OPINIÃO: ‘O empresário é um goleiro’, diz Felipe Simas
Profissional relembra grandes nomes por trás de grandes artistas
Boa parte das pessoas nunca ouviu falar de Tom Parker, Brian Epstein e Peter Grant. No entanto, como empresários de Elvis Presley, Beatles e Led Zeppelin, eles tiveram valiosa e indubitável contribuição no triunfo das carreiras desses célebres artistas. Isoladamente, o talento gigantesco de Elvis e de cada uma dessas bandas não seria suficiente para levá-los ao status de notoriedade mundial que alcançaram.
Parker impulsionou a persona artística de Elvis ao mega estrelato como nunca visto antes. Foi o pioneiro na exploração comercial através de merchandising e licenciamentos, além de negociar habilmente contratos cinematográficos milionários.
Epstein, por sua vez, ao descobrir os fab four –que já estavam na estrada havia alguns anos– moldou a imagem da banda sugerindo que substituíssem suas roupas casuais e jaquetas de couro por ternos bem cortados e os orientando em relação à postura nos palcos.
Seus esforços persistentes arrancaram o primeiro contrato fonográfico dos Beatles e a sua extraordinária habilidade de negociação acabava por garantir melhores oportunidades e justa remuneração. E, ainda, seu apoio moral e emocional era imprescindível em momentos de crise.
Tudo isso o fez ser reconhecido como “o quinto Beatle”, e muitos acreditam que sua morte precoce, em 1967, marcou o início do fim da banda.
Já Peter Grant era um visionário e foi um dos mais revolucionários empresários da história do rock, defendendo ferozmente os interesses do Led Zeppelin e conseguindo ótimos acordos para a banda. Suas conquistas acabaram mudando diversos paradigmas na indústria da música, em favor de um tratamento mais justo para os artistas em geral.
Por exemplo, foi ele quem conseguiu reverter e redefinir as normas de divisão de lucros dos shows que, até então, eram mais favoráveis às gravadoras do que aos artistas. Grant foi também o precursor daquilo que eu chamo hoje de “marketing do antimarketing”, ou seja, a delicada estratégia de evitar a exposição excessiva do artista na mídia, criando, desta forma, uma certa aura de mistério que acaba, por consequência, gerando ainda mais curiosidade e valorizando seu passe.
Em suma, o ofício do empresário é zelar pela carreira do artista, intercedendo em seu nome e defendendo seus interesses. É o grande parceiro de uma longa caminhada. No entanto, tudo isso acontece por trás das cortinas e longe dos holofotes que direcionam e condicionam o olhar do grande público.
Numa analogia rasa, o empresário é o goleiro, o guardião, tão importante em uma conquista quanto o celebrado artilheiro que marca o gol do título e estampa a capa do jornal. Mas, mesmo assim, apesar da sua proeminência, a figura do empresário é geralmente relegada a segundo plano, quando não raramente é associada a uma prática de vigarice.
Infelizmente, a mítica do empresário oportunista é o que povoa e prevalece no imaginário popular. Vilanizar e culpabilizar o empresário acaba, muitas vezes, sendo um grande atalho e um refúgio para justificar um insucesso.
Mas a história está aí para mostrar que a quase totalidade dos casos de carreiras consolidadas no nosso meio tem um elemento chave em comum: um frutífero casamento entre o show e o business, construído através de uma relação saudável de respeito, de confiança e de admiração mútua entre empresário e artista.
*Felipe Simas é empresário de Anavitória e Manu Gavassi