Entenda como o Bira Presidente (e seu Fundo de Quintal) revolucionaram o samba
Criado a partir de um bloco carnavalesco, grupo estabeleceu como o gênero seria
O Fundo de Quintal nasceu nas rodas do bloco Cacique de Ramos e é o responsável por transformar profundamente a sonoridade do samba — das batidas aos instrumentos. Bira Presidente, um de seus fundadores, morreu neste sábado (14) em decorrência do alzheimer e de um câncer no pâncreas que enfrentava. O velório de Ubirajara Félix do Nascimento será realizado nesta segunda (16) na capela 9 do Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, zona oeste carioca.
Em reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, o jornalista Lucas Brêda relembra como a criatividade e o improviso deram origem a algumas das marcas registradas do grupo. “Você sabe da história que o Sereno fez o tantã para parar de carregar peso? A preguiça fez o homem inventar a roda”, brinca Junior Itaguay, atual banjista e vocalista do Fundo, em declaração à Folha.
Foi assim que nasceu o tantã — criado por Sereno a partir de uma lata de 20 kg, papel de cimento e sol. “Pedi para fazer um compensado daquele instrumento de lata. O nome de tantã fui eu quem dei”, contou ele.
O repique de mão também é invenção da casa. Segundo a Folha, o instrumento foi idealizado por Ubirany, que adaptou um repinique de escola de samba para tocar com as mãos, criando o timbre que marcaria a levada do grupo.
Outro nome fundamental é o de Almir Guineto, que “tirou o braço do banjo e botou o do cavaquinho”. O banjo de quatro cordas virou referência, ajudando a dar potência à batucada sem precisar de amplificadores. “O banjo é africano, muita gente não sabe, mas ele não vem do country”, afirmou Itaguay ao jornal.
As inovações do Fundo de Quintal no samba
1. Tantã (substituindo o surdo)
- Criado por Sereno para tocar com as mãos, o tantã tem estrutura de madeira ou alumínio, com som menos intenso que o surdo tradicional — permitindo mais clareza ao conjunto rítmico. Foi fundamental para reformular a base das rodas de samba
2. Repique de mão
- Adaptado por Ubirany a partir de repinique de escola, o instrumento passou a ser tocado com dedos, ganhando abafadores e aro rebaixado. Seu timbre agudo e suas viradas rápidas se tornaram marca registrada do samba‑pagode.
3. Banjo com braço de cavaquinho
- Inovação de Almir Guineto: pegou o banjo de cinco cordas e adaptou um braço de cavaquinho, resultando em instrumento com volume ideal para rodas sem amplificação e com sonoridade mais leve e africana.
4. Renovação no samba
Além das modificações nos instrumentos, o grupo também:
- Popularizou o partido‑alto nas rodas suburbanas, recuperando raízes do samba tradicional de forma moderna
- Estabeleceu o termo e gênero pagode, com encontros em quintais e sedes de bloco que romperam o formato “clube” do samba carioca
- Introduziu um novo estilo harmônico e percussivo, mais refinado e com leveza, que influenciou toda a cena musical do samba nas décadas seguintes