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St. Vincent: ‘Criava personas para navegar o mundo como uma pessoa queer’

St. Vincent: ‘Criava personas para navegar o mundo como uma pessoa queer’

Reflexões sobre luto, o amor, e a vida embalam novo disco da norte-americana

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“Copo vazio e uma lata cheia de tagetes”, a frase, que faz referência as flores usadas tradicionalmente no Dia de Los Muertos, feriado no México, abre tom denso e existencial do disco “All Born Screaming”, o sexto de St. Vincent, cantora norte-americana que se tornou referência do rock alternativo em todo mundo. Em entrevista a Billboard Brasil, a artista revela detalhes sobre o árduo mergulho em tópicos como morte, amor, e a vida, para realizar um de seus melhores discos, e confirma sua volta ao Brasil – em breve.

Para quem acredita no planejamento temático de artistas durante o desenvolvimento de seus projetos, Annie Clark, que dá vida ao projeto St. Vincent, prova o contrário no disco. “A vida não me deu escolha além de falar sobre esses assuntos”, revela. “Você perde as pessoas inesperadamente, mas tenho sorte de ter um lugar para ir com meu caos e meu luto. Eu procuro colocar o caos em ordem.”

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Ao buscar compreender o que estava enfrentando e sentindo, Annie decidiu realizar a tarefa mais difícil quando se é alguém passando por uma situação desconfortável: se isolar e entender suas emoções através da arte.

O jeito foi construir um estúdio próprio, pegar dicas com outros profissionais da área para aperfeiçoar seu conhecimento, e mergulhar o mundo da produção musical. Em seus últimos dois discos, “Daddy’s Home”, e “MASSEDUCTION”, foram assinados por Jack Antonoff, responsável pelos discos mais recentes de Taylor Swift e Lana Del Rey. “Produzia minhas músicas com meu computador quando não era ninguém, e agora embarquei nisso”, relembra na entrevista. “Eu evito usar a palavra autenticidade, mas foi o que eu procurei buscar (…) Com músicas como ‘Hell is Near’, tive que interpretar um diretor e um ator, repetindo tantas vezes a gravação, que se tornou um dos momentos mais desafiadores do projeto.”

Esse mergulho fez com que jornalistas musicais criassem uma teoria: depois de tantos discos com apelidos e perucas que remetiam a outras personas, era como se Annie Clark finalmente se apresentasse para o público. Mas não é o que a própria acha dessa especulação. “Eu criava a ideia das personas para navegar poejo mundo. E, é claro, fazia isso por ser queer. Eu sei que aquela identidade é uma performance, eu sei como mudar os códigos. Eu aprendi a fazer isso como qualquer pessoa faria em um mundo hostil. No entanto, todas aquelas músicas fizeram parte da minha vida, então não acho que o público me conheça só agora”, contou.

Entre faixas como “Sweetest Fruit”, dedicada a produtora SOPHIE (1986-2021), ou “Reckless”, em que se aprofunda no processo de luto que enfrentou nos últimos anos, é possível ver que, apesar dos fãs sempre a conhecerem, nem a própria Annie havia ido tão longe consigo mesma – e com a sua arte. Esse, inclusive, é o conselho que ela tem para pessoas que, assim como ela, passaram por situações de perda que a fizeram reinventar sua relação com a vida. “Você não pode ir por cima, nem por baixo. Você tem que ir com tudo”, afirma. “Adoraria falar que é possível pular algum parte, mas um dia você vai estar mais feliz do que nunca poderia imaginar, vai olhar para esse tempo de dor, e ver que não poderia ter chegado até aqui sem ter andado por aquele fogo.”

Ouça o disco “All Born Screaming”, de St. Vincent abaixo:

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Published by Mynd8 under license from Billboard Media, LLC, a subsidiary of Penske Media Corporation.
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