Como o Coquetel Molotov Negócios revolucionou a cena musical da Paraíba
São 3 dias de programação com oficinas, showcases e debates em João Pessoa
Enquanto Campina Grande se preparava para iniciar as comemorações do Maior São João do Mundo, a cerca de 130 km dali, João Pessoa dava início a outro tipo de celebração no dia 30 de maio. O Coquetel Molotov Negócios, braço do festival homônimo dedicado à formação profissional, estreava sua primeira edição na capital paraibana em clima de festa e euforia. O evento reuniu mais de 5.000 pessoas em três dias de programação, com conversas instigantes, reflexões sobre o mercado musical e a presença de convidados de diversas partes do país, todos empenhados em impulsionar carreiras de artistas iniciantes e promover talentos emergentes do estado.
A sessão de abertura, realizada no histórico Hotel Globo — hoje um espaço cultural público —, contou com a participação de artistas paraibanos como A Fúria Negra e Clara Potiguara, que representaram a força de corpos LGBTQIAP+ e povos originários. Bione e Luiz Lins, destaques da cena hip-hop e trap, respectivamente, abrilhantaram o momento festivo, que ainda foi animado pelo típico rubacão servido aos presentes.
Com o gelo quebrado, o evento seguiu no dia seguinte com atividades distribuídas por diversos espaços do Centro Histórico de João Pessoa. Os participantes puderam conferir dicas e estratégias para o mundo digital com equipes da ONErpm e Deezer, além de uma aula com Clemente Magalhães (o popular Clé, do Corredor 5), que abordou tendências de engajamento entre artistas e público nas redes sociais e plataformas de streaming. Clemente ainda aproveitou a oportunidade para gravar entrevistas com artistas e produtores do Norte e Nordeste, buscando captar diferentes perspectivas sobre o cenário musical independente.
Um dos momentos mais marcantes foi a sessão de pitchings realizada nas manhãs de sábado e domingo na Vila do Porto, importante point da cena noturna paraibana. Quarenta artistas e bandas do estado tiveram cinco minutos cada para “vender seu peixe”, demonstrando criatividade e superando as limitações de tempo. FurnigaDub e Cerebraz misturaram elementos da cultura regional com ritmos eletrônicos, enquanto cantoras como Nathalia Bellar e Bianca Rufino optaram pelo estilo clássico de voz e violão. Novos nomes, como Flau Flau e Adri L., deram seus primeiros passos inspirando-se em artistas como Glue Trip e Sofia Freire. A diversidade da cena local também foi representada por Mano DW, Side, Margaridas em Fúria e Zefirina Bomba, que trouxeram rap e rock para o palco.
“A presença do Coquetel em João Pessoa foi muito importante para a cena local. Para nós, como compradores, foi essencial perceber o quanto a Paraíba está pulsante e repleta de artistas talentosos”, destacou Fábio Cavalcanti, da AMP – Articulação Musical Pernambucana, um dos convidados de fora do estado.
O evento também relembrou e prestou homenagem a uma das artistas mais importantes do estado, como a cantora Cátia de França, que participou de um talk especial conduzido pela jornalista Lenne Ferreira. Em um momento mágico ao pôr do sol, Cátia relembrou sua juventude no Recife e suas primeiras gravações no Rio de Janeiro nos anos 1970. “Acima de tudo, tenham fé em si mesmos. Não deixem que nada os abale. Críticas aparecem, mas vocês precisam insistir. Continuem, seja na música ou na dança, qualquer expressão artística é válida”, recomendou a cantora aos mais jovens.
No domingo, foi a vez de Eliane Dias compartilhar sua vasta experiência nos bastidores da produção de grandes nomes, como Racionais MCs e Duquesa. “O Coquetel Molotov Negócios em João Pessoa nos deu a oportunidade de pensar num outro circuito que sai do que já estamos habituados, e esse intercâmbio é muito importante para que possamos vislumbrar novas oportunidades de negócios na música”, destacou Eliane.
A relevância do Coquetel Molotov Negócios chamou ainda a atenção de gestores de marcas e do poder público. Um dos resultados positivos foi o compromisso do Secretário de Cultura da Paraíba, Pedro Santos, em dialogar com festivais independentes do Brasil para aprimorar o programa Arte na Bagagem, que promove o intercâmbio de agentes culturais do estado desde 2023.
À noite, o Largo de São Frei Pedro Gonçalves recebeu uma multidão para os showcases de artistas selecionados entre os mais de 100 inscritos para os pitchings. O público pôde assistir à banda Papangu em um de seus últimos shows antes de uma turnê internacional, além do lançamento do disco Bacuri, dos Boogarins. O encerramento ficou por conta da revelação Elon e da diva Bixarte, que apresentaram um novo momento de suas carreiras, conquistando corações em todo o país.
Ao contemplar as novas gerações, especialmente jovens da Geração Z que estão ingressando no mercado cultural pós-pandemia, o Coquetel Molotov Negócios ofereceu uma visão ampla de como se inserir e lutar por espaço no meio musical brasileiro — sem depender apenas de likes e seguidores. “Foram três dias incríveis em João Pessoa. Fiquei surpresa com o engajamento do público, que demonstrou vontade de dialogar, discutir e repensar a cena musical e cultural da cidade. O Coquetel Molotov Negócios é um projeto complexo, pois alia educação e prática, e saímos daqui com a sensação de dever cumprido”, celebrou Ana Garcia, diretora do evento.
Desde sua criação, no Recife, o evento é um espaço que incentiva a conexão entre artistas, produtores e instituições em torno de um desejo comum: transformar a arte em movimento, oportunidade e permanência. Na Paraíba, provou que é bom no que se propõe a fazer. A 7ª edição do Coquetel Molotov Negócios teve patrocínio da AeC, via Lei Rouanet, e apoio da Prefeitura de Campina Grande, Funetec, Funjope e Governo da Paraíba, por meio da Secretaria de Estado da Cultura, e realização da Coda Produções, Ministério da Cultura e Governo Federal.
