A estreia televisiva de Lady Gaga aconteceu em 22 de abril de 2001, na terceira temporada de “Família Soprano”. Aos 15 anos, ela ainda era Stefani Germanotta e foi escalada para viver uma das amigas de Anthony John “AJ”, filho de Tony Soprano. A pequena participação costuma ser revivida como trívia pelo público que não tinha idade para assistir à série, mas chegou à vida adulta acompanhando a carreira da artista.
O retorno às telinhas aconteceria apenas em 2015, quando deu vida à Condessa em “American Horror Story: Hotel”. O papel macabro lhe rendeu um Globo de Ouro e a catapultou a voos mais ambiciosos como atriz. Para além da música, Gaga deixou sua marca no cinema, atuando em cinco longas – sendo três deles em papéis de destaque, caso de “Nasce Uma Estrela” (2018), “Casa Gucci” (2021) e “Coringa: Delírio a Dois” (2024).
Quando não está em estúdio ou turnê, ela se desdobra em aparições televisivas, seja como apresentadora do programa de esquetes “Saturday Night Live”, seja como jurada da competição de drag queens “RuPaul’s Drag Race”. Na abertura das Olimpíadas de Paris no ano passado, elevou o sarrafo ao interpretar “Mon Truc en Plumes”, da bailarina e cantora Zizi Jeanmaire, em um número com clima de cabaré, plumas e coreografia.
Ao longo da carreira, a artista colocou o dedo em todos os projetos em que se envolveu. Ainda que a figura da estrela da música pop não seja nova no show business, a ascensão de Gaga na era das redes sociais tornou sua imagem inescapável. E como representante da própria marca, ela usa esse espaço para se envolver em empreitadas que reafirmam sua identidade – caso da Haus Labs, empresa de maquiagem vegana fundada em 2019.
O nome faz alusão às “casas” do ballroom, onde a figura da matriarca determina o estilo do coletivo. Afinal, ela é chamada de Mother Monster por seus apoiadores. Inclusive, seria impossível falar sobre Gaga sem mencionar seu trabalho em defesa dos direitos da comunidade LGBTIAPN+. O infame vestido de carne usado no “Video Music Awards”, em 2010, era um protesto contra as políticas direcionadas à comunidade queer nos Estados Unidos.
Em fevereiro deste ano, ao receber o Grammy de Melhor Música Pop em Grupo, por “Die with a Smile”, parceria com Bruno Mars, ela usou o momento para jogar luz sobre a comunidade trans, alvo da administração do presidente Donald Trump. “Pessoas trans não são invisíveis, elas merecem amor. A comunidade queer merece ser reconhecida, pois a música é amor”, declarou a artista.
O ativismo levou à criação da Fundação Born this Way, concebida ao lado da mãe, Cynthia Bissett Germanotta. Focada na saúde mental das novas gerações, a ONG realiza ações em escolas e atua na conscientização sobre o tema em nível nacional. Em parceria com o Conselho Nacional de Saúde Mental, desenvolveu um treinamento para estudantes do ensino médio aprenderem a lidar com o autocuidado. Desde 2022, o programa foi implementado em 600 escolas, alcançando 42 mil adolescentes.
Em diferentes ocasiões, a cantora compartilhou sua própria batalha com saúde mental, estresse pós-traumático, síndrome do pânico e fibromialgia. Na série documental “Five Foot Two”, lançada em 2017 na Netflix, ela aborda os desafios físicos e mentais da carreira. Em um raro acesso aos bastidores, Gaga revela os percalços do estrelato, que lhe custaram a saúde. Foi nesse período que se ausentou dos holofotes para cuidar de si – incluindo o cancelamento de shows, como o que faria no Rock in Rio naquele ano.
Em 2018, ao receber o prêmio da revista ELLE como uma das mulheres que se destacaram no entretenimento, ela ressaltou a força das sobreviventes de violência sexual: “As coisas mudaram quando fui violentada aos 19 anos. Depressão, ansiedade, transtorno alimentar e trauma – são alguns exemplos da manifestação da minha dor. Para mim, ser uma mulher em Hollywood significa ter uma plataforma. Tenho a chance de fazer a diferença. Quero ver a saúde mental se tornar uma prioridade.”
Já o feminismo de Gaga é recorrente nas letras das músicas, mas também no discurso e na forma como ela navega a fama. Na virada dos anos 2000, o cenário da música pop pulsava com o trabalho de Britney Spears e Christina Aguilera, ao mesmo tempo em que Beyoncé e Rihanna surgiam com força. Quando a artista debutou em 2008 com “The Fame”, ela adicionou a esquisitice que faltava ao mosaico da música mainstream.
A teatralidade maximalista dos figurinos contrastava com a moda da época, marcada por calças de cintura baixa e sensualidade óbvia. Em seu guarda-roupa, havia espaço para looks com inspiração fetichista, o clima gótico dos “new romantics” e o neon das raves. Hoje em dia, ela ainda bebe da inspiração do início da carreira, mas o armário foi abastecido com peças de alta-costura e grifes.
A entidade Gaga tornou-se maior do que a própria artista – até porque não faltam mitologias envolvendo sua persona pública – e cada pedaço dessa história orbita em torno de sua figura. Com a maturidade, ela aprendeu a se recolher para cuidar da pessoa física. Prestes a chegar aos 40 anos – nasceu em 28 de março de 1986 –, a artista sabe que seu legado vai perdurar. Independentemente do que acontecer daqui pra frente, será impossível apagá-la da história da música.