Atenta a novidades do streaming no SXSW, Eliane Dias diz: ‘Favela é uma mina de ouro’
Empresária está no festival de inovação, tecnologia e cultura em Austin
Empresária dos Racionais MC’s, diretora executiva e CEO da produtora Boogie Naipe, Eliane Dias está no SXSW (South by Southwest). Participou de uma conversa sobre favela, na Casa São Paulo, espaço do Governo do Estado, e aproveitou para se atualizar sobre as tendências no mundo da música.
Em entrevista à Billboard Brasil, falou sobre a importância do festival para os artistas brasileiros, do acesso à tecnologia nas favelas e sobre o que mais estava interessada em descobrir no festival de inovação que acontece em Austin, no Texas.
Leia abaixo.
Qual é a importância do SX para os artistas brasileiros?
Eu acho importante pelo fato de que as coisas, hoje, estão numa velocidade um tanto quanto maior para os artistas. Cantores de trap, por exemplo, têm que estar com músicas gravadas e novos produtos a cada mês. Precisam sempre estar criando, criando, criando. Os artistas que têm um trabalho com prazo um pouco mais longo, quando aparecem, precisam vir com algo inovador. Isso a gente vê aqui no SX. A gente tem que estar antenado com a tecnologia e as tendências do mundo.
Não dá para fugir de 2030. Todo mundo a que eu assisti aqui falou de algum ESG [environmental, social, and corporate governance, conjunto de padrões e boas práticas relacionadas a consciência social e sustentabilidade], de alguma meta para 2030. E os artistas não podem fugir disso. Não dá para ficar postando que está jogando roupa fora, não dá para usar roupa de animal, não dá para vir com uma música atrasada. E todas essas informações estão aqui.
Você acha que ainda tem espaço para os projetos mais longos? Ou só para aqueles de artistas já consagrados, que têm produtos mais aguardados, como o caso dos Racionais?
Olha, eu acho que demorar dois ou três anos para gravar um disco funciona mesmo só para artistas mais consagrados. Há muitos cantores maravilhosos nascendo todos os dias, vindo com novidade toda semana, tem coisas novas no mercado que são de se admirar. Ontem mesmo assisti a uma apresentação aqui e pensei: ‘Meu Deus, como é que eu não conhecia esse artista?’.
O SXSW tem mesmo essa característica de reunir muitos e diversos artistas. Você acha que é importante para quem trabalha com música também se abrir para essas novas descobertas, conhecer novos talentos?
É importante. Eu venho aqui porque posso acompanhar tendências em várias frentes que envolvem os meus negócios. Porque não trabalho apenas com música, tem outras áreas também. E aqui no SXSW tem muita informação. A gente tem que andar muito? Tem. Mas é tipo um intensivão, em que é possível também prospectar muita coisa com relação ao trabalho artístico.
Na sua palestra na Casa São Paulo, durante o festival, você disse que a favela é uma mina de ouro. Como você acha que essa tecnologia e essa inovação que são tão faladas aqui podem chegar ao Brasil, especialmente nessas pessoas da favela e que sonham em cantar?
Às vezes pode parecer que é inacessível, mas muita coisa já está sendo colocada em prática lá. Eu vejo muito de tecnologia nas periferias. Fiz uma pesquisa e descobri que 60% dos aplicativos baixados em 2023 foram baixados nas comunidades –que também têm necessidades dessas coisas. A pessoa usa o ChatGPT. Ela talvez não utilize o 4.0, que é pago, mas ela usa o 3.5. A comunidade é uma mina de ouro pelo fato de que ela está sendo preparada. Esses jovens chegam a um nível técnico mais trabalhado e estão ávidos por consumir. A renda de uma família é de, em média, R$ 3.000. Esse dinheiro é gasto de acordo com o que ela escolhe, com o que ela sonha. Mas a publicidade precisa ainda enxergar isso, olhar para esse mercado.
O caminho para esse acesso deve ser feito por políticas públicas?
Tem muita coisa casada de políticas públicas e trabalhos feitos por ONGs, mas acho que todos esses caminhos levam ao caminho principal, que é a publicidade. O principal é acabar com o preconceito. 91% dos produtos de beleza são consumidos por mulheres pretas, entendeu? Então, é preciso oferecer produtos e acesso a essas pessoas. É isso que falta, na minha visão.
Tem algum assunto específico que você queira ver aqui no SX e que tenha posto na sua programação?
Quero ver conversas sobre streaming, que é algo com que trabalho bastante, e quero ver quais são as novidades de cada plataforma, especialmente as que são mais importantes para mim, como YouTube e Instagram. Também quero ver se tem alguma nova tendência sobre música e shows, para o nosso caminho ser mais assertivo.