Relatório Global de Música 2025: streaming avança e vinil ganha força
Digital segue forte, mas discos físicos encontram um novo público fiel


A indústria da música gravada registrou em 2024 seu décimo ano consecutivo de crescimento, quando alcançou US$ 29,6 bilhões em receita, segundo o Global Music Report 2025, divulgado pela International Federation of the Phonographic Industry (IFPI). O mercado global avançou 4,8%, impulsionado principalmente pelo streaming, que ultrapassou a marca dos US$ 20 bilhões pela primeira vez.
Enquanto mercados mais maduros, como Estados Unidos (+2,2%), Reino Unido (+4,9%) e Japão (-0,2%), mantiveram um crescimento estável ou desacelerado, a América Latina despontou como a região de maior expansão (+22,5%), puxada pelo Brasil, que cresceu 21,7% e se consolidou como o 9º maior mercado do mundo.
Além do digital, o mercado físico, embora pequeno em volume, continua se fortalecendo entre consumidores específicos. O vinil, em especial, registrou sua 18ª alta consecutiva no faturamento global, cresceu 4,6% no último ano e desempenhou um papel essencial em estratégias focadas nos superfãs.
As informações sobre o Brasil são complementadas pelo relatório “Mercado Brasileiro de Música 2024”, da Pró-música Brasil, que detalha a composição da receita nacional e os principais motores desse crescimento.
Streaming: a base da indústria
O streaming representou 69% da receita global em 2024 e consolidou-se como o principal modelo de consumo de música gravada. Mais de 50% dessa receita veio de assinaturas pagas, que cresceram 9,5% no último ano. O modelo suportado por anúncios, embora ainda relevante, teve um avanço mais discreto.
No Brasil, o digital domina ainda mais. Segundo a Pró-música Brasil, 87,6% do faturamento da indústria nacional veio do streaming, sendo que as assinaturas premium cresceram 26,9%, enquanto o streaming gratuito teve um aumento mais modesto de 8,3%.
Esse crescimento reflete o aumento da penetração das plataformas de assinatura, a consolidação do consumo móvel e a adoção de estratégias de conversão de usuários gratuitos para pagantes, com investimentos em planos familiares e integração com operadoras de telefonia.
Um desafio destacado tanto pelo relatório global da IFPI quanto pelo da Pró-música Brasil é a manipulação de streams. No Brasil, ações coordenadas do setor resultaram no fechamento de mais de 70 sites ilegais de impulsionamento de plays nos últimos dois anos, demonstrando um esforço crescente para garantir maior transparência no mercado digital.
Superfãs: motor do crescimento do vinil e do mercado físico
Mesmo com o avanço do digital, o mercado físico encontrou um novo público fiel: os superfãs, consumidores dispostos a investir em formatos colecionáveis e experiências exclusivas.
O vinil foi o principal destaque desse segmento, registrando crescimento de 4,6% globalmente e, no Brasil, um expressivo aumento de 45,6%. Isso movimentou R$ 16 milhões – mais do que qualquer outro formato físico.
A estratégia para esses consumidores vai além da simples oferta de discos. Artistas e gravadoras têm investido em lançamentos exclusivos e limitados, muitas vezes vinculados a experiências imersivas, como:
- Edições especiais e numeradas, frequentemente com artes inéditas e prensagens coloridas,
- Pacotes premium que incluem itens como pôsteres autografados, livros, ingressos para shows ou meet & greets,
- Plataformas de vendas diretas (D2C), onde artistas oferecem edições exclusivas para fãs que compram diretamente de seus sites,
- Vinis e CDs personalizados para diferentes regiões, criando um senso de exclusividade e urgência na compra.
Globalmente, artistas como Taylor Swift, BTS e Harry Styles transformaram essas estratégias em verdadeiros fenômenos comerciais. No Brasil, gêneros como pop nacional, sertanejo e MPB também têm adotado essa abordagem, garantindo uma demanda constante por produtos físicos.
Além disso, há um movimento crescente de gravadoras investindo em reedições de álbuns clássicos e até no retorno de formatos antes considerados ultrapassados, como fitas cassete, voltados a nichos específicos de colecionadores.
Brasil: crescimento acelerado e a força da música local
O relatório da IFPI destaca que a América Latina foi a região que mais cresceu globalmente (+22,5%), impulsionada por Brasil e México. O primeiro segue como o maior mercado da região, com um crescimento superior a 21%. Já o México, que também teve uma forte expansão (+15,6%), entrou pela primeira vez no Top 10 global de mercados musicais, ultrapassando a Austrália.
Outro fator que diferencia o Brasil é a forte valorização da música local. Segundo a Pró-música Brasil, 76% das músicas mais ouvidas no país são de artistas nacionais, um percentual significativamente maior do que o de países como Reino Unido ou Alemanha.
Gêneros como sertanejo, trap, hip-hop, funk, pagode e forró continuam dominando as paradas nacionais, impulsionados pelo alcance do streaming e pela alta fidelidade do público brasileiro a seus artistas locais.
Desafios e perspectivas para o futuro
Para esse ano, o crescimento da indústria fonográfica deve continuar, mas alguns desafios se tornam cada vez mais evidentes:
- A regulamentação da Inteligência Artificial, especialmente em relação ao uso de músicas protegidas por direitos autorais para treinar modelos de IA,
- O combate à manipulação de streaming, que afeta a distribuição justa de royalties e a transparência dos rankings,
- A adaptação a novos modelos de consumo, incluindo a expansão das plataformas de vídeo e social commerce no mercado musical.
Se há uma conclusão clara no Global Music Report 2025, é que a indústria fonográfica segue forte e resiliente, combinando a expansão digital com um nicho físico cada vez mais estratégico.
O Brasil, com sua base fiel de ouvintes, consumo local dominante e crescimento acelerado, deve continuar como um dos motores desse crescimento global nos próximos anos. A era digital segue sua evolução. E a música acompanha, rapidamente e com qualidade.