Bebe Rexha: ‘Não me achava boa o suficiente. Olho para trás e me sinto uma idiota’
A popstar conta como escreveu e reescreveu seu futuro ao se transformar sem medo
Era o dia seguinte do primeiro fim de semana do The Town e bocejos denunciavam a volta tarde para casa no domingo. Mesmo assim, um estúdio fotográfico no bairro Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo, lotava seus corredores com stylists, fotógrafos e indivíduos conversando em inglês nos celulares, mas com os olhares sempre atentos para os arredores. Isso porque, em uma das cabines de fotografia, estava a cantora norte-americana Bebe Rexha, que havia realizado no dia anterior o seu show, como uma das atrações principais do festival.
Após uma sessão de fotos e do almoço ao lado da equipe, ela estava pronta para conversar e cumprir sua agenda com a imprensa. Não no cenário que havia sido montado, numa sala com o ar condicionado no máximo, duas poltronas e um backdrop com seu nome estampado.
“Podemos fazer no camarim? Tinha aquele sofá, vamos ficar mais confortáveis”, perguntou. Ao entrar no cômodo, ao lado de uma penteadeira com luzes e uma mesa com restos de frios e frutas, Bebe estava acomodada no sofá de couro com roupas confortáveis e um cobertor. Após buscar por um chiclete no fundo de sua bolsa preta da Prada e checar a imagem de seu cachorro no plano de fundo do celular rapidamente, ela estava pronta para a entrevista.
Mas antes de entrar nos detalhes de nossa conversa, é necessário responder uma pergunta vital: quem é Bebe Rexha? A cantora de 34 anos é uma das popstars mais bem sucedidas da atualidade, que carrega na bagagem feitos impressionantes como atingir a marca de 50 semanas em 1º lugar nos charts de country e de música eletrônica da Billboard, e contabilizar mais de 12 bilhões de streams e 44 milhões de ouvintes no Spotify com hits como “I’m Good (Blue)”, parceria com David Guetta, “In The Name of Love”, com o DJ Martin Garrix, “Me, Myself & I”, com o rapper G-Eazy, e “Meant to Be”, com a banda country Florida Georgia Line, apenas para citar alguns.
Sua voz é uma das mais reproduzidas da música pop e eletrônica da atualidade. No entanto, seu nome, seu rosto e sua história, nem tanto, fazendo com que muitas pessoas se surpreendam ao saber que grandes sucessos são cantados por ela. Com isso, a mesma pergunta volta, mas de uma forma diferente: quem Bebe Rexha realmente é?
Do signo de virgem, como a jornalista que vos escreve, e natural do Brooklyn, em Nova York, Bleta Rexha, como foi batizada, se apaixonou pela música aos quatro anos. Suas primeiras inspirações foram musicais como “A Pequena Sereia” e “Aladdin”. A família foi o primeiro público que ela teve de enfrentar. “Eu fazia todo mundo sentar na sala e me assistir. Eles aguentavam uns 10 minutos e depois falavam para eu ficar quieta”, conta aos risos. Bebe começou a estudar diversos segmentos da música – de trompete até canto lírico. Em casa, foi cercada por sons ecléticos e discos clássicos de Dolly Parton e Lauryn Hill, duas de suas maiores inspirações. Aos 15 anos, gravou sua primeira música profissionalmente.
Bebe tinha 19 anos quando chamou a atenção de Pete Wentz, baixista da banda de rock Fall Out Boy. O encontro resultou na participação de Bebe como vocalista da banda alternativa Black Cards, em que Pete atuava na época. Foi o bastante para que ela conquistasse o seu primeiro contrato como compositora e cantora. Ele rendeu vários frutos, como emplacar canções como “The Monster”, de Eminem e Rihanna, e “Like a Champion”, de Selena Gomez, ambas lançadas em 2013. Até o seu álbum de estreia, “Expectations”, sair em 2018, Bebe já cantava em hits do pop, do rap e do eletrônico, como “Hey Mama”, de David Guetta com Nicki Minaj.
Bebe lançou seu disco homônimo em abril deste ano. O projeto conta com faixas pop leves e dançantes, sua marca registrada, caso de “Satellite”, colaboração com Snoop Dogg, mas também expande horizontes com baladas e canções que bebem da fonte do country e do folk, inclusive, em “Seasons”, música inspirada no clássico “Landslide”, do Fleetwood Mac.
Em junho, durante um show em Nova York, a cantora foi atingida violentamente por um homem na plateia, que arremessou um celular contra o seu rosto. A partir do episódio, uma série de acontecimentos relacionados a Bebe viraram manchete, entre eles, a sinceridade da cantora na internet ao rebater opiniões de haters sobre suas olheiras, e sobre ter ganhado peso devido à síndrome do ovário policístico.
A cereja do bolo do período turbulento vivido por Bebe foi quando, em julho, ela divulgou prints de conversas com o seu então namorado de três anos, Keyan Safyari, após o cineasta criticar o fato de seu corpo ter mudado.
Antes da entrevista, a equipe da cantora avisou que os assuntos citados acima estavam terminantemente proibidos. Nos corredores, boatos circulavam de que ela estava um pouco “pra baixo”. Mas Bebe parecia estar com vontade de falar. “Sempre priorizei ser honesta sobre a minha jornada. Preciso ir para a cama todas as noites sabendo que eu fiz o melhor que pude, mesmo que tenha sido uma bagunça”, desabafa.
“Nesse último álbum, eu estava escrevendo sobre não estar mais tão apaixonada pelo meu namorado. E quando nós terminamos ele falou que deveria ter ouvido minhas músicas. De vez em quando, eu acho que minhas letras podem prever o futuro.”
Em sua terceira vinda ao Brasil, Bebe estava animada para subir ao palco no segundo dia do The Town, quando o pior aconteceu. “Faltando 10 minutos para o show, minha assistente me disse que havia deixado meu figurino coberto por pedras com as cores do Brasil, feito especialmente para a apresentação, em Los Angeles”, ela revela, ainda desacreditada com a situação.
“Fui salva pela Luísa Sonza [com quem dividiu o palco para cantar o hit ‘I Got You’], que me ajudou a montar um figurino de última hora. O resultado foi que, por boa parte do show, minha cabeça não estava no lugar certo, porque eu estava muito sentimental.”
Com mais de dez anos de carreira, Bebe parece estar coletando atualmente os diamantes e pedras no caminho que teve que enfrentar para refletir sobre o seu passado. “Eu achava que eu não era boa o suficiente e não aproveitei cada fase da minha trajetória. Eu olho para trás hoje e me sinto uma idiota”, entrega.
Mas nada está perdido. “Para os meus próximos projetos, eu quero viajar para algum lugar inspirador e ficar lá por um bom tempo, clareando meus pensamentos. Eu sinto que, assim, a música certa vai me encontrar”, aposta, em uma busca para estar cada vez mais perto de si mesma.
Para além dos palcos, a cantora ainda sonha em expandir seus empreendimentos e começar uma editora musical, a fim de ajudar jovens compositores, oferecendo a mentoria que nunca recebeu no começo de sua carreira.
Se as suspeitas de Bebe sobre suas letras se confirmarem e elas de fato preverem o futuro, não vão faltar horizontes infinitos para que ela, mais uma vez, consiga conquistar seus maiores sonhos sem olhar para trás. E que ela continue seguindo os passos de suas próprias batidas.
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