Racismo contra L7 mostra que o sucesso de artistas negros ainda incomoda muita gente
Um dos maiores cantores da atualidade, L7NNON estará na Billboard em dezembro


Dono de sucessos como “Ai Preto” e “Perdição”, L7NNON é um dos cantores mais ouvidos do Brasil, além de um preto chave de beleza. E isso incomoda. Fama incomoda, dinheiro incomoda, autoestima incomoda. Historicamente. Ainda mais vindos de uma pessoa preta.
No último dia 17 de novembro, o cantor publicou em seu perfil no Instagram um vídeo em que aparece com o cabelo natural, encaracolado. Está superproduzido, com joias na boca e no pescoço. A imagem é parte de um ensaio exclusivo feito para a Billboard Brasil, que será veiculado em dezembro. É uma conquista para qualquer artista estar na maior publicação musical do mundo. E é uma grande honra para a Billboard ter um artista como L7 em suas páginas.
Mas o sucesso, ele incomoda.
Na postagem, um tsunami de comentários racistas, focando o cabelo crespo de L7NNON e o comparando ao de uma pessoa em situação de rua. A repercussão se espalhou pela internet, por redes sociais e inclusive ganhou eco em meios de comunicação que, com a visibilidade que têm, deveriam se mostrar mais atentos ao que reproduzem. Racismo é crime. Se não for pela responsabilidade humana de impedir sua propagação, que seja pelo respeito à lei.
O estigma do não-cuidado ligado ao cabelo crespo, do cabelo considerado ruim, tem como objetivo depreciar L7 –e todos os outros negros que já passaram e ainda passam por situação semelhante, colocando, neste caso, a imagem de uma pessoa em situação de rua numa categoria menor.
O cabelo é uma das peças-chave para a identidade da pessoa preta. Usar black power, dreads e afins é uma atitude quase que revolucionária no Brasil. Ao assumir seu cabelo natural, pessoas negras são alvos de racismo, seja por meio virtual ou presencialmente.
A cantora Ludmilla, recentemente, fez um post em suas redes sociais para denunciar um ataque racista sofrido em pleno dia 20 de novembro, quando é celebrada a Consciência Negra. Ela própria, capa da edição da Billboard deste mês. A artista soltou uma nota oficial em que se dizia exausta, mas afirmava que não ia recuar: “Continuarei existindo e brilhando, doa a quem doer”.

O brilho, ele incomoda.
A Billboard Brasil, representada aqui por seus jornalistas pretos e com o apoio incondicional de toda a equipe, vem a público demonstrar sua indignação com situações flagrantes de racismo como essas. E reassume, uma vez mais, seu compromisso de ser uma publicação diversa, em que todas as cores, todos os gêneros musicais e todas as representações culturais regionais encontrem espaço.
Estaremos vigilantes ao racismo. É por meio da discussão que teremos uma sociedade melhor, onde as pessoas de forma geral, artistas ou não, famosas ou não, poderão assumir toda a sua originalidade sem ser ofendidas por isso.
A originalidade, ela também incomoda.
Lud e L7 estão na capa da Bill. E você, incomodado, está onde?