Silvanny Sivuca começou a tocar aos 5 anos para substituir pandeirista em roda
Percussionista da banda de Pabllo Vittar aprendeu pandeiro aos cinco anos
A roda de samba de Dona Conceição, em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, era um acontecimento e tanto. O churrasco, a cerveja e o repertório de clássicos do partido alto, serviam como antídoto ao estresse da semana. Uma vez, o pandeirista não apareceu. Silvanny, filha mais nova da família Rodriguez, aproveitou a chance e fez a marcação do pagode. Bendito cano…
A performance da menina de cinco anos foi tão impressionante que todos acreditaram estar diante de uma futura musicista. A ponto de a mãe, enfermeira, presentear a filha com um pandeiro e juntar dinheiro para que ela estudasse numa escola de música. Hoje, a pupila de Dona Conceição é referência na percussão.
Concorre a instrumentista do ano no Prêmio Multishow, participou das bandas do rapper de Emicida e de Gloria Groove, além do grupo Lucio Mauro & Filhos, que toca no “Caldeirão do Mion”, da Globo.
Em setembro, foi coprotagonista de outro momento importante: o primeiro show com banda de Pabllo Vittar no The Town, em São Paulo.
“Além da grande musicista que é, estudiosa e meticulosa, Sivuca é também uma comunicadora nata. Não por acaso está à frente da banda comigo”, destaca Lucio Mauro Filho.
O nome artístico da percussionista nasceu de uma provocação dos colegas de classe, que se referiam a ela como Sivuca. “Eu era a única menina da sala. Uma vez, o professor me elogiou, porque eu estava evoluindo rápido e meus colegas não. Tinha um quadro do sanfoneiro Sivuca na porta da escola e começaram a me chamar as sim para tentar me atingir, porque ele tem uma fisionomia diferente”.
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Aos 15, ela começou a tocar profissionalmente, mas sem abandonar os estudos – incentivados pelo maestro e produtor Marcos Levy, a que chama carinhosamente de padrinho. “Ela se coloca nos trabalhos. Impõe a parada, põe presença, personalidade e conhecimento”, elogia Levy.
A história da batucada
Sivuca brilha numa seara que as mulheres conquistaram às custas de muita pancada no couro. Monica Millet foi pioneira na percussão. Enfrentou o machismo, o racismo e a intolerância religiosa ao levar ritmos do candomblé para a música.
Seu diferencial era tocar com a mão e com o aguidaví (vareta utilizada nos atabaques), e foi a primeira mulher a gravar os tambores africanos em disco –no caso, “Pássaro Proibido”, de Maria Bethânia (1976).
“O desafio foi harmonizar e abrir espaço nessa cena machista, com maleabilidade para não entrar em confronto”, diz Monica. Nas décadas seguintes, Lan Lanh e Simone Sou, entre outras, abriram mais portas para as mulheres –em turnês com grandes nomes do pop, do rock e da MPB.
A exaltação e a popularidade, contudo, não foram as mesmas dos homens e até hoje seguem desigual. Segundo dados do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, as mulheres representam apenas 4% do total de titulares filiados às associações de música no país.
Nascida e criada na segunda maior comunidade da capital pau lista, Sivuca se dedica também à filantropia. Ela é regente da Banda Alana, do Instituto Alana, organização sem fins lucrativos no Jardim Pantanal, zona leste de São Paulo.
A região sofre com constantes enchentes, além de questões de moradia irregular e saneamento básico precário. A música vira refúgio para aqueles em situação de risco.
É a forma da percussionista dividir e retribuir as conquistas. “Se não estiver fazendo algo para que outras pessoas tenham oportunidades, isso não vale de nada. Foi por meio de um projeto social que me tornei quem sou.” Jamais o cano de um pandeirista foi tão útil.