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Em show marcado por defeitos, Pabllo Vittar evidencia-se rara no pop brasileiro

Em show marcado por defeitos, Pabllo Vittar evidencia-se rara no pop brasileiro

Estreia do show de 'drag com banda' em Recife teve transtornos —e sinceridade.

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Pabllo Vittar não está na piscina do hotel em Boa Viagem, Recife, em que se hospeda. É um sábado (7) chuva-e-sol, muitas horas antes de seu aguardado show de “drag com banda” no festival No Ar Coquetel Molotov.

Sua equipe, sim, aproveita a rara folga para uns goles, resenha de estrada. Um hóspede se aproxima com intimidade de ontem, como se já os conhecesse, e pede uma foto com o entrosado grupo. A fotografia revela que aquela equipe já havia feito algum meio de campo para atender pedidos de autógrafos e selfie com Pabllo —ao mesmo tempo em que devem ter resguardado à estrela seu direito a um banho de sol em alguma calmaria.

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Não é nem o décimo show de Pabllo com Henrique Valerio (guitarra), Bruno Silveira (bateria), Junior Camilo (teclado) e Nelson dos Santos, o Juninho (baixo). Essa conquista é comemorada aos poucos, de palco em palco, de resenha em resenha —incluindo o fato de Juninho não ter encontrado adversários no EA FC 25 (simulador de futebol) no videogame trazido pelo roadie Breno Kayan, o Jaiminho. As maiores gaitadas de felicidade vêm deste que é ex-carteiro e cujo apelido faz referência ao personagem de mesmo ofício do seriado “Chaves”. Mas a descontração também parece indicar um ambiente tão raro quanto é a musa que os comanda e por eles é protegida: há um sentimento de integração e respeito que convivem ao lado da obrigação de fazer uma das maiores popstars do Brasil tomar lugar maior pelo canal mais importante de um artista popular: o palco.

Com defeitos, show de Pabllo Vittar marca também força orgânica da popstar

Então, vamos ao show. Às três da manhã, o clima do festival já havia sido monopolizado pela ansiedade. É a estreia do show “Batidão Tropical vol. 2” em Recife; os ingressos se esgotaram.

Fazendo quatro shows por semana, Pabllo nem sempre emplaca a versão completa com banda junto aos contratantes —muitas vezes, sua simples-enorme presença drag é suficiente. A rotina parece apertada, corrida. Monta-se, desmonta-se, grava clipe de “Vira-Lata” com o tímido João Gomes baixando de surpresa no Ibura, uma das maiores comunidades de Recife.

 

Ao mesmo tempo, o show que se iniciava ali já havia monopolizado atenções no The Town, em 2023, um momento raro neste tipo de festival para artistas brasileiros. É culpa dela, dessa presença, mas também da música que todos no palco querem fazer, ao vivo. E, a partir daí, para onde vai Pabllo Vittar? Ela aguentaria uma rotina de shows parecida com a das cantoras de forró e brega que tanto admira, aquele papo de um show por dia?

“Não, eu não aumento [o número de datas]. Eu estou priorizando muito minha integridade física, minha saúde mental”, disse à Billboard Brasil horas antes no camarim. A resposta chega afinada com o que ela fez até agora nesta música pop brasileira: parece tudo orgânico —desde uma versão desavergonhada de “Lean On”, que virou “Open Bar” à vontade de assumir os maiores hits do tecnomelody e do forró. Como tudo isso ela viveu antes de cantar, no palco ela surge aos olhos do público como uma ponte erguida naturalmente entre o sonho de cantar no Brasil e o lugar de ser propriamente uma popstar.

 

@jooyceepeixoto♬ som original – Jooycee Peixoto

 

Mas a histeria do público pernambucano não esperava que o show parasse algumas vezes. Primeiro, ela não se ouvia pelo retorno; depois, viu o VS (“virtual sound”, a base de vozes e instrumentos que complementam a banda) falhar.

A cara de Pabllo é de frustração. Mas essa expressão dura um segundo, menos até. Para a multidão, ela segura a onda —mas sem ser hiper simpática, apenas sincera. E geral compra o barulho (ou a falta de). Ela sai do palco, volta, ora irritada, ora compreensiva. De repente, o colar no pescoço começa a lhe estrangular. Quem tenta retirar é Venom, seu diretor técnico. Por trás de Pabllo, ele tenta, mas falha uma, duas vezes. De frente para o público, Pabllo finge falar desaforos fazendo carões exagerados para que a plateia entenda a dinâmica de um dia em que está tudo dando errado para esta popstar que também não quer ficar fazendo cara de “tudo bem”. Os quiproquós seguem e assim seguirão até “Não Desligue O Telefone”, a última. Antes disso teve todos os hits da atual lavra como “Mega Príncipe”, “Pede Pra Eu Ficar”, “Ai, Que Calor” —esta de momento especial em que interpola com “Frevo Mulher”, de Zé Ramalho e Amelinha.

@tltfernando fiquei horas na grade esperando a vez dela kkkkk @Pabllo Vittar #batidaotropical2 #pabllovittar ♬ som original – Fernando Torres

Pabllo intui sabiamente uma medida entre o protocolo e a sinceridade. Sem poder prolongar seus agudos, ela pede “gente, canta, porque eu não posso, não estou me ouvindo”. Outra hora, é desaforada com um fã que está cantando errado. Ela olha para a plateia e zoa a face da pessoa, a imitando, fazendo zoada com a boca. Dedica uma canção para amiga Jaloo, recebe um CD e como não tem como autografar, esfrega na bunda. Uma sutileza na arte do foda-se.

“É tudo orgânico, quando vejo já estou ali”, disse também antes do show.

E, assim, a plateia não se importou com nada. O som falhava e o coro de “melhor artista do Brasil” ecoava. “Alguém dá esse retorno para a mãe! Ela tá sofrendo!” gritou-se antes da aclamação “drag com banda” surgir em uníssono.

Tudo o que se viu, ouviu e não se ouviu em Recife foi um exemplo de exceção: Pabllo Vittar é um fenômeno orgânico; artigo raro, portanto, no pop dos últimos anos.

pabllo
Pabllo entrega CD “autografado” na bunda para fã (Hannah Carvalho/Coquetel Molotov)

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