OPINIÃO: a nostalgia é o novo hit
Marina Amano, CEO da Listo Music, analisa novo fenômeno


Muito mais do que um sentimento, a nostalgia é uma experiência humana universal e tem se mostrado também uma força poderosa que vem moldando a indústria do entretenimento. Nos últimos anos, essa tendência se intensificou, invadindo as salas de cinema em remakes de filmes como “Nosferatu” e em versões live-action de animações icônicas da Disney. A televisão seguiu o movimento, com releitura de produções como “Elas por Elas” e “Vale Tudo”, da TV Globo, e claro, naturalmente, essa onda encontrou eco nos palcos.
Como um DJ habilidoso, a indústria musical domina a arte de “samplear” o passado, trazendo à tona memórias e emoções que ressoam com o público. No mundo da música, a nostalgia se manifesta desde o retorno de artistas icônicos aos palcos até a reinvenção de clássicos que ecoam através das gerações. O retorno triunfal do Fat Family, impulsionado pela Listo Music, exemplifica bem essa tendência. O grupo, que marcou os anos 90 e 2000 com sua energia contagiante, apresentou sua volta em um show comemorativo de 25 anos de história, reconquistando antigos fãs e atraindo uma nova legião de admiradores, provando que a música atemporal é capaz de transcender barreiras geracionais.
O repertório do Fat Family sempre valorizou canções de amor e, como parte da comemoração de retorno aos palcos, o grupo mesclou suas vozes potentes, gingado e sonoridade a obra de Tim Maia. O tributo “Fat Family canta Tim Maia” celebra essa conexão de gerações revivendo clássicos do “síndico” com hits como “Gostava Tanto de Você” e “Azul da Cor do Mar“, interpretados de uma nova forma, com a energia e o estilo único do grupo.
No entanto, a nostalgia na música não se resume a um simples revival de sucessos. É um movimento complexo que envolve ressignificação, reinvenção e resgate de valores culturais. A colaboração recente do grupo com o rapper BK’ na faixa “Da Madrugada“, do disco Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer, lançado no início do ano, é um testemunho dessa capacidade de diálogo entre o passado e o presente, unindo a nostalgia dos fãs de longa data com a energia da nova geração. Inclusive, neste mesmo álbum, BK’ resgatou a voz da Evinha, icônica cantora dos anos 1960, e promoveu uma interação que ultrapassa a barreira do tempo nas canções “Só Quero Ver” e “Cacos de Vidro”.
Artistas como Linkin Park, Titãs e Jota Quest, que moldaram a trilha sonora de nossas vidas, estão retornando aos holofotes, não apenas para celebrar o passado, mas para criar novas experiências musicais que dialoguem com o presente. Nesse contexto, a nostalgia é como um elo entre gerações, conectando pessoas de diferentes épocas através de memórias compartilhadas e paixões musicais em comum. É como se a música fosse uma máquina do tempo, capaz de nos transportar para momentos marcantes de nossas vidas e, ao mesmo tempo, nos impulsionar para o futuro.
Curiosamente, na era digital, a nostalgia ganha ainda mais espaço, fomentada pelas redes sociais. Clipes antigos viralizam, remixes de clássicos explodem nas paradas de sucesso e artistas de diferentes épocas se unem em colaborações inesperadas. A tendência tem exercido um grande poder na indústria do entretenimento e, como fundadora e CEO da Listo Music, que é uma agência especializada em música, reconheço como uma ferramenta estratégica para impulsionar a carreira dos artistas e uma oportunidade ao público de encontrar conforto e familiaridade em produções.
Entretanto, para que um comeback seja realmente bem-sucedido, é preciso mais do que vontade de voltar aos palcos. Projetos de retorno exigem estratégia, pesquisa e um olhar atento ao posicionamento do artista. O rebranding precisa ser coerente com a trajetória, mas também conectado ao tempo presente. Uma etapa fundamental nesse processo é entender quem é o público que valoriza aquele artista hoje — e não apenas quem o acompanhava no passado. Um retorno mal direcionado, voltado para o público errado, pode gerar ruído e até afastar quem deveria se reconectar com aquela história.
Por isso, trabalhar com clareza de propósito e afinar a comunicação com a audiência certa faz toda a diferença para transformar a nostalgia em potência real de carreira. A música é um terreno fértil para a experimentação e a reinvenção, capaz de transcender o tempo e conectar pessoas de diferentes gerações.
*Marina Amano é CEO da Listo Music, agência especializada em gestão estratégica de carreiras e marketing digital para o setor musical, impulsionando o sucesso de artistas como Tuyo e Fat Family.