de Yago Oproprio e do ARVO Festival se cruzaram pela primeira vez, em 2022, ambos estavam em outro patamar. Com apenas singles, o rapper paulista sequer havia lançado o EP “O Inquilino” (2023) e seu primeiro álbum completo “Oproprio” (2024), que catapultou a sua popularidade e foi indicado ao Grammy Latino.
O festival, por sua vez, acontecia em uma estrutura bem mais modesta. Na noite deste sábado, eles se reencontraram no gigantesco Kartódromo Sapiens Parque, o que dá uma boa dimensão do progresso, tanto do evento de Florianópolis quanto do artista, nos últimos três anos.
Em entrevista à Billboard Brasil depois da apresentação, o músico relembrou a infância na Venezuela, onde conheceu os ritmos latinos. Ele também celebrou a iminente paternidade e refletiu sobre os desafios de viver a ascensão social sem perder a conexão com as origens.
Billboard Brasil: Você passou um tempo na Venezuela quando criança. Como essa vivência influenciou sua musicalidade?
Yago Oproprio: Fui morar na Venezuela com 11 anos. Acho que o impacto na minha carreira foi esse contato direto com artistas de lá, tipo Orishas e Calle 13. E também ritmos como reggaeton, salsa… Fiquei muito obcecado por Calle 13, especificamente. Isso aparece até na minha forma de cantar. Muitas vezes, subliminarmente, eu troco o “r” pelo “l”, tipo em vez de dizer “não me importa”, eu falo “não me impolta”. Isso vem do René, do Calle 13 — ele tem esse sotaque porto-riquenho que eu adotei pro meu flow. Taí um exemplo direto.
Já pensou em incluir espanhol nas suas letras?
Já testei, sim. Hoje em dia estou compondo mais em espanhol e buscando misturar. Inclusive, tem uma música minha que vou lançar aqui como um easter egg: em “Modus Operandi”, que é a oitava faixa do meu disco, eu falo “Não posso me sucumbir para te contestar”. Em português, “contestar” é uma coisa, e em espanhol, “contestar” significa “responder”. Então tem esse jogo duplo de sentido.
Com apenas um disco lançado você já tem mais de 3 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Como está sendo lidar com essa rápida ascensão na carreira?
É um aprendizado. Uma loucura, uma turbulência. Muita gente, muita opinião. Tem que se cuidar, fazer terapia pra não ficar dodói. Mas ao mesmo tempo são várias bênçãos, vários sonhos sendo vividos. É um privilégio poder trabalhar com o que se ama.

Recentemente, você anunciou que será papai. Como você está vivendo essa nova etapa da vida?
Tô mergulhado nisso. Estudando, vendo coisas sobre paternidade, sobre nenéns. Buscando inspirações — talvez isso vire música, talvez vire um álbum. Não sei. Estou vivendo, respirando a paternidade. Estou muito ansioso pra chegada dela. A previsão é 15 de setembro. Vai ser virginiana.
Em “Helipa”, você fala sobre o dilema de viver a ascensão social sem perder a conexão com as origens. Como lida com isso hoje?
É um dos maiores dilemas. Quando a gente começa a ganhar dinheiro, é fácil esquecer quanto vale uma hora de trabalho. Tento não me deixar esquecer disso. É uma loucura, porque a gente quer conforto, quer dar o melhor pro nosso filho, mas às vezes o dinheiro parado na conta tá rendendo o que um trabalhador recebe por mês. Já trabalhei em shopping, em telemarketing, sei o que é perrengue. Tipo, pagar pra ir trabalhar. E agora, saber que o que tá rendendo na minha conta é o que eu ganhava… é um conflito constante. Vivo com esses dilemas.
Seu flow tem uma pegada bem melódica e você já disse que não quer ser rotulado como rapper. Como você definiria o seu som?
Não sei, cara. Fazer música pra mim é sentir. Às vezes é um beat específico que faz meu coração palpitar. Pode ser um samba, pode ser qualquer coisa que seja um terreno fértil pra criar. Não gosto de me autointitular nada. Acho que a arte tem esse lugar de liberdade: fazer o que a gente quiser, quando quiser. Se um dia eu quiser cantar xaxado ou repente, é só estudar e fazer.