Técnica de som, Bia Wolf largou o esporte para ser referência na música
A roadie trabalhou com nomes como Francisco El Hombre e Criolo
Entre musicista e esportista, Bia Wolf se autodenomina bruxa. Além de estar sempre vestindo preto, ela é a responsável por encantar os ouvidos do público, fazendo magia além dos palcos. A técnica de som desempenha um papel crucial para proporcionar uma experiência sonora harmoniosa à plateia de shows e eventos. No entanto, grande parte das pessoas não faz a menor ideia do que é o trabalho dela. “Temos que ser invisíveis no palco, então vestimos preto. Justamente por isso, as pessoas não sabem o que fazemos e só enxergam o artista.”
Vencedora do WME, o Women’s Music Event by Billboard Brasil como profissional do ano (leia mais na página 46), Beatriz Lino Paiva faz parte da “graxa”, como são chamados aqueles que atuam nos bastidores de shows. Com 33 anos, já é uma referência na música brasileira, com trabalhos com Marcelo D2, Criolo, Pitty e Mateus Carrilho, entre outros.
Antes de atuar no universo da música, Bia era skatista e competiu profissionalmente por quatro anos. Em paralelo, o coração batia forte pelo som.
“Cresci em um ambiente extremamente musical”, diz ela. A mãe, vocalista de uma banda de blues, passou a levar Bia aos shows quando a filha fez 14 anos. Em 2016, Bia sentiu o gostinho de estar no palco tocando guitarra nas bandas Aborn e Câimbra, ambas de heavy metal. Mas, no fundo, ela sabia que seu lugar era atrás dos palcos. Após uma crise existencial, seguiu seu coração e largou o skate.
Foi quando conheceu o técnico de som Vander Caselli, que a aconselhou a fazer um curso no Instituto de Áudio e Vídeo. Beatriz investiu o dinheiro que havia ganhado nos campeonatos de skate. “Fui com os olhos vendados, sem saber o que esperar, mas me apaixonei logo no início.” Dali para ingressar no mercado foi um pulo. A primeira banda com a qual trabalhou foi a Nervosa.
Ao lado da trupe de metaleiras, Bia viajou pelo Brasil e pela América Latina. Na estrada, ampliou seu conhecimento e fez contatos. Nunca mais parou. “Além do talento, a tranquilidade e a leveza dela fazem com que tudo flua bem nos trabalhos”, diz o cantor Romero Ferro.
Bia hoje é capaz de atuar em cinco áreas diferentes no backstage: produção técnica, roadie, direção de palco, técnica de PA (que gerencia o som que o público ouve) e técnica de monitor (que controla o que os músicos escutam): “Vimos a evolução dela, foi um aprendizado muito rápido”, conta Mateo Piracés-Ugarte, da banda Francisco El Hombre, que trabalhou com Bia por sete anos.
“Além de ser uma pessoa tecnicamente boa, ela sempre coloca a cara a tapa. Foi nos mostrando as dificuldades como técnica de som sendo mulher”, completa o músico, que foi aluno de Bia no mesmo IAV onde ela aprendeu o ofício. “É um meio muito machista, os homens têm dificuldade em receber ordens de uma mulher”, explica ela.
Na intenção de abrir portas para outras mulheres na área, a engenheira de som promove oficinas gratuitas de rodie e técnica, e também compartilha conhecimento por meio de vídeos no YouTube.
“Eu gostaria muito que existissem outras Bias na indústria musical”, revela a percussionista Silvanny Sivuca.