Dave Mustaine, do Megadeth, avalia política nos EUA: ‘Irmão vai matar irmão’
Guitarrista de 62 anos vem ao Brasil em abril para show único


Na discografia do Megadeth, críticas políticas e questionamentos às estruturas da sociedade são temas recorrentes em singles, como “Symphony Of Destruction” e “Holy Wars… The Punishment Due”, e até em discos, como “The System Has Failed” (2004) com versos bem claros contra a guerra no Iraque.
O vocalista, Dave Mustaine, de 62 anos, já deu declarações anti-aborto, usou os princípios cristãos para se dizer contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e até afirmou que Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, teria forjado diversos massacres no país para legislar contra o porte de armas.
Mas, em entrevista para a Billboard Brasil, o cantor preferiu usar um tom mais ameno ao falar sobre questões políticas e sociais. Um ritmo bem diferente do que a banda trouxe nos 40 anos de carreira.
“Irmão vai matar irmão. Eu não falo muito sobre política, porque as pessoas me entendem mal quando eu falo. Tento explicar de um jeito para entenderem que eu não estou falando de azul ou vermelho, ou verde, ou branco”, diz Dave.
“Não estou falando sobre partidos políticos. Falo sobre nosso direito de sermos livres. No final do dia, se você tratar as pessoas como gostaria de ser tratado, o mundo seria um lugar muito melhor”, simplifica.

Na estrada
A série de polêmicas não afetou a reputação da banda, criada por ele em 1983. Quatro décadas depois, eles lançaram o disco “The Sick, the Dying… and the Dead!”, aclamado pela crítica e pelo público.
“Fama é como uma droga. Não é algo que você pode comprar em um pacote. É um sentimento, uma adrenalina que faz bem para seu ego, para o ID. Quando alguém diz que você é um dos melhores, isso faz seus cabelos da nuca se arrepiarem. Saber que todo mundo está gritando por você, sentir essa euforia faz você querer gritar: ‘Porra, sim!'”, afirma o cantor.
“Então é bom ter muito cuidado. Eu não deixo a fama me fazer agir de maneira idiota. Eu não deixo isso me controlar, eu não corro atrás dela. Não fico triste se não a tenho”.
Dave teve dificuldades ao longo da vida. Sobreviveu a uma overdose nos anos 1990, foi internado uma dezenas de vezes em clínicas de reabilitação, já morou na rua e teve uma lesão que o deixou sem tocar guitarra por mais de um ano no início dos anos 2000. Em 2019, sofreu outro baque: recebeu o diagnóstico de câncer na garganta.
“No início, eu fiquei bem surpreso e não aceitei muito. O jeito que o médico me falou foi horrível. ‘Você tem câncer’ e eu pensei: ‘O quê? Ele não está fazendo uma piada, né?’. Sentei no meu carro e entendi o que tinha acontecido”, conta.

Os tropeços não o impediram de se tornar um dos maiores guitarristas de todos os tempos e alavancar a carreira do Megadeth ao redor do mundo. Dave ficou sóbrio, se casou, se divorciou e teve dois filhos.
“Eu tive uma ótima vida. Não vou agir como se não tivesse tido. Porque assim… Eu deveria estar preso, ou morto, ou em algum hospital psiquiátrico por aí”, avalia.
O Megadeth se apresenta em São Paulo, no Espaço Unimed, no dia 18 de abril, com a turnê “Crush The World Tour”. O show promete surpreender os fãs –veja a disponibilidade dos ingressos aqui.
“Acho que nunca tivemos um show como esse antes, estou animado!”, diz Dave. “Tenho um profundo amor pelos nossos amigos de bandas do Brasil, pelo Rio e as pequenas casas de show que passamos desde a primeira vez que fomos para lá.”
A formação atual ainda conta com James LoMenzo (baixo), Dirk Verbeuren (bateria) e Teemu Mäntysaari (guitarra), que entrou na banda após a saída de Kiko Loureiro, anunciada no final de 2023.
Questionado sobre a importância de Kiko para a banda, Dave não poupa elogios ao ex-guitarrista. “Ele tem um faro que funcionou bastante com as nossas músicas”, explica.
“Ontem eu estava repassando as músicas que vamos apresentar na América do Sul. Em uma das músicas, ‘Poisonous Shadows’, ele toca piano bem no final e é muito lindo. E eu fiquei pensando se, na nossa história, alguém poderia ter tocado piano como Kiko”, completa o cantor.